Acompanhados por patrulheiros élficos, os dois deixaram a Floresta Vermelha e rumaram em direção às Planícies de Ferro e Sal, grande extensão de terra repleta de minas de ferro e salinas e que se espalhava por todo o centro do continente. Dali em diante os dois seguiriam sozinhos.

De acordo com os planos da clériga, baseados em sua premonição enviada pelas estrelas, viajariam por três dias até atingirem o vilarejo onde começariam sua busca. O que era tempo de sobra para conversarem um pouco mais e para Flayfh tirar algumas de suas dúvidas a respeito do misterioso espadachim.

– Sabe uma coisa que nunca vi, mesmo após todos esses anos convivendo com elfos? – perguntou Flayfh, puxando conversa e caminhando cerca de dez passos à frente de Gavril – Elfos crianças.

– Sempre imaginei que eles já nasciam daquele tamanho. Saíam da terra ou de dentro de uma árvore. – o espadachim respondeu sorridente. E os dois riram por algum tempo.

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Após dois dias na estrada, e dois ataques de bestas sedentas por magia – derrotados sem dificuldades pela dupla, a clériga percebera o quanto Gavril era reservado. Ele tinha seus momentos, onde conversava mais e fazia piadas, mas na maior parte do tempo era calado e observador. Nunca tinha muito a dizer sobre assunto nenhum, exceto sobre suas viagens ou sobre batalhas em geral.

No último dia antes de atingirem o destino, Flayfh descobriu em conversas que o espadachim era órfão, uma característica comum aos guerreiros de Benvähn, mas que tinha uma irmã mais nova vivendo em Pandianii, a cidade dos mercadores localizada no extremo Oeste de Thystium. Descobrira também que Gavril havia obtido sua espada após salvar uma família de mercadores, que o objeto era aparentemente mágico e que salvar pessoas era rotina para o guerreiro de olhos dourados.

Ao chegarem na entrada do vilarejo que Flayfh vira em sua premonição, a espada que a clériga trazia em sua bolsa começou a dar sinais de vida, tentando enviar mensagens diretamente à cabeça de Flayfh, que as rechaçava utilizando toda sua força de vontade. No mesmo instante em que a espada começou a enviar ondas mais agressivas em direção à clériga, Gavril começou a sentir fortes dores pelo corpo e sua marca, cicatriz da magia que atingiria seu mestre, queimava como nunca.

– O lugar está deserto? – perguntou Gavril, contraindo a face em esgares de dor.

– Talvez. – respondeu Flayfh analisando toda a situação. Já havia vivido esta experiência antes, quando era mais jovem. Sabia nas suas entranhas que aquilo nunca acabava bem. – Mas é desse jeito que eles agem. Talvez todos aqui já estejam mortos.

O vilarejo de casebres de madeira não possuía muralhas ou plantações. Em lugar algum era possível avistar animais, nem mesmo selvagens, e nenhuma caravana de mercadores iria parar num local como aquele. Gavril foi acometido pelas lembranças de morar num lugar como aquele, da angústia de não ter a quem pedir ajuda e aquilo só fez com que sua raiva ante aos tais Nyax, os tais homens rato invisíveis, aumentasse de tamanho.

– Não chegamos a tempo de salvar a vida deles?

– Existem coisas piores do que a morte.

Terminando essa frase a clériga chutou a porta de madeira de uma das casas e encontrou um imenso túnel escavado no meio daquela sala. Gavril pensou em perguntar como ela sabia exatamente qual casa entrar, mas optou por manter o mistério. Roupas jogadas pelo cômodo davam a impressão que os moradores haviam fugido às pressas, mas Flayfh não acreditava nisso.

– Vamos descer? – perguntou ela de maneira retórica, enquanto acendia uma tocha que recolhera do chão. – Seja lá o que fez isso com as pessoas daqui, está nesse túnel.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumWhere stories live. Discover now