𝟐𝟑

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Carolina

Minha mente está à mil, sem conseguir processar nada além do calor e do desejo incontrolável que sinto por ele. Crusher dá um beijo longo em meus lábios de maneira terna delicada, deixando meus lábios formigando sob os seus.

Tento manter minha respiração estável, mas falho. Quando seu lábio se desliza para meu nariz, minha bochecha, minha mandíbula e volta até minha boca, já posso sentir meu coração batendo contra o peito e meu corpo mole em seus braços.

De alguma forma, meu subconsciente me manda uma mensagem rápida para parar de fazer isso.

As razões são claras: Achei que ele só me quisesse para ajudar ele. Achei que ele não gostasse de mim. Achei que ele quisesse continuar com seus relacionamentos sem envolvimento. Achei que, para ele, eu era apenas uma amiga e qualquer uma.

E se ele ainda pensa isso, não podemos continuar.

Com meus pensamentos confusos, eu paro de mover a boca. Sinto Arthur passar a língua em meu lábio inferior uma, duas, três vezes, até ele se dar conta de que estou confusa e hesitante em relação a isso.

— Me beija, Carol. — Ele pede, com os lábios ainda colados aos meus.

Seu tom de súplica, desejo e necessidade me faz explodir. Tento achar alguma razão para parar com isso, mas eu sei que no fundo, quero que ele faça qualquer outra coisa. Quero que ele faça tudo o que quiser comigo.

— Por favor... — Ele gruda ainda mais nossos corpos, lentamente, e para para olhar pra mim. E, no fundo do meu interior, eu acredito que ele me queira. Acredito que o brilho em seus olhos nesse momento significa que ele me quer.

— Crusher... — Eu tento justificar algo, mas minha voz sai em uma espécie de um gemido. Agarro sua camiseta com força para não deixar nenhum espaço entre nós enquanto nossas bocas se derretem uma na outra.

Crusher abre espaço, querendo que eu beije agora, mas não faço mínima ideia do que fazer. Nunca beijei alguém de língua, como ele. A menção de que ele deve ter mais experiência que eu me faz acordar. Eu descolo nossos lábios.

— Me desculpa. — Eu digo, com a voz meio rouca e os lábios quentes. O gosto de sua boca ainda está gravada na minha quando me pergunto... Me desculpar pelo quê? Por ele ter ficado com outras garotas? Por ele talvez achar que você só seja mais uma?

— Não fala isso, eu... Fui eu, eu sou um otário, beijando qualquer garota... — Ele passa a mão no cabelo, frustrado. Depois morde os lábios e olha pra mim. — Me desculpa, sério, finge que isso nunca...

— Tá. — Eu o interrompo, meio sem jeito. Mas a verdade é que, além de ele insinuar que sou qualquer garota, ainda quer fingir que isso nunca aconteceu... enquanto eu só quero fazer aquilo de novo, mil vezes, sem parar. — Eu estou indo.

— Quer que eu vá com você? — Ele pergunta. Quero. Mas só dificultaria esse nosso clima vergonhoso. E a vontade de chorar que tenho agora.

— N-Não precisa. — Eu ando até uma das janelas e a abro, pulando para fora. Assim que saio e a fecho, sinto o ar gelado no meu rosto. Uma coisa quente começa à invadir minhas bochechas, e logo percebo que são lágrimas.

Faço um esforço enorme para parar de chorar até a casa de tia Jane, mas não consigo. Fecho o quarto depois de ter passado reto pela sala e cozinha.

A menos de um mês, ele era o garoto que saia dormindo com garotas e bebendo por aí. E agora ele me beija, sem dizer nada sobre o fato de eu ser diferente. Pior; querendo que eu esqueça disso, o que confirma que de fato, talvez eu fosse só uma amiga para ele. E que nossa amizade talvez fosse valiosa demais para ser destruída por uma atração boba da minha parte.

Arthur

Os sete piores dias da minha vida se passaram num estalo de dedos. É como se eu voltasse a viver na época em que era um bêbado oferecido. Tenho vontade de socar alguém... me socar. Eu não devia ter beijado Carol no dia da biblioteca. 

Nada disso estaria acontecendo, essa merda de buraco vazio no peito não estaria aqui. Pelo menos eu estaria com ela. Me dei conta da idiotice que fiz quando ela parou. Estava tão encantado por essa garota, que me esqueci do tremendo babaca que sou e sempre fui.

É óbvio que ela negaria um beijo meu. Ela acha que eu sou o mesmo de antes, mas eu mudei... preciso dizer a ela que eu mudei. Por causa dela. Por ela. E por mais que talvez eu preferisse não ter beijado Carol, não paro de pensar nos lábios dela.

Meu pai piora cada vez mais — se é possível piorar ainda —, e agora uma enfermeira precisa ficar encarregado de cuidar dele, toda a fração de segundo. Então, na maioria do tempo, papai não fica mais em casa.

Eu bebi. Fiz a merda de beber, de novo. Achei que ia esquecer dos meus problemas, dela, mas tudo que eu via era Carol e seus olhos claros, com aquele sorriso angelical me assombrando cada vez que eu bebia mais.

Beber só me deixou mais ciente de que sou um otário mesmo. Mas eu não sabia o que fazer sem ela. Apaixonado é a palavra. Toda a vez que lembro de seus lábios selados nos meus, das curvas de seu corpo contra o meu, eu estremeço de desejo.

Estou divido entre ficar com quem estou cego de paixão, deixá-la admitir que faço mal a ela, ou continuar arriscando nossa amizade que pra mim já tá claro que não é mais uma..

Bárbara percebeu o que aconteceu entre a gente, e agora me proíbe de chegar perto dela. Até eu me proíbo de chegar perto dela.

Respiro fundo e caio na cama. O céu anda mais nublado e chuvoso essa semana. Parece que o mundo inteiro conspirou contra mim, armou dias péssimos da pior forma; longe da Carol.

— Arthur, seu pai quer falar com você. — Minha mãe diz. Faço que sim com a cabeça e me levanto.Entro no quarto do meu pai. Ele não tem somente fios ligados em seu rosto, como agora tem uma máscara, que o ajuda a respirar.

— Não ouse tirar isso daí enquanto fala comigo. — Eu ameaço, me sentando na frente dele. Ele sorri. Meu pai não está mais tossindo, mas sua voz anda completamente rouca e inaudível. Sua respiração anda uma merda... ele não consegue mais ajuda dos órgãos para isso.

— E a garota? — Sua voz sai como um chiado, as palavras enroladas e se demorando para serem formuladas. Sinto um aperto no coração. Meu pai não devia achar que tudo na minha vida vai dar certo.

— Nossa amizade não deu muito certo, pai. — Eu digo.

— Por quê? — Ele faz uma pausa para respirar. Porque não era só uma amizade.

— Ela é muita areia pro meu caminhão. — Simplesmente respondo. Meu apenas sorri, incapaz de dar risada. — Ela é tipo tudo, e eu não sou nada.

— Essa é a maior burrice que eu já escutei. — Diz ele.

— Não é burrice. É verdade. Eu beijei ela. Ela negou. Pronto. Ela não quer mais nada de mim além da minha amizade. Nem sei se ela ainda quer isso.

— Você é muito burro, Arthur. Não foi assim que eu te criei. — As palavras parecem demorar uma eternidade para saírem. No final, ele sorri e dá uma fungada. — Se você realmente gosta dela... diga.

— Eu sei, mas...

— Diga o quanto você mudou... ou mudaria... por ela. — Ele diz.

— Mas depois do que ela disse...

— Talvez ela só queira te ouvir. — Ele diz. Franzo o cenho, pensativo. Faz sentido... Não ouvi Carol dizer que não me quer. Posso admitir que sou um babaca, mas mesmo assim, não conseguiria ficar longe dela. Por mais que eu me assuma um otário.

Mesmo que eu me dê como amigo dela, não quero ser  amigo dela. Mesmo que Carol talvez não me queira... preciso dizer isso a ela. Dizer que ela é tudo pra mim. Dizer que ela é única. Dizer que ela é a pasta de dente da minha escova. O travesseiro da minha cama... tudo bem, não sonha.

— Obrigada pai, eu te amo. — Digo. Espero sua resposta, mas não ouço.

Talisman | Volsher. [Concluída]जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें