Il Diavolo

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Irina

O carro rodou por horas madrugada adentro, eu não pude reconhecer o trajeto, mas me parecia estar seguindo rumo ao interior. — se Vitto está no Brasil, porque ele estaria nesse fim de mundo, e há quanto tempo ele está escondido aqui.

Já estava amanhecendo quando o primeiro sinal de civilização passou por nós, mas o carro seguiu por uma estrada sinuosa ladeada por uma mata densa. Quando a velocidade diminuiu, eu percebi a entrada do que parecia ser uma porteira. Seguimos ainda um longo trecho em declive até avistar lá embaixo, um casebre branco com janelas azuis. O som que saiu dos meus lábios chamou a atenção dos meus sequestradores, eu me dobrei diante do meu riso incontrolável. a cerca branca, um pequeno lago à frente da casa, e vários animais soltos e felizes arrancavam mais e mais gargalhadas incontroláveis do meu interior.

— Portas de chocolate, janelas de waffles, o telhado de casquinhas de sorvete. A chaminé de churros, a cerca são palitos de biscoito. Árvores que dão tortas de maçã... Não vá lá criança, o mal mora lá, criança. Não se deixe enganar, criança... — comecei a cantarolar em meio ao riso, e os homens de Vitto pareciam estar vendo nascer uma cabeça extra em mim.

— Vejo que a viagem te fez bem Coccinella! — a voz rouca de Vitto soou quando a porta do carro era aberta diante de mim.

— Talvez a chapeuzinho já não tenha mais medo do lobo mau, ele não pode tirar mais nada dela. Talvez ela não tenha mais nada a perder. — encarei a ave de mau agouro com o rosto erguido e voz firme.

— Não, ela não tem mais nada, o seu último bem foi tirado dela, a sua liberdade. No entanto, minha doce Coccinella você estará segura em sua gaiola. — Vitto puxou-me em seus braços e eu tentei me libertar só para cair ainda mais presa a ele.

Vitto deu uma última ordem e os homens partiram com Vinci desacordado ou morto no banco de trás e eu fui levada a um quarto onde ficaria reclusa até que ele estivesse pronto para fazer a sua próxima jogada.—ficar viva, esse era o meu objetivo, estar atenta e fazer o impossível para que Vitto não descubra a gravidez, por tanto o meu tempo era curto, eu teria que encontrar uma forma de fugir ou morrer tentando, mas jamais deixaria Vitto colocar as mãos na única coisa que me restou do Aldo. Eu fugiria com meu filho ou morreríamos juntos.

A autoconfiança, ou melhor, a presunção era tão grande, que ele não importava em me trancar, apenas deu a ordem — fique no quarto! — e eu fiquei as janelas escancaradas permitiam a entrada de toda a luz solar, eu me encolhi em uma enorme cama de carvalho antiga e fechei os olhos enquanto aguardava o próximo golpe do destino.

E se eu tivesse contado ao Ricco sobre os planos de Vitto? Ricco protegeria esta criança, mesmo sabendo que não era dele? Provavelmente me manteria viva até o bebê nascer e depois mataria a mim e ao Aldo com requinte de crueldade.

Eu não me permitia sonhar, eu aprendi muito cedo que não existem bruxas boas, e os dragões comem menininhas em suas festas de 15 anos. Não há esperança quando se nasce marcado, meu pai me marcou quando traiu a máfia, e quando se entregou ao jogo e a prostituição. Ele pagou com a sua morte e eu continuo pagando as suas dívidas até hoje.

Na manhã seguinte fui chamada para o café da manhã, comi tudo o que podia e até o que não devia, mas eu estava com muita fome.

— Uau! Bambina, o bom garoto não estava te alimentando? — Vitto zombou em meio a mordidas de sua omelete.

— Ele vai te pegar Vitto, é só uma questão de tempo. A esta altura ele já sabe sobre você e vai te caçar e eu quero estar lá para ver você cair.

— Você vai Coccinella, mas não será a minha queda que você verá. E se quer saber, acho que vou ter que me apresentar pessoalmente se quiser equilibrar esse jogo, já estou ganhando há tanto tempo que começa a ficar cansativo.

— Não se preocupe, sua hora vai chegar, eu dançarei sobre o seu túmulo. — respondi pausadamente, enquanto via as suas feições mudarem.

Nos dias que se seguiram fui mantida longe dele, o que era perfeito, mas numa noite enquanto eu tomava banho Vitto me chamou e me obrigou a estar com ele na sala nua e molhada do banho. Ele não me tocou naquele momento, mas ele ria enquanto apontava para a TV com o controle remoto.

— Não sou seu inimigo Coccinella, eles são. Veja o que ele fez com seu amante.

Desejei não ter olhado, mas meus olhos não se desviaram da tela. A repórter falava sobre o carro que fora retirado da lagoa naquela manhã, o corpo carbonizado fora identificado como sendo de um jovem turista italiano que estava de visita ao Brasil. O nome Aldo Rizzo aparecia ao lado de uma foto antiga de Aldo, segundo a polícia o homem já estava morto quando atearam fogo no corpo. e que a identificação só foi possível devido ao conteúdo da mala da vítima que estava no porta malas. O restante da matéria falava sobre a família de Rizzo e seus bens, e sobre o motivo da visita que era incerto. Estranhamente o nome Riccardo Gouveia não foi citado, provavelmente Ricco se encarregou de limpar o caminho até ele.

Lutei para não abraçar a minha barriga, ao invés disso me lancei sobre Vitto atacando ele com meus punhos, mas mal toquei nele, pois seus homens já me seguravam longe dele.

— Você fez isso você o matou. Você matou o Aldo, seu monstro dos infernos, bugiardo maledeto. — gritei com as minhas forças, enquanto me sacudia para me livrar das mãos dos homens que me seguravam tarefa que estava ficando cada vez mais difícil devido ao fato de eu estar nua e molhada.

Quando minhas mãos ficaram livres por meio segundo agarrei o copo de Vitto sobre a mesinha de centro e ele acertou em cheio o bastardo que por reflexo colocou o braço a frente, o copo se partiu e o cortou em alguns pontos no punho e antebraço.

— Solta ela e saiam! — ele gritou e os homens saíram deixando-me no chão.

— Você nunca vai saber de verdade se fui eu ou não, mas pense bem Coccinella, você estaria morta agora se tivesse ficado lá. Protegi você, mais cedo ou mais tarde vai ter que aceitar. Agora limpe essa bagunça e depois vá para a minha cama!

Eu me encolhi enquanto ele saia da sala em direção ao seu quarto, eu ia pagar alto por meu ataque, mas ainda assim estava feliz por arrancar sangue do maledeto. Decidida a não dar a ele o prazer de ver chorar eu engoli minha dor, eu viveria, estava determinada a isso, e desta vez seria por minha própria conta.

Rezei por ele e por Ricco, e também pelo meu filho, o filho de Aldo que ainda resistia dentro de mim, se eu o perdesse aí não me restaria mais nada, e eu abraçaria a morte.

— Afronte-me novamente e eu farei com que termine os seus dias em uma casa de prostituição barata. Você ainda não perdeu tudo Coccinella, lembre-se disso, agora se deite e me sirva.

Meu interior gelou com as palavras dele, e a possibilidade de Vitto saber da minha gravidez me assustou como o inferno. Então obedeci e deixei que ele se fartasse em meu corpo. Enquanto minha alma enterrava meu amado no mais lindo funeral. 

RIZZO - Herdeiro da dor - Série Detentores - Livro 2 (completo)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin