𝟎𝟐

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Arthur

Levanto sua cintura para ir mais fundo. Assim que começo a movimentar meu quadril contra o dela mais rápido, ela grita; grita de prazer. Não dou a mínima para seus gritos agudos e estridentes, e isso não me deixa nem um pouco excitado.

Pra falar a verdade, nada disso faz sentido.

Estou fodendo mais uma, por puro vazio, para cobrir; esconder o quanto me sinto devastado aos poucos, cada vez mais. Parece que encontrar um meio prazeroso faz doer menos, ou pelo menos cobrir a dor por uma fração de segundos.

Ele iria odiar o que estou fazendo por sua causa, mas quem dá a mínima? Querendo ou não, ele está morrendo, e nada disso vai mudar. Transar com garotas por puro hobby não vai trazer ele de volta depois que ele se for. Não vai fazer seu câncer desaparecer.

E porra, quanto mais penso nisso, mais parece que um buraco está se abrindo cada vez mais no meu peito. Saio da garota e começo a me arrumar para sair.

— Porra, você é louco?! — Sua voz estridente alcança meus ouvidos. — O que você... Você é doente?! — Ela diz, escondendo seu corpo nu em uma toalha. Não dou a mínima pro que ela está falando, eu nem sei o nome dela.

Acabo de me vestir e saio.

Meu celular vibra no meu bolso, e meu coração se aperta. O medo e desespero... tudo está misturado em uma simples ligação. É medo de ser o que eu estou pensando, medo de ser minha mãe, avisando sobre meu pai. Temo que esse dia chegue por todos os dias da minha vida, desde que meu pai descobriu seu câncer.

— Crusher, vem logo caralho, amanhã a gente tem aula e não vamos esperar você transar com alguém pra isso! — Victor começa a ligação. Solto um suspiro de alívio, e depois digo:

— Tô indo. — Na mesma hora ele desliga. Assim que chego até lá, Vini, Victor, Mob e Bradoock estão sentados em cima da caminhonete. Apenas os cumprimento e me sento lá também, me deparando com Babi e mais uma garota.

Ela não deu um piu desde que cheguei.

— E essa aí, quem é? — Victor pergunta, me oferecendo um gole de cerveja. Eu aceito.

— Minha prima. — Babi responde.

Meus olhos encontram os dela. São meio acinzentados, o que me faz questionar como devem parecer mais claros à luz do dia. Seus cabelos são loiros escuros, e suas bochechas levemente rosadas.

Não sou nenhum vidente nem nada, mas eu não vejo tanta alegria nela. No fundo, seus olhos indicam uma espécio de vazio.

Volto para o meu mundo e dou um gole de cerveja. O álcool com certeza, faz o efeito suficiente pra que eu esqueça meus problemas. Olho para a noite escura e com poucas estrelas, e depois me viro de novo, para olhar a garota mais uma vez.

— Ela não fala não?! — Mob dá risada, com certeza um pouco meio fora de si.

— Não. Isso te incomoda? A vida é dela, não sua... — Babi diz, e depois fala algo em particular com a garota, que só dá um sorrisinho e faz que sim com a cabeça. Inclino a cabeça para o lado e continuo a analisando. Será que ela não fala mesmo?

Ela me pega a encarando e depois desvia o olhar, com certeza incomodada. Não dou a mínima, e então tomo mais um gole da minha bebida. Percebo que talvez seja tarde demais, e saio de cima da caminhonete a com a garrafa na mão, começando a caminhar.

— Pra onde você vai, Crusher?! — Mob pergunta.

— Pra minha casa. — Gesticulo com as mãos. Eles dão de ombros. Sei que tudo não passa do efeito do álcool. Sei que quando chegar em casa, provavelmente vou ter que lidar com meu pai tossindo sangue aos poucos, e isso me deixa totalmente arrasado.

Meu pai era a pessoa na qual eu mais socializava, e agora está nesse estado. Tudo parece a porra de um sonho, mas quando eu chego em casa, sempre deixa de ser. É um pesadelo; ele está morrendo aos poucos, e eu estou aqui, sem ter o que fazer, sem saber como lidar com sua possível morte.

Odeio pensar que um dia ele se vai de verdade, e isso pode ser de um segundo para outro. Não admito a mim mesmo porque não posso acreditar que ele se vai de vez, de verdade, e que não há nada a se fazer em relação a isso.

Enquanto isso, eu transo com garotas pra tentar aliviar minha dor, e isso me faz me sentir um lixo, mas é o que ameniza. Coloco as mãos no bolso, e não acho meu celular. Gosto de me sentir perto dele para caso algo aconteça, mas ele simplesmente não está aqui.

Devo ter deixado em cima da caminhonete, mas quando me viro para ir até lá, um corpo frágil e delicado para bem na minha frente. Eu arqueio uma sobrancelha, com a garrafa de cerveja na mão. A garota — a prima da Babi —, estende a mão, me entregando meu celular.

Antes de pegar, olho para ela, e sua expressão não tem um pingo de medo, desconfiança ou qualquer outra coisa do tipo pelo fato de eu estar meio bêbado. Posso ser um idiota, mas nem Deus poderia negar os olhos lindos que ela tem.

Agora, eles parecem mais esverdeados, e eu preciso vê-los mais de perto; preciso ver se essa beleza é mesmo real. Me aproximo, para testar sua reação, e ela continua tranquila. Seus olhos ainda indicam algo frio — algo morto — nela, e ela me estuda da mesma forma que estudo ela.

Talisman | Volsher. [Concluída]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora