Romeo

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Uma semana depois

Um dos celulares que abandonamos na mesa de jantar nos desperta. Ele não para mais de receber uma mensagem após a outra. Tomando cuidado para não mover nada além das pálpebras entreabro os olhos no quarto escuro para espiar o despertador antigo sobre minha cabeceira. Duas da madrugada?

— Galego? — Torno a fechar os olhos. — Galego, acorda — implora afetuosamente, deslizando a mão de um jeito delicioso pelas minhas costas. E eu? Eu continuo me fingindo de morto.

Eu não me vendo por tão pouco.

Tirando por uma máquina do tempo que me impedisse de transar com quem não deveria não tem nada que me faria sair dessa cama as duas da manhã. Duas da manhã! Contei que amanhã é domingo? Cadê o respeito das pessoas?

— Talvez seja importante, Galego. — Duvido muito. Deve ser um dos nossos amigos. Deve ser sobre a festa que ainda está rolando na piscina de um deles. Uma festa da qual fomos embora cedo porque tenho que trabalhar em algumas horas. Ela se importou? Ela nunca se importa. Mesmo sabendo disso, dos meus compromissos, sua boca faladeira demorou um bom tempo para me deixar dormir quando caímos na cama. Esse é só mais um dos motivos para eu não me render aos seus carinhos. Mencionei que preciso levantar daqui a pouco? Mas embora eu ache que não é nada importante, foram tantas mensagens que não tem como um de nós não descer as escadas para conferir e não serei eu. Pelo gemido lamurioso que escuto presumo que isso tenha ficado bem claro. Ela cria caso? Ela é um anjo. Ela solta uma risada divertida, beija meu ombro e sai da cama. Eu disse, um anjo. Meu antigo capeta teria metido uma joelhada no meu saco. Eu estaria indo ler as mensagens mancando agora.

Fecho os olhos para tentar voltar a dormir e não consigo. . Encaro o teto, tentando me distrair com o que pode estar escrito nas mensagens para passar o tempo. Não pretendo parar até a guria que anda ocupando o outro lado da minha cama voltar para o seu lugar. Ela está demorando. Espero que que não seja o meu celular. Espero que não seja do trabalho. Espero que ninguém tenha feito a idiotice de se afogar naquela piscina... Boceta.

Aconteceu alguma coisa.

Alguma coisa séria.

Ela gritou o meu nome. Ela ainda está gritando o meu nome. Está subindo as escadas correndo. Está correndo pelo corredor. Estou escutando suas mãos baterem nas paredes. Rolo para o outro lado e me sento na cama a tempo de vê-la brecar na porta. Meu olhar angustiado sobe com rapidez por seu corpo esguio envolto pela mesma camiseta do fim de semana passado enquanto se agarra ao batente. Ela me encara assustada e ofegante, uma das mãos enterradas nos cabelos curtos e aquela que mais me maltrata segurando firmemente um dos nossos celulares contra o peito.

Ela é sempre muito calma, então seja o que for, não é ruim, é péssimo.

— O que aconteceu? — Quando me responde, eu não acredito.

Eu simplesmente não acredito.

Ele não fez essa merda.

Não pode ter feito.

— É impossível. — Não hesito em empurrar o edredom para longe.

— É o que está escrito — responde angustiada enquanto diminuo nossa distância. Ela me entrega o celular assim que paro na sua frente e aqui está. — E agora? — Ergo o rosto sentindo meu coração descompassar.

Agora uma das minhas certezas acabou de cair por terra.

— O que você vai fazer agora? — Insiste aflita.

— Eu vou atrás dele — respondo lhe dando as costas atrás de uma mala. — É isso que eu vou fazer.

Eu vou para casa.

Porra, foi tão fácil...


*********

Eu vou ficar por aqui.

Quem sabe no  dia 17, ninver dele, tenha mais. 

Beijos

Todas as lágrimas que choreiWhere stories live. Discover now