Layla
— Recebeu sua gorjeta? -perguntou Nany.
Eu suspirei.
— Três dólares. -falei.
— Teve sorte, eu recebi um e alguns centavos. -falou.
Ela ascendeu o seu cigarro com o esqueiro, é nosso horário de almoço, por isso estamos na parte de trás da lanchonete, onde fica os latões de lixo.
É um cúmulo não podermos comer lá dentro, e não podemos ir para um lugar melhor, do contrário, gastaríamos os dez minutos para comer indo para algum restaurante, ou carrinho de hot-dog.
Eu abri a minha marmita, suspirando para o purê de batatas.
— Cigarro não é comida, Nany, é melhor comer. -apontei para sua marmita.
Ela soltou fumaça para o alto.
— Não sei porque reclama, você também fuma. -ela disse.
— De vez em quando. —a corrigi— e eu não deixo de me alimentar para fumar como você.
Ela sentou do meu lado no meio fio, e me imitou, começando a comer sua marmita.
— Quando é que as coisas começam a melhorar mesmo? -questionei.
Ela soltou um bufar, espetando o garfo de plástico em uma batata.
— Por aqui? Quase nunca. -ela disse.
— Pelo menos um quase. -comi um pouco da carne.
— Falei quase para te encorajar. -ela disse.
Soltei um riso de escárnio.
— Tenho coragem de sobra, é preciso para sobreviver aqui. -falei.
— Nova York já foi boa. —ela assentiu— falo da velha Nova York, oh, aquela sim foi uma boa época. -ela assentiu.
— A cidade era mais encantadora do que hoje? -questionei, sugando pelo canudo o suco de caixinha.
— Muito mais. —assentiu— Não se compara a hoje, não mesmo.
Eu dei uma colherada da farofa temperada, Nany observou.
— Você saiu do Brasil mas o Brasil não saiu de você, não é? -ela apontou para a minha marmita.
— Por deuses, as comidas brasileiras sempre serão maravilhosas. —murmurei, dando mais uma colherada— sinto falta apenas da comida.
Ela riu.
— Não dos sambas?
— Basicamente o Brasil está constituido em raves e brega funk, eu pelo menos via muito pouco samba quando vivia lá, só mudava no carnaval. -falei.
— Se está aqui é porque não era bom o suficiente. -falou.
Eu dei de ombros.
— Gosto do Brasil, ele é muito bonito, a beleza dele é sem igual, mas eu saí de lá para esquecer as lembranças tristes, também porque eu queria respirar novos ares, acordar sem ouvir o som do carro do ovo. -falei.
Ela gargalhou.
— É sério, besta. -lhe dei um tapinha no ombro.
Ela deu uma boa garfada de seu espaguete.
— Onde você morava era tranquilo? -questionou.
Eu neguei.
— Havia assaltos constantes, e na maioria das madrugadas eu acordava com gritos de alguma mulher pedindo socorro, e depois, chuvas de tiros. -falei.
ESTÁS LEYENDO
A Última Cavaleira| Cavaleiros da Madrugada
FantasíaLayla Agreste, uma jovem leitora e garçonete durante o dia, e uma stripper em uma boate durante a noite, ela vive sua vida pacata e cheia de dores, sempre seguindo em frente, mas isso muda em uma noite, quase sendo vítima de estupro ela pensa que su...