Isabela

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Exatos cinco minutos depois avisto a BMW prata a quem chamamos de Plínio no fim da rua. Ainda me sentindo muito ferida levanto do banco de madeira da esquina e caminho até o meio-fio para esperar por esse pobre coitado que tem tantos ralados quanto a minha alma. 

Leo se desdobra para abrir a porta para mim perguntando o que eu tenho. Ele não anda com o carro nem enfia um bolinho de chuva na boca antes de saber. Leo é sempre muito atencioso comigo. Muito preocupado. Muito carinhoso. Detesto quando falam que é dele que eu deveria ter engravidado porque não me arrependo de nada que vivi com o irmão dele e como eu disse nada acontece por acaso, mas tenho certeza absoluta de que a garota que engravidar não vai se machucar como eu me machuquei. 

Tinha um vendo frio e úmido me atingindo em cheio naquela esquina. Ponho a culpa dos meus olhos marejados nele. Não no idiota do Romeo. Não no olhar de pena da Bells.

Leo acredita em mim. E eu? Eu ainda não sei se posso dizer o mesmo a respeito dele. Estudo seu comportamento até nos despedirmos no elevador. Entro em casa achando que ainda não sabe de nada. E isso não significa nada. Ele também é um bom ator.

Ele pode muito bem saber que o irmão voltou. E tudo bem.

Não vou precisar amarrar ninguém em uma cadeira. É uma pena porque seria divertido torturar o neném com vídeos de finais de campeonatos mundiais. Esconder seu reaparecimento dele de mim? Ninguém faria isso. Estou certa de que se a família dele souber de alguma coisa eu também vou saber.

Mas se não for o caso ainda não sei se vou abrir minha boca.

E se o baka não voltou pelo pai? E se o baka não quiser falar com ninguém? E se eu contar e o baka os maltratar? E se eu os machucar? Primeiro preciso investigar e oportunidade para isso não vai me faltar. Hoje mesmo eu descubro alguma coisa.

Nem cogitamos a ideia de não continuar com o tradicional jantar de domingo. Mais do que nunca queremos ficar perto uns dos outros. Estamos arrasados com o acidente do meu gifu. Todos nós. Por isso combinamos que no fim da noite nos reunirmos nos apartamentos dos nenês para jogar conversa fora e assistir alguns filmes em família. Menos a Maria. Maria vai dormir no hospital.

E o baka? O baka vai dormir sozinho?

Ele não merece que eu me preocupe com isso. Pena que esse não é um botão que eu possa simplesmente desligar. É coisa de fábrica. Então por mais que eu não queira tomo um banho para me livrar da friagem pensando na rede de apoio que nós temos passo algumas horas no nosso antigo sofá pensando no suporte que Romeo não tem. Ele procurou alguém? Deveria procurar. Esse é o momento perfeito para perdoar.

Pena que um dos irmãos dele parece não concordar.

É o que penso fechando a porta do apartamento sete. Ninguém me escutou entrar. Também, como escutariam com os ânimos tão exaltados?

— EU VOU ARREBENTAR COM ESSE MOLEQUE, GAEL!

— Em que isso adiantaria?

— Eu concordo com o neném. Em nada — afirma o Gael, mais calmo que meu Buda.

— É só para o nosso divertimento mesmo. — Dois deles devem ter olhado feio para a Bruna. — Não sejam estraga prazeres. Eu adoraria filmar essa surra.

— Não leu essa porra? — De que porra o neném está falando? — É mais fácil um de nós terminar tomando uma surra dele. Isso sim. — Gael acaba com o assunto.

— Não acham que temos uma coisa mais importante com a qual dos preocupar? — Ele parece mesmo preocupado com alguma coisa. Não demoro a descobrir que é comigo.

— Decidiu se vai mostrar para a Japa? — Paro na porta o assistindo negar para a Robie. — Mas vai contar hoje?

— Ele vai me contar o que quer que seja agora — corrijo entrando na cozinha com elegância. E por elegância quer dizer que eu paro no meio dela e cruzo meus bracinhos magros. Dado os olhares trocados acho que todos estão preocupados comigo. — Estou esperando, Gael.

Todas as lágrimas que choreiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora