Capítulo 1 ⚔️

3.7K 280 92
                                    

Layla

— Recebeu sua gorjeta? -perguntou Nany.

Eu suspirei.

— Três dólares. -falei.

— Teve sorte, eu recebi um e alguns centavos. -falou.

Ela ascendeu o seu cigarro com o esqueiro, é nosso horário de almoço, por isso estamos na parte de trás da lanchonete, onde fica os latões de lixo.

É um cúmulo não podermos comer lá dentro, e não podemos ir para um lugar melhor, do contrário, gastaríamos os dez minutos para comer indo para algum restaurante, ou carrinho de hot-dog.

Eu abri a minha marmita, suspirando para o purê de batatas.

— Cigarro não é comida, Nany, é melhor comer. -apontei para sua marmita.

Ela soltou fumaça para o alto.

— Não sei porque reclama, você também fuma. -ela disse.

— De vez em quando. —a corrigi— e eu não deixo de me alimentar para fumar como você.

Ela sentou do meu lado no meio fio, e me imitou, começando a comer sua marmita.

— Quando é que as coisas começam a melhorar mesmo? -questionei.

Ela soltou um bufar, espetando o garfo de plástico em uma batata.

— Por aqui? Quase nunca. -ela disse.

— Pelo menos um quase. -comi um pouco da carne.

— Falei quase para te encorajar. -ela disse.

Soltei um riso de escárnio.

— Tenho coragem de sobra, é preciso para sobreviver aqui. -falei.

— Nova York já foi boa. —ela assentiu— falo da velha Nova York, oh, aquela sim foi uma boa época. -ela assentiu.

— A cidade era mais encantadora do que hoje? -questionei, sugando pelo canudo o suco de caixinha.

— Muito mais. —assentiu— Não se compara a hoje, não mesmo.

Eu dei uma colherada da farofa temperada, Nany observou.

— Você saiu do Brasil mas o Brasil não saiu de você, não é? -ela apontou para a minha marmita.

— Por deuses, as comidas brasileiras sempre serão maravilhosas. —murmurei, dando mais uma colherada— sinto falta apenas da comida.

Ela riu.

— Não dos sambas?

— Basicamente o Brasil está constituido em raves e brega funk, eu pelo menos via muito pouco samba quando vivia lá, só mudava no carnaval. -falei.

— Se está aqui é porque não era bom o suficiente. -falou.

Eu dei de ombros.

— Gosto do Brasil, ele é muito bonito, a beleza dele é sem igual, mas eu saí de lá para esquecer as lembranças tristes, também porque eu queria respirar novos ares, acordar sem ouvir o som do carro do ovo. -falei.

Ela gargalhou.

— É sério, besta. -lhe dei um tapinha no ombro.

Ela deu uma boa garfada de seu espaguete.

— Onde você morava era tranquilo? -questionou.

Eu neguei.

— Havia assaltos constantes, e na maioria das madrugadas eu acordava com gritos de alguma mulher pedindo socorro, e depois, chuvas de tiros. -falei.

A Última Cavaleira| Cavaleiros da Madrugada Donde viven las historias. Descúbrelo ahora