𝟏𝟓

3.5K 278 19
                                    

Carolina

Tia Jane passa no quarto e entrega dois lanches pra gente.

— Eu já fui em bastantes lugares legais aqui da cidade, eu podia te levar em algum parque, ou algo assim... — Bradoock diz. Não posso negar, porque até achei legal a possibilidade. Dou uma leve sacudida na cabeça que sim. — E você veio da onde? É daqui? — Ele pergunta. Faço que não com a cabeça. Não sou daqui. — Sua família mora aqui, ou ficou lá onde você morava?

Meu coração congela. Começo a ficar nervosa, e preciso respirar um pouco mais para me concentrar em mentir pra ele. É claro que ele não tem culpa de não saber o que aconteceu com minha família, mas eu simplesmente não consigo ouvir falar da minha família novamente.

Faço que sim. Ele mal sabe que eu não tenho família. Minha mãe era a única pessoa que eu realmente considerava isso, mas quando penso em família, penso naquela em que meu pai estava envolvido. E as lembranças passam como lampejos na minha cabeça.

— E a sua mãe? É irmã da mãe da Babi? Bom, devem ser, já que vocês são primas. — Balanço a cabeça que sim de novo. Não consigo evitar a vontade de chorar, mas seguro o máximo que posso. Por quê sou tão sensível? Por quê preciso ser tão frágil, a ponto de não saber ouvir a palavra "Mãe", ou "família"?

Sei que se trata de um trauma, mas depois de tantos anos, eu podia ao menos aceitar. Mesmo que fosse difícil. Meus olhos começam a lacrimejar, e então eu passo a mão neles como se estivesse apenas os coçando.

Tia Jane não é irmã da minha mãe, mas ela foi adotada pela família dela, o que nos torna uma família. Isso é uma família. Não aquilo que eu achava que era. Pego meu celular e escrevo uma mensagem para ele, dizendo que precisava ir ao banheiro.

— Beleza, eu vou lá embaixo com os garotos. — Ele se levanta da beira da cama, junto comigo. Dessa vez, não consigo simular um sorriso. Deixo o lanche em cima da cômoda e corro para o banheiro. Quando chego, algumas lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, mas eu tento pará-las.

Sempre evitei chorar, e até agora, estava conseguindo muito bem. Porém, qualquer menção de uma família me faria ficar assim. A culpa não foi de Bradoock, e sei disso. Tranco a porta e me ajoelho no chão, buscando algum meio para me acalmar, para parar de pensar em coisas passadas.

Seco minhas lágrimas e destranco a porta, saindo da casa pela porta dos fundos, para respirar. O ar gelado chega até minhas narinas, me acalmando. Me sento na beira da calçada e apoio o rosto entre as mãos, tomando meu fôlego de volta. Não foi nada, não foi nada.

— Carol? — Rezo para que não seja Bradoock. Mas é Crusher. Seco minhas lágrimas, que nem sabia que ainda insistiam em cair.

_________
maratona 2/5

Talisman | Volsher. [Concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora