𝟏𝟎

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Quando acordo, me levanto e respiro fundo antes de passar pela porta do quarto do meu pai. Eu a abro, e ele está dormindo. Como todos os dias, respiro de alívio, e logo após me preocupo ao sair de casa, com medo de quando eu voltar algo tenha acontecido.

Quando chego no colégio, penso em conversar com Carol, mas me lembro de que para o resto do mundo, ela permanece muda. Sinto uma vontade enorme de falar pra ela o quanto fiquei feliz por rir e finalmente ter uma conversa sem envolver a saúde com meu pai.

E talves até compartilhar essa minha desconfiança e medo toda a vez que volto da escola, ou o telefone toca.

— Crusher? — Gabriela estrala os dedos bem na minha frente. — Eaí? — Ela enrola uma mexa do cabelo escuro no dedo. Não preciso pensar em suas intenções assim que ela abre um sorrisinho malicioso.

Sem pensar, eu a prenso no armário e colo meus lábios no dela, esperando o calorzinho tão agradável que sinto sempre que estou perto da Carolina. Esperando a vontade de beijá-la da mesma forma que sinto quando penso  nos lábios da Carol. Mas ela não vem.

Por quê com ela é diferente? Minha raiva aumenta, e se volta para o estado do meu pai. E sei que quando penso nele, na merda que minha vida está se tornando e vai se tornar, minha necessidade de esquecer de tudo fala mais alto.

Carolina

Babi me coloca na frente do espelho do banheiro e prende duas mexas do meu cabelo para trás, terminando de fazer uma coroa de tranças na minha cabeça.

— Pronto. Minha mãe me ensinou a fazer, e eu queria experimentar em alguém... Você gostou? Parece que fiz um bom trabalho. — Ela pergunta, sorridente.

Ia sorrir, mas me lembro de quando mamãe me ensinava a fazer penteados. Do reflexo de sua imagem enquanto ela os fazia cantarolando, me ensinando cada passo na frente do espelho.

— Carol? — Babi me tira do transe. Faço que sim com a cabeça e curvo as bochechas. Mas não à força; porque de fato, o penteado ficou muito bonito. Por mais que fique triste por me lembrar daqueles momentos que agora se foram, ainda sim, é lindo.

Saímos do banheiro, e depois Babi vai falar com seus amigos, enquanto vou guardar minhas coisas no armário.

De longe, vejo Crusher beijando uma garota tão intensamente que sinto a tensão daqui. Evito olhar ou sentir qualquer coisa parecida com aquele sentimento com "C", dou meia volta e vou do lado de fora do colégio, me agachando e tirando apenas o material da primeira aula.

— Ei, Carolina, precisa de ajuda? — Bradoock aparece e se agacha na minha frente. Faço que não com a cabeça gentilmente. — Certeza? — Ele olha minha bagunça de cadernos no chão.

Acabo aceitando a ajuda. Enquanto ele recolhe alguns materiais para mim, diz:

— Desculpa se eu estou enchendo seu saco. Eu fico me perguntando se você não gosta de ficar com a gente ou se só não se sente convidada. — Ele diz.

Ergo as sobrancelhas lentamente, pensando. Dou um sorrisinho compreensivo e balanço a cabeça negativamente. Não acho que não sou convidada, apenas gosto de ficar sozinha, às vezes.

Se Bradoock disse isso em uma tentativa de virar um amigo mais próximo de mim, não acho que possa ser tão errado começar a ser amigo dele. Ele parece ser uma pessoa legal, assim como os outros amigos de Babi; mas não tenho certeza se Bárbara vai me avisar alguma coisa sobre isso ou não.

E entendo bem porque ela me avisou sobre Crusher na noite do jogo. Crusher é uma pessoa incrível e doce por dentro, mas por fora, creio que ele goste de se envolver com bastante garotas para se sentir bem. E Babi... só me avisou sobre isso.

— Certo, então vamos pra aula? — Ele pergunta novamente. Confirmo com a cabeça, mandando um sinal de "espera" com a mão. — Certo, te vejo lá. — Ele diz.

Quando me levanto com os materiais em uma mão, e a bolsa aberta em outra, acabo derrubando tudo no chão outra vez. Bufo, e quando me agacho novamente para pegá-los, outra pessoa agacha comigo.

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maratona 1/4

Talisman | Volsher. [Concluída]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora