Capítulo 3

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Leon voltou para o hotel, apesar de Onji tentar convencê-lo que seria melhor ficar no sítio de Upali. Ele recusou, queixando-se da insistência do monge e disse que preferia aguentar as ofensas no centro da vila.

Onji não discutiu. Não era problema seu.

Passou o resto do dia trabalhando no artigo científico para a pós graduação. Estava ansiosa por terminar e precisava aproveitar o dia de folga. Já tinha escurecido quando a porta do quarto abriu. Virou-se para trás e viu Yuenu deitando na sua cama com os cabelos molhados.

A irmã era tudo mais do que ela. Mais alta, mais forte, mais bonita, mais velha, mais teimosa.

— Não vai molhar meu travesseiro com esse cabelo gigantesco aí.

Onji se voltou para a tela do computador e tentou ler seu último parágrafo, mas tudo que viu foi um borrão. Talvez fosse hora de fazer uma pausa ou terminar pelo dia.

— Você não vai imaginar a fofoca que eu ouvi hoje pela vila — disse Yue.

Onji levantou da escrivaninha, empurrou a irmã com a bunda e sentou do lado dela, apoiando a cabeça numa almofada.

— Desembucha.

A irmã sorriu de um jeito malicioso.

— Você, saindo do Templo da Fênix com um guerreiro-do-fogo.

— Uau, que terrível! — Onji fingiu surpresa e revirou os olhos. — Grandes coisas, deixe que falem.

— Boa sorte em explicar isso pro pai e pra mãe.

— Parece até que eu tenho dez anos de idade pra ficar me explicando sobre com quem eu converso.

Yuenu deu de ombros e cruzou as pernas. Abriu a primeira gaveta da mesa de cabeceira de Onji, pegou uma alicate e começou a cortar as unhas dos pés.

— Você é nojenta.

— Tem nojo da sua própria irmã? — Yuenu pegou uma lasca de unha e jogou na direção de Onji, que se desviou rindo.

— Faz isso de novo que vou me vingar em dobro!

O som das risadas acabou atraindo a terceira irmã que entrou no quarto em seguida e logo se juntou na cama também. Ela carregava seu diário e uma caixa de lápis de cor.

— Do que vocês tão falando?

— Do guerreiro-do-fogo que tá na vila e que Onji aparentemente conhece.

Onji bufou.

— Não é possível que não tenha nada mais interessante acontecendo por aqui.

— Doce ilusão, irmãzinha. Agora me fala, qual é a dele?

— Ah, sei lá, ele teve um acidente e Upali trouxe ele pra ajudar na recuperação. Aí fui incumbida da missão de não sei, ser amiga dele.

— Vai ver ele amanhã de novo?

— É, acho que sim. Até eu to curiosa agora. Ele é ao mesmo tempo educado e um desastre completo.

Yuenu deu uma risada.

— Parece até alguém que eu conheço, tirando a parte do "educado".

— Há, há, to morrendo de rir.

— Quando é que vocês vão me levar pra caçar? — Keira perguntou, mudando o rumo da conversa.

Yuenu deitou na cama e cobriu o rosto com o travesseiro.

— Tem mais isso ainda, Onji e suas promessas — ela falou, com a voz abafada.

— Não sei, Kiki, vamos ver como fica o resto da semana.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora