XXXI - O fim

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Semanas depois, vilarejo de Pomena.

Dentro do templo, um vasto café da manhã era servido pelos acólitos do local. Havia frutas, mel e leite colorido. Grande parte dos aldeões desejava agradar a senhora do local, por isso traziam seus melhores presentes.

Após dias estafantes e beirando a morte mais vezes do que o recomendável para uma vida longa, Gavril finalmente podia relaxar. Comia e bebia tudo quanto lhe era oferecido e mal terminava de mastigar um pedaço de bolo e já enfiava outro na boca.

– Não é engraçado? – disse Flayfh mordendo um pequeno fruto arroxeado. – Salvamos o mundo e ninguém parece saber disso. Fico me perguntando se não tivéssemos feito nada.

– Por quê? – perguntou ele com a boca cheia de comida.

– Por quê o quê? – retrucou ela como fazia costumeiramente num tom irritadiço.

– Por que está se perguntando isso. – disse ele, batendo no peito para facilitar a digestão. – Mas se quer saber, se ninguém fizesse nada possivelmente teríamos uma grande quantidade de caras de rato por aqui e por aí, espalhando o terror.

– Dá uma sensação boa não dá? – disse ela.

– Com certeza. Dever cumprido.

– Gavril, já pensou em servir aos deuses? – disse ela com um sorriso matreiro.

– Como clérigo? – ele perguntou com uma careta.

– Não... Como um guerreiro das Estrelas. Andei pensando... Existiam guerreiros das Estrelas no passado, hoje eles não existem mais, talvez pelo pequeno número de clérigos. Você seria mais do que indicado.

– Vai ter gente servindo banquete assim toda manhã? – perguntou ele no tom mais debochado quanto possível.

– Com toda certeza. – ela respondeu ainda mais debochada.

**

O espadachim permanecera em Pomena por tempo o suficiente para ter certeza que a maldição estaria plenamente curada nos dois e que seus ferimentos estariam totalmente curados. Combinou que iria buscar Udur, saber o que acontecera com ele, mas voltaria no vilarejo de casinhas brancas sempre que possível.

Flayfh iria seguir sua vida como senhora do local, cuidando dos seus e espalhando a palavra dos Dez Deuses. A clériga decidiu não acreditar na visão que tivera envolvendo Gavril, mas caso viesse a se concretizar, ela estaria pronta para ajudá-lo, salvá-lo. É isso que amigos fazem.

Um forte laço é criado entre aqueles que salvam o mundo. Uma amizade que nada, nem mesmo o tempo, senhor de tudo, é capaz desfazer.

Gavril montou em seu wyvern, agora apelidado carinhosamente de Teimoso, e partiu em direção ao oeste. Por mais que desejasse ficar, aprender mais sobre os deuses, fincar raízes em Pomena... Seu dever o impelia. Sua missão no mundo ainda não estava acabada e, como ele mesmo costumava dizer, o dever é maior do que o homem que o carrega.

"O dever é maior do que o homem que o carrega. Não é feito por glória ou por gratidão, e sim, porque precisa ser feito."

Epílogo:

Meses depois, já acostumada à rotina de clériga local mais uma vez, Flayfh arrumava seus pertences de viagens quando encontrou a carta entregue por Udur ao invadirem a prisão dos Sabri.

Vasculhando entre os livros da estante, a clériga buscava por algum dicionário que contivesse termos do idioma anão. Livros eram uma raridade em Thystium, privilégio daqueles que viajavam e exploravam ruínas antigas. Flayfh era um destes afortunados possuidores de uma biblioteca.

Era tarde da noite e mesmo com a mente cansada, foi possível entender que a carta era endereçada ao templo de Enlil, centro de todas as decisões do povo anão, localizado exatamente no centro das Montanhas Gêmeas.

As últimas linhas traduzidas por Flayfh em voz alta diziam:

"Por isso devem poupar aos humanos, eles são dignos.

- Sumo sacerdote Udur."

Flayfh pousou o pergaminho sobre sua mesinha iluminada por duas velas e caminhou até a janela de seus aposentos. O céu noturno e estrelado estava particularmente bonito, era possível encontrar facilmente a estrela de seu tio nos céus.

Uma estrela cadente cruzou a imensidão noturna, chamando a atenção da clériga.

– Vocês não me deixam sossegar em casa, não é?

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 29, 2021 ⏰

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