𝟐𝟏

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No dia seguinte, acordo com uma leve dor de cabeça, e pela primeira vez nessa casa, sinto fome. Desço as escadas até lá em baixo e como uma torrada que tia Jane fez.

— Carol? Você acordou cedo hoje. — Babi desce as escadas. Dou um sorriso pra ela, e depois de tomarmos café da manhã, saímos andando até a escola. As primeiras aulas foram totalmente normais.

Não pude ver Crusher hoje, mas acho que ele está aqui, então quando o sinal do intervalo bate, eu vou em direção ao refeitório. Alguém esbarra em mim, e é Bradoock. Ele deixa um pouco de suco derramar na minha camiseta, deixando uma grande mancha laranja.

— Ai, desculpa! — Ele diz. — Desculpa mesmo Carol, eu gostaria de ajudar, mas eu estou ocupado com uma coisa. — Ele diz, e sai correndo na direção de uma garota antes que eu possa balançar a cabeça indicando que estou bem.

Só que não estou totalmente bem. A blusa era cinza, então, sem chance alguma de esconder o grande círculo úmido alaranjado. Fazendo uma careta e tentando pensar em uma solução urgente, dou meia volta e vou até o banheiro.

Estendo a camiseta na direção da pia e abro a torneira, na esperança de que pelo menos a cor saia. Quando tento esfregar um pedaço de papel higiênico contra o tecido molhado, o papel solta pequenos resquícios na camiseta.

Não costumo agir como se isso fosse o fim do mundo, mas nesse exato momento, a única solução que parece me restar é me humilhar usando a camiseta mesmo assim. Xingo baixinho.

— Carol?... — Ouço uma voz reconhecível, e então Crusher coloca a cabeça do lado de dentro do banheiro feminino. — Você tá aí então? Te procurei por todo o lugar... O que você tá fazendo? — Ele começa a andar na minha direção, mas para na frente do espelho e dá uma mexida no cabelo.

Solto um risinho ao ver a cena, mas logo arregalo os olhos com a situação.

— Você está dentro do banheiro feminino. — Falo. Ele olha ao redor, percebendo o vazio no lugar e encolhe e desencolhe os ombros, pouco se importando. Mesmo não gostando da ideia, não duvido muito que talvez, ele tenha visitado esse lugar com outras garotas.

— Rodei a escola inteira mais de duas vezes de procurando... — A voz dele vai sumindo assim que observa minha blusa, os papéis jogados na borda da pia e a torneira aberta. — O que aconteceu? — Ele estende a mão e segura minha blusa, me trazendo para mais perto.

Quando sinto o calor emanar de seu corpo e seus dedos roçarem acidentalmente na minha pele, sinto minhas pernas formigarem. É bem bobo querer que ele me agarre em seus braços, enquanto ele deve estar pensando é no que diabos fiz com minha camiseta.

— Derrubaram suco em mim. — Falo, mais rápido e embolado do que pretendia.

— Eu posso te emprestar uma camiseta, por quê você não me avisou? — Ele pergunta. Entrelaçando a mão na minha, eu e Arthur atravessamos o corredor até o vestiário. — Aqui. — Ele abre o armário e pega uma camiseta preta estampada.

Talvez a camiseta vá ficar um vestido em mim. Mas entre isso e o estrago que fiz na minha, prefiro aceitar a camiseta dele. Eu a pego.

— Obrigada. — Dou um sorrisinho, esperando que ele pare de olhar para mim. Sinto meu rosto esquentar quando falo: — Eu... preciso me trocar. — Eu digo.

— Ah, foi mal! — Ele se vira e coça a nuca, esperando que eu troque. Me livro da camiseta suja e passo a de Arthur pela cabeça. Embora fique um pouco larga em mim, posso dar um jeito de enrolá-la e guardá-la dentro da calça jeans.

— Pronto. — Digo.

Ele se vira e sorri.

— Ela fica melhor em você. — Ele curva as bochechas. Para evitar que eu fique olhando seus lábios por tempo demais, pergunto:

— O que você queria me falar ontem?

— Eu acho que não seria um bom momento pra falar aqui agora. — Ele diz, com os olhos contornando meu rosto. — O que você vai fazer amanhã? — Ele pergunta.

— Passar o dia lendo no meu quarto. — Eu respondo. Ele revira os olhos e se apoia num dos armários.

— Então, se eu te pegar às 19 pra te levar na biblioteca da cidade, você vai estar lá, encubada no quarto? — Ele pergunta.

— Eu posso fazer uma exceção para esse caso. — Eu sorrio. Ele sorri, se aproxima de mim e desliza o indicador atrás da minha orelha, retirando uma mecha de cabelo minha do rosto. Seu dedo parece se demorar ao passar pela minha mandíbula; tempo suficiente para que meu corpo reaja.

— Então tá, eu te pego ás 19 horas.

— E é assim que se perde um soldado, gente. — Victor aparece ao nosso lado, instruindo seus amigos como um professor. — Não sigam esse exemplo.

— Eles até que formam um casalzinho bonito... — Comenta Bárbara, olhando de maneira diferente para nós dois. O rubor quente subindo em meu pescoço se transporta para o rosto. Até pouco tempo, era Bárbara quem achava que não devíamos ter nada. Obviamente, não temos.

— Para um clichêzinho sem graça de fanfic, você quer dizer. — Mob comenta, com desdém, mas é estapeado na nuca por Babi. Victor sai dando risada com Vini.

— Já pararam com a palhaçada? — Crusher pergunta.

Talisman | Volsher. [Concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora