Cap 74 - Última Luz

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~ Amber ~

Acordei com a minha mãe me chamando, já pronta para ir ao enterro. Meu corpo pesou tanto que foi um sacrifício sair da cama, com meus passos parecendo deixar rastros de fogo por onde passava. Minha cabeça latejando de dor e o meu olfato horrível de tanto chorar, cansada de observar a droga da janela aberta que deu visão apenas para o céu ainda claro pela luz do sol. São exatamente duas horas da tarde e sei que não dormi o suficiente, minha mente só parece pior por causa do remédio e mal consigo ficar de olhos abertos sem piscar várias vezes e soltar um bocejo carregado de cansaço.

Fiquei de pé, parando em frente ao meu guarda roupa e abrindo o mesmo, vendo os diversos vestidos. Peguei um branco de alcinha até o joelho e um tênis branco também. Após o banho, me vesti o mais rápido que pude e prendi o cabelo em um rabo de cavalo.

  - Amber, já está pronta? - A voz do meu pai me fez virar em sua direção.

O mesmo está parado perto da porta, com uma calça jeans e uma blusa bege. Concordei com a cabeça, mas James não desviou o olhar. Após mais alguns segundos me observando, o homem entrou no cômodo e fechou a porta atrás de si. Ergui o rosto para encara-lo.

  - Antes de ir, queria te dizer uma coisa - Falou. Fiquei em silêncio para que continuasse. - Sua avó faleceu devido a complicações sérias, ela estava com câncer no pulmão faz uns dois anos. Os médicos consideram um milagre que ela tenha durado isso tudo sem nenhum tratamento e fumando também, o que só torna pior. Quando você estava lá, notou alguma mudança? Sangue saindo pela boca? Tosses repetitivas? Falta de ar? Ela reclamando de dores?

As palavras me atingiram como uma flecha bem no meio do estômago.

Nathalina vivia tossindo em uma toalhinha vermelha. A mesma sentiu uma dor horrível e falta de ar ao discutirmos sobre como ela estava me tratando, não tinha mais tanto pique para sair e não largava o cigarro nenhum minuto.

As palavras ditas fizeram o enjôo me rodear, contudo, apenas neguei com a cabeça, impossibilitada a responder sobre.

  - É uma perda horrível, filha, mas tente pensar no melhor, okay? Não consigo entender como aquela mulher rabugenta tenha conseguido viver tanto com aquele tipo de dor infernal, então pelo menos agora posso dizer que a sua avó realmente está bem. - Sorriu de canto.

Reprimi os lábios, sentindo os meus olhos arderem.

  - Ela sabia? - Minha voz saiu fraca e embargada.

  - Sim, Amber. Faz um ano e meio que ela sabia do câncer.

Após me dar um beijo no topo da minha cabeça, James saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. Me faltou ar.

Parei na janela, apoiando as mãos sobre a mesma e sentindo a brisa gelada me atingir. Fechei os olhos, inspirando conforme lágrimas começaram a se formar após lembranças me atingirem com tudo. Achei que poderia ao menos me despedir, escutar a sua voz pela última vez, lhe dar um abraço tranquilo ou um beijo. A pior parte é saber que Nathalina simplesmente se foi, sem mais e nem menos. As palavras que ela disse quando finalmente voltei para a casa ficaram ecoando no meu ouvido várias vezes, ainda mais sabendo que a mesma deixou a caixinha dela, a única coisa capaz de lembra-la de Stella em minhas mãos.

"Desculpa pela ausência, e espero que me perdoe"

Minha avó sabia que não ia aguentar, independente de como reagiu com isso. Nathalina sabia que ia morrer, e não se despediu, não mandou mensagem, não ligou. Ela me deixou no escuro enquanto morria aos poucos. Ela sabia desde o começo e nem se preocupou em tentar impedir, tentar nos avisar, tentar mudar essa merda. Nathalina planejou isso e nem foi capaz de se despedir quando sentiu os seus últimos momentos chegando.

Meu "Babá"? (Completo)Where stories live. Discover now