Romeo

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Eu continuo no hospital.

Não tem janelas no quarto da UTI e eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar do que olhar para o relógio. Não sei quanto tempo demorou até alguém aparecer. Tudo que eu sei é que quando a porta é aberta eu ainda não soltei a mão do meu pai e não tenho mais uma lágrima sequer para chorar. Estou seco. Estou recomposto. Estou puto com os outros. Eu acho que faz horas. Não queria reencontrar ninguém, mas podia ser pior. Podia um dos meus irmãos. Podia ser a babá. Podia ser a Isabela.

Em vez disso é a pessoa perfeita para me dar algumas respostas.

— Bruna? — Ela ergue os olhos do celular no mesmo instante.

— Puta merda! — Exclama cobrindo a boca com a mão que segura um café da Love Coffee. Imagino que sua surpresa por me ver seja real, mas aposto meu rabo que o gesto ensaiado foi apenas para me mostrar o quanto valho para o meu irmão. Porra nenhuma. É isso que eu valho para Gael Benite. Porra nenhuma! — E não é que o bom filho realmente a casa torna? — Provoca reparando na enorme dificuldade que eu tenho de desgrudar o olhar do seu dedo anelar. Mais precisamente da fina argola de ouro fazendo par com seu anel de esmeralda. — Não tem café melhor que o da Love Coffee. Topa um gole? — Ergue o copo. Reviro os olhos porque ambos sabemos que não estou olhando para o café dela. — Pensou mesmo que seu irmão fosse cancelar o casamento que eu passei mais de um ano planejando por sua causa? — Ela ainda pergunta? É claro que eu pensei. Ele casou. ELE CASOU! Por que estou com tanta raiva por causa disso? Oh, sim! É porque Gael não deveria ter se casado sem mim. É porque Gael não deveria ter se casado com ela.

— Tenho uma coisa mais importante com a qual me preocupar. — Meneio nosso pai. — Porque o encontrei sozinho? É sábado.

— Eu sei que é sábado.

— Não dá nem para dizer que está todo mundo no trabalho. — Bruna não perdoa minha grosseria. Nem minha hipocrisia.

— É o único que tem coragem para abandoná-lo. — Muito égua. — Todos passaram a madrugada no hospital. — Isso inclui a Isabela? Não pergunto. — Não tem nada que ninguém possa fazer aqui. Mandei que fossem para casa descansar que eu ficaria cuidando do papai.

— Não estava aqui.

— Tive que correr em casa. Uma das minhas cunhadas precisou de uma médica. — Está falando da Roberta, Leonardo finalmente arrumou uma namorada ou está se referindo a japonesa apenas para me irritar? Essa eu quase pergunto. — Estou virada a mais de 48h. — Passa a mão pela nuca parecendo alguém que também precisa muito de um descanso.

— Não estou muito diferente.

— Posso saber quem te contou que tinha que aparecer? — Nego.

— Mas pode me explicar o que aconteceu. — Ela parece mais curiosa.

— Não sabe?

— Não de todos os detalhes. — Bruna não agradece pela poltrona que eu gentilmente cedi para o seu rabo arrogante, mas como uma boa fofoqueira não hesita em me contar tudo que preciso saber.

O idiota que fez a besteira de casar na minha ausência chegou de viagem por volta da meia-noite de ontem. Era mais tarde do que tinha planejado e como temos um pai dos mais preocupados o tal idiota achou muito estranho que não tivesse nenhuma mensagem dele perguntando onde tinha se enfiado até àquele horário. Era para ter no mínimo umas dez, as últimas cinco sendo bem dramáticas. Ele lentou ligar no celular do papai algumas vezes e quando não foi atendido decidiu passar em casa para conferir se estava tudo bem. Não estava. O mal pressentimento do meu irmão se confirmou.

Todas as lágrimas que choreiWhere stories live. Discover now