𝟎𝟑

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Carolina

Poderiam ser olhos castanhos lindos, mas eles estão escuros, como se estivessem faltando alguma peça. Soltei um ar de ter saído do meio dos outros amigos de Babi para vir entregar o celular dele, e não sei o porquê de eu não estar tão incomodada como antes.

Talvez... talvez, fossem pelos olhos misteriosos, que indicam algo que eu particularmente sei muito bem o que é. Mas simplismente não sei distinguir o que são.

Ele move os lábios em um sorriso maldoso, se aproximando mais ainda de mim. Eu não iria desperdiçar uma oportunidade de sorrir, com um sorriso tão lindo como o dele. Não me mexo, apenas continuo com a mão estendida. Ele a abaixa e se aproxima ainda mais. Quando tenho quase certeza de que ele pretende me beijar, ele move os lábios:

— Não tem medo de mim? — Ele pergunta, com a voz grossa e rouca. Quase movo a boca para responder, e me repreendo internamente por isso. Apenas balanço a cabeça que não. Algo nele não me dá medo. Ele me olha nos olhos uma última vez, antes de pegar seu celular e se virar, dando espaço para a brisa gelada preencher o ambiente de novo.

***

Quando chegamos na casa da tia Jane de novo, já são mais de meia noite. Não sou muito acostumada a dormir nesse horário, por isso vou direto para o quarto, e acabo adormecendo.

Me lembro muito bem dos primeiros pesadelos que tive em relação ao que aconteceu. Me lembro do meu choro desesperado de madrugada, depois de ter sonhado com um desses. Nunca mais tive esses pesadelos, e espero nunca mais voltar a tê-los. De vez em quando, sonho com o rosto dela e acordo chorando, mas de certa forma feliz, por um minuto ter tido a ilusão que aquilo fosse real.

A cena horrível e simplesmente imperdoável do que fizeram com ela sempre passa pela minha mente, e eu nunca me esqueço. Ainda me lembro de seu olhar desesperado, seus olhos sem foco, me lembro dela em meus braços fracos. Eu estava em choque, eu achava mesmo que aquilo fosse um sonho.

No dia seguinte, acordo com os olhos lacrimejados, e evito a vontade constante de chorar. Me levanto da cama e começo a me arrumar, com o mesmo de sempre, já que não me importo tanto com minha aparência.

Calça jeans, meu all star e minha blusa branca normal. Coloco minha mochila nas costas e desço as escadas devagar, reconhecendo o rosto de Babi, acabando de comer uma torrada.

— Bom dia Carol! Você vai tomar café? — Ela pergunta. Faço que não com a cabeça, e espero ela na porta.

— Certeza que não vai querer nada, Carol? — Tia Jane aparece na cozinha. Eu faço que não novamente, e prendo meu cabelo, antes de Babi passar por mim e começar a andar em direção à escola.

— Você gosta de matemática? — Ela pergunta. Faço que sim com a cabeça, e para todas as outras matérias que ela me pergunta em seguida. Gosto de todas as matérias, e sem querer me gabar, mas sou boa em todas elas, na verdade.

Quando chegamos no colégio, Babi entra no corredor cheio e acha seu armário.

— Você sabe onde é o seu? — Ela me pergunta. Faço que não com a cabeça. — Ah, eu acho que precisamos pegar uma nova chave pro seu novo armário então. — Ela diz, me puxando pelo braço, depois de ter colocado seus materiais dentro do armário. — Moça, uma chave pra ela... ela é nova. — Babi diz, assim que chegamos na diretoria.

A moça da recepção passa uma chave e um cadeado para mim. Pego e observo o número dele.

— Hum, o seu é o 18. Olha que sorte, é um dos primeiros! Fica no mesmo corredor em que chegamos. — Babi diz. Ela encontra Victor e Bradoock no caminho de volta, e então se vira pra mim e diz. — Você sabe encontrar, né? — Faço que sim com a cabeça e dou um sorrisinho, saindo de lá.

Finalmente encontro o 18, o abro e coloco minha mochila lá, tirando só meu estojo e o caderno de Ciências de dentro. Quando o fecho, tranco o cadeado e guardo a chave no meu bolso, sou assustada por um estrondo forte ao meu lado.

Percebo que alguém bateu a porta do armário com força, e esse alguém é Crusher. Ele está com os punhos cerrados, e sua expressão não é das melhores. Quando ele olha para mim, no entanto, ameniza a expressão. Mas posso perceber seus olhos castanhos pesados, me encarando.

Talisman | Volsher. [Concluída]Where stories live. Discover now