𝟎𝟓

3.8K 325 65
                                    

— O que você tá fazendo aqui? — Ele pergunta, com um tom mais suave do que eu estou acostumada ouvir dele. — Ah é, você não fala. — Ele se vira de novo.

Crio impulso para pular e me sentar na caminhonete, mas me dou conta do que estou fazendo.

Por quê estou ajudando esse estranho? Ele me entreolha enquanto me sento na frente dele. Gostaria de perguntar porque ele está aqui e não lá. Gostaria de perguntar qual é o motivo do olhar vasto dele, toda a vez que olho no fundo de seus olhos.

— Deve ser bem fácil né? — Ele olha para mim, me mostrando seu olhar frustrado. — Não dizer nada... não ter que lidar com problemas... — Ele diz. Ah, se ele soubesse dos meus... não imaginaria a tormenta que estou passando. — Já sentiu que é surreal que você esteja perdendo a pessoa que mais ama? — Ele pergunta.

— Já. — Deixo escapar dos meus lábios.

Dou um suspiro e tampo a boca discretamente, mas ele já ouviu. Já ouviu e levantou o olhar, com a boca entreaberta.

— Você fala. — Diz ele. Seus olhos castanhos brilham, e ele se aproxima mais de mim. Uma pequena onda de energia cresce na minha barriga e sobe até o peito quando e ele toca a palma da minha mão. — Você já sentiu isso? — Ele pergunta de novo, e eu faço que sim com a cabeça.

— Todos os dias. — Eu sussurro. Alguém pode me explicar, porque me sinto tão aberta com ele? Por quê acabei de falar com ele? Percebo que ele está me encarando de uma maneira diferente, então abaixo a cabeça, sentindo meu estômago borbulhar uma sensação estranha.

— Meu pai tem câncer. E eu sinto como se não houvesse saída... como se eu tivesse que me contentar e dizer a mim mesmo que ele vai... — Ele para as palavras e engole seco. Seu dedão ainda massageia a palma da minha mão, causando uma estranha efervescência no meu peito.

Olho para trás, me tirando do choque em que estava. Maneio a cabeça para lá, e ele faz que não com a cabeça, se recusando a ir até o ginásio.

— Não quero ir. — Ele diz, retirando a mão da minha e colocando o rosto entre os joelhos. — Sabe, meu pai era o único que vinha me assistir... caramba, como isso dói. — Ele diz.

Arthur

— O que ele gostaria que você fizesse? — Sua voz doce preenche meus ouvidos. Nunca tinha ouvido uma voz tão linda, por mais que isso seja loucura. Sinto como se ela soubesse como é. E não sei como ela sabe, talvez sua expressão... talvez ela sofra de algo do tipo.

— Ele gostaria que eu jogasse. — Respondo mais para mim mesmo.

— Então jogue. — Ela sorri, falando baixinho. Depois pega minha mão e a aperta levemente, fazendo brotar uma pontada de energia no meu peito. Ela se levanta e sai.

Talisman | Volsher. [Concluída]Where stories live. Discover now