Joalheiro

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*Capítulo sem revisão.


Eu ainda posso ouvir o medo na voz do Leonardo. Mesmo horas depois de ter me contado que minhas demais noras a encontraram caída ao lado da cama. Ela não pode nos contar o que aconteceu de fato. Então apenas presumimos. Presumimos que acordou sangrando. Presumimos que tentou se levantar para chamar ajuda. Presumimos que teve um mal súbito e desmaiou sobre a mesa de cabeceira.

Tem apenas uma coisa nessa história que não é uma presunção.

Meu filho realmente filho fugiu feito um covarde.

Depois que desliguei com Leonardo e adentrei meu escritório passei um bom tempo atrás da mesa assimilando o que meu filho tinha feito com sua despedida carta em mãos. Precisei respirar muito fundo enquanto lia aquela carta que encheu meus olhos de água em cada linha.

Quem o ensinou a ser tão cruel? Tão frio?

Tinha um bilhete para mim também.

Depois que me recuperei de algo que eu já sabia que aconteceria, coloquei a carta dobrada no bolso e fui para o hospital ficar com a bambina.

É onde ainda estou.

Com o mesmo terno.

Com a mesma angustia.

Com a mesma incerteza.

Passa das duas da tarde e as coisas ainda não se acertaram por aqui. Roberta foi para o aeroporto buscar Maria e meus três filhos estão comigo, um lá dentro com a Isabela e dois espalhados pela sala de espera enquanto ando de um lado para o outro, fazendo o som da minha bengala contra o piso ecoar. Gael já me mandou parar duas vezes. Leonardo estão tão nervoso que não está se importante. Bruna entrou para tentar conseguir mais notícias.

Todas até agora não foram nada boas.

Deveria ser o pai dela aqui. Mas eu também não sei onde Gohan Sato está.

Nesse momento eu preciso ser o pai dela também.

Isabela não tem mais ninguém além de mim. Além de nós.

Romeo e Julieta por ter tido um fim, mas esse não é o fim da história de Romeo e Isabela.

Eu me recuso a acreditar que seja.

Eu só consigo pensar no bilhete dele.

Na promessa que meu filho me fez.

Na promessa que eu espero que cumpra.

"Te assustei, pai? Espero que sim. Espero que por um segundo tenha pensado que iria me encontrar pendurado pela gravata na viga do seu ateliê. Isso foi para você se lembrar da nossa conversa no bar. Disse que me perdoaria por qualquer coisa. Menos uma. E não era cair fora. Espero que me perdoe por cair fora. Eu vou ficar bem. Eu sempre fico bem. É a japonesa quem me preocupa. Senta com os médicos da família e estuda qual é a melhor maneira de contar para ela que eu fui embora. Isso inclui o Rodrigo. Não abre a boca, nem joga minha carta na mão dela sem a permissão do Rodrigo."

Eu te amo. Eu te ligo. Eu ligo."

Todas as lágrimas que choreiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora