𝟏𝟗

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— É porque talvez eu vá me sentir distraído no meio do jogo com isso. — Ele diz. Sinto um rubor crescendo do pescoço ao meu rosto, mas mantenho um sorrisinho. Sei que algumas mudaram entre nós, e não sei distinguir o que é. Mas o comentário fez minha temperatura subir.

— Ah, bem, é a única coisa que tenho. — falo, tampando ligeiramente o caderno na frente dos peitos. E, mesmo se eu houvesse outras opções, sei que talvez depois desse comentário não tiraria. Crusher sorri de forma irresistível, se afastando de mim.

— Meu pai piorou. — Ele muda de assunto, olhando pra mim, com os olhos castanhos vidrados. — Eu queria que você fosse ver ele. — Ele diz. Faço que sim com a cabeça bem rápido. É claro que eu vou. — Tá bem. Qual é sua primeira aula? — Ele pergunta, pegando o caderno da minha mão.

— Geografia. — Eu respondo, enquanto ele pega minha mão e depois fecha meu armário. Não sei o que ele quer dizer com isso. Se ele fosse meu amigo, nem de mãos dadas comigo estaria. E não precisa ser inteligente para saber que amigos não chegam tão perto da maneira que eu e Arthur fazemos.

Estou mais que ciente de que Arthur tem uma fila de garotas esperando por ele, mas a palavra "gostar" é a única que vem à minha mente. Que explica tudo isso. Explica a forma como meu corpo se enche de euforia por um simples gesto carinhoso dele de beijar minha mão. Explica a forma como me sinto valiosa ao lado dele.

A mão dele ainda está na minha quando chegamos na frente da sala.

— Te vejo no intervalo? — Ele pergunta. Faço que sim com a cabeça, meio relutante, quando seus dedos se soltam dos meus de maneira demorada.

Arthur

— A sua primeira aula começa em dez minutos, nós ainda temos tempo. — Gabriela aparece na minha frente, enrolando uma mecha de cabelo no dedo.

— Hum... Não. — Eu digo.

— Não? Não por quê? — Ela desfaz seu sorriso maldoso, cheio de intenções.

— Porque nós não temos nada, Gabriela. Se você achava que tínhamos, sinto muito. Agora já sabe que não. — Falo o mais pacientemente que consigo.

— É o quê? Uma nova vadia na sua cabeça? — Ela pergunta. Preciso respirar fundo e me lembrar de que não posso bater nela. É só uma garota de olhos claros que conseguiu tirar toda minha postura.

— Não. — Respondo seco novamente, tentando passar pelo corredor. Ela bloqueia a passagem novamente.

— Ah, qual é? Você sabe que pode me foder até esquecer o nome dela. — Ela diz.

— Gabriela, eu disse que não. — Digo de novo, e depois empurro levemente seu corpo pro lado, me deixando passar. Na hora do intervalo, eu não vejo Carol em nenhum lugar. Nem saindo da sala, nem no refeitório, nem no corredor.

Eu vou até a biblioteca já impaciente. Eu a acho distraída, procurando algum livro na prateleira, com aquela camisa social que me causou um pane no sistema. Meus pensamentos ficaram entre rasgá-la ou desabotoá-la delicadamente.

— Eu não disse que te veria no intervalo? — Sussurro no ouvido dela, a fazendo pular de susto e tampar o ouvido.

— Desculpa, eu quis ficar aqui. Te mandei mensagem. — Ela sussurra, se voltando para os livros.

— Ficar aqui pra fazer o quê? — Reviro os olhos. Ela se vira e deixa três livros na minha mão.

— Ler. — Ela diz o óbvio.

Depois, vai me usando como o suporte para todos os livros que ela escolhe. Fico observando seus lábios se contraírem em uma série de expressões; lábios feitos como Deus quis que fossem. Depois de deixar mais de dez livros em cima de mim, ela volta os olhos para mim e sorri, se sentando em uma das mesas redondas.

— Você não vai ler tudo isso agora, né?! — Eu pergunto, num sussurro.

Ela faz que não com a cabeça, e depois começa a anotar o nome dos livros em um papel, apoiando o rosto na mão e escrevendo. É fascinante vê-la distraída. Apoio o rosto entre as mãos e começo a observá-la; com a tampa da caneta entre os dentes, um dos dedos enrolando uma mecha de cabelo rebelde...

Talvez eu tenha mesmo uma fila de garotas que se interessariam fácil por mim, mas a única que quero que durma em meus braços, vista uma camiseta minha e fique debaixo dos meus lençóis, é essa.

— O que foi? — Ela pergunta, depois de perceber que eu estou a encarando.

— Nada... — Dou um sorriso, inclinando a cabeça. Ela sorri de volta.

— Que horas eu posso ir lá? — Ela pergunta.

— Depois do jogo. — Respondo. Ela concorda com a cabeça. — Acho que eu só vou ficar na reserva hoje... então nem precisa ir, se quiser. — Falo.

— Você joga bem, eu tenho certeza que vão te colocar na linha. — Ela diz, com os olhos brilhantes e determinados.

— Você acha que eu jogo bem? — Pergunto. Eu sei que jogo, mas quero ouvir dela. Ela faz que sim com a cabeça. — Certo, então eu faço um gol pra você e, talvez, pense em te dar um autógrafo. — Eu digo. Sua risada faz cócegas na minha barriga, me fazendo rir junto.

Talisman | Volsher. [Concluída]Where stories live. Discover now