Cap 56 - Bolha

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~ Amber ~

Dois dias se passaram desde que eu cheguei na casa da minha avó. No primeiro eu fiz o almoço e arrumei um pouco das coisas. No segundo ela me fez capinar todo o quintal e agora tive que tirar as folhas e toda a sujeira das calhas. Em todos esses momentos o rádio ficou perto de mim, alto o suficiente para que quase me deixasse surda, porque Nathalina disse que mesmo que as músicas atuais sejam horríveis em sua percepção, ela não gosta da casa silenciosa, já que eu mal digo uma só palavra. Ontem fiz um pequeno esforço para perguntar algumas coisas sobre o quintal, mas apenas isso.

A mesma também me faz tomar banho todos os dias, dizendo que suas roupas de cama estão em um estado perfeito demais para o meu corpo sujo estragar. Tenho que fazer companhia para a mesma na hora de comer também, com a desculpa dela de não querer que eu fique o dia inteiro intocada no antigo quarto da minha mãe. Hoje minha avó me disse que tenho que lavar o banheiro que pela suas dores nas costas ela não consegue fazer isso. Mais uma vez, não reclamei e muito menos respondi, apenas peguei as coisas e me adiantei antes do almoço que também tive que fazer.

De tardinha, fiz um pequeno esforço e coloquei um vestido soltinho, mas não consegui me encarar no espelho. Virei a cara nos primeiros três segundos e abandonei o quarto, impossibilitada a ver o que me tornei. Fará alguma diferença me observar? Já tenho consciência de que estou péssima, então não tem sentido comprovar isso. Só de ver a cara das pessoas na rua enquanto me vêem do lado de fora da casa fazendo as tarefas já posso ter uma bela noção do quão monstro estou sendo na minha aparência.

Deitei na cama de barriga para cima, encarando a cor clara do quarto enquanto o sol irradia o mesmo. Cortinas claras foram a pior ideia de Diana para colocar nas janelas. Apesar de tudo, consegui concertar o meu horário, e estou dormindo as dez e acordando as seis da manhã, que é quando Nathalina me pede para fazer o café e deixar a mesa pronta. Na janta, ela sempre faz alguma coisinha, o que é a única coisa que não me obriga a fazer, sabe se lá o porquê disso.

Encarei o pequeno relógio rosa em cima da mesinha, vendo que são quatro horas da tarde. Fechei os olhos, sentindo o cansaço me atingir por completo. Não trouxe nenhum livro para cá, e mesmo se tivesse trazido, não teria tempo algum para ler. Estou andando bem ocupada fazendo as coisas aqui, então não tem diferença mas apesar de tudo eu só queria poder me afogar em alguma coisa fantasiosa. Estou morta para essa realidade.

(....)

Acordei com batidas na porta. Olhei na direção da mesma, sem expressão, apenas com o olhar pesado e o corpo ainda sonolento. Vi a mulher de cabelo grisalho encostada no batente, me encarando com uma sobrancelha erguida, estudando o meu rosto.

  - Já cansou? Mal fez as coisas hoje

Permaneci em silêncio.

  - Bom, não importa. Vá se arrumar, temos que dar uma saída e ir para o shopping. Preciso comprar algumas coisas e não vou te deixar aqui na casa sozinha. - Disse com desdém. - Tire essas roupas que mais parece panos de chão e vai vestir alguma coisa descente depois de um banho. Aproveita para lavar esse cabelo que está um sebo e não demore. Vamos sair em uma hora e meia. - Falou por fim, saindo em seguida.

Continuei na cama por mais alguns minutos, tentando não dormir novamente. Quando finalmente levantei, fiz exatamente o que minha avó disse. Tomei banho, lavei o cabelo e após pentea-lo, fui de toalha para o quarto, abrindo a mala e encarando as roupas na mesma. Não sei porque trouxe algumas roupas justas se tenho total consciência de que não vou usar nenhuma delas.

Meu "Babá"? (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora