Capítulo 16

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Ficou sentada no balanço pelo que lhe pareceu muito tempo. Onji tinha coragem de fazer uma porção de coisas, como lutar, enfrentar valentões, duelar com bandidos e tomar vacina. Mas não conseguia juntar coragem para entrar naquela casa, onde todos a esperavam para prestar julgamento e descobrir por que tentaram matá-la.

Esfregou as mãos frias e suadas no vestido para secá-las e encarou as luzes acesas da casa, nervosa, batendo os pés no chão. Talvez devesse ir logo e acabar com aquilo de uma vez. Ou talvez devesse pegar suas coisas no carro e desaparecer. Ou quem sabe ainda, todos na casa já sabiam o que estava acontecendo e era a única ali fora que permanecia confusa, mas temia descobrir o motivo do ataque e se sentir ainda pior.

Não podia apenas fugir e sabia disso. Soltou o ar dos pulmões com força e tentou controlar a respiração antes de se levantar. Esfregou o rosto, ajeitou o cabelo emaranhado e começou a andar em direção à casa.

Todos os olhos se voltaram para ela quando entrou na cozinha. Ao contrário do jardim, era um ambiente limpo e organizado e os móveis de madeira contratavam os eletrodomésticos pretos. Leon estava sem camisa e Lara terminava de lhe dar o último ponto no ferimento do braço, sentados à mesa. Keira estava com o cabelo molhado envolto por uma toalha preta. Suas roupas sujas de sangue haviam sido trocadas por uma camiseta larga. Will a olhou desinteressado e Maeve pareceu aliviada, atrás do balcão em frente à pia.

Uniu-se a eles sentando em um dos bancos, sem cerimônias.

— Então, o que essas pessoas querem comigo?

O olhar dos presentes denunciou que não, ainda não sabiam de nada e estavam tão ansiosos quanto ela para ouvirem a história e saberem a verdade.

Lara colou um curativo sobre a sutura de Leon e ele vestiu o colete azul, salpicado de manchas vermelhas. As duas faunas ficaram lado a lado, sentadas ao balcão.

— Meu nome é Maeve Sellen – disse ela, com o mesmo olhar sério de sempre. – Essa é minha esposa, Lara. Três anos atrás um homem chamado Wotan me procurou, oferecendo uma enorme quantia de dinheiro para que eu encontrasse um artefato fauno conhecido como "O Espelho de Obsidiana".

Ela fez uma pausa rápida para observar a reação dos presentes, como se medisse a temperatura dos ânimos de todos. Fazia sentido que o fizesse, já que o tal de Espelho não passava de um conto de fadas do povo da floresta. Um objeto que, de acordo com as histórias, podia ser usado para se comunicar com os mortos e que almas eram capazes de atravessá-lo para o mundo dos vivos. Onji não soube dizer o motivo do silêncio de todos. Talvez estivessem prontos para creditar em qualquer coisa ou só cansados demais para discutir. Como ninguém se pronunciou, ela continuou.

— Eu recusei imediatamente, mas fiquei desconfiada. Ninguém aparece assim do nada atrás de um objeto desses, ainda mais acreditando no que ele faz. Para o resto do mundo o Espelho não passa de uma lenda, contada a crianças para ensiná-las sobre vida e morte. Mas Lara e eu não apenas acreditamos que o Espelho é de verdade. Nós já o vimos em ação e ele funciona.

Onji se empertigou, se remexendo desconfortável, tentando adivinhar onde aquilo iria parar, mas nem sua imaginação era capaz de conceber a realidade. Se ela tivesse se virado para o lado, teria visto Leon a olhando de esguelha, examinando sua expressão, mas ela não tirou os olhos do casal em frente. Ouviu Will soltar um "tsc" alto e ela mesma teria feito isso se não tivesse visto as tatuagens dos Dragões com os próprios olhos. Não sabia qual era o plano deles, mas se envolvia o Espelho, pouco importava se as histórias sobre o artefato eram verdadeiras ou não, pois Wotan claramente acreditava que eram.

— Quando éramos muito novas, há muitos anos – disse Lara, dando uma olhadela rápida para o lado esperando aprovação de Maeve – vimos o Espelho sendo usado em um ritual. E foi um sucesso, se é que você pode chamar o massacre que ocorreu em seguida de sucesso.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora