Capítulo 6

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Como sempre, chegou em casa de noite e já estavam todos em seus quartos. Largou a mochila na sua cama e foi até a porta do quarto de Yuenu. Ouviu o som do instrumento de corda que ela estava aprendendo a tocar, deu uma batida na porta e entrou.

A irmã estava sentada no chão e dedilhava a pipa com insegurança. Sentou na cama dela e aguardou a música acabar.

— Já tá melhorando bastante.

— Eu sei.

— Dessa vez eu nem fiquei surda te ouvindo tocar.

— Uau, obrigada.

Yuenu guardou o instrumento na caixa e Onji soltou o cabelo, suspirando.

— Que foi? — a irmã perguntou.

— Tomei um esporro da minha orientadora. Ela disse que meu argumento parece escrito por um bode.

Yuenu começou a rir.

— É o que acontece quando você arruma projetos alternativos.

— Ugh, nada ver. Você e Keira que ficam me atrapalhando.

— Eu? Eu sou uma santa. Deixa eu ler seu texto, vou te ajudar.

— Amanhã, quem sabe. Vou dormir, to destruída.

Ela se levantou.

— E o carinha lá?

— Ah... Ele é um soldado. Era guarda do Príncipe Regente. Sei lá, ele falou que já matou pessoas.

Yuenu sentou na cama, pegou uma escova e começou a pentear os cabelos longos.

— E daí? — ela deu de ombros, encarando Onji. — A gente também.

— É diferente.

— Diferente como?

— Não é como se eu tivesse escolhido fazer isso.

— Mas fez. Você tinha outra opção? Não, né. Eu também não tive. Eu sabia dessa possibilidade quando decidi trabalhar como guarda.

— Eu sei, Yuê, não tô fazendo julgamento nenhum aqui. Eu só não sei, sabe, se isso seria um empecilho mim.

O canto da boca de Yuenu se repuxou e ela lançou um sorriso falso.

— Ah, onji, não é como se você estivesse planejando seu casamento. Para de pensar demais no assunto. É por isso que você não pega ninguém. Não é como se se ele fosse um assassino em série. Ele era um guarda. Guardas guardam. Merdas acontecem.

— Eu, sei, eu sei! Mas você entende que isso dificulta as coisas?

— Não.

— Nossa, tudo pra ti é muito simples.

— Você que é muito complicada.

Oni virou as costas e foi saindo do quarto. Yuenu gritou antes da porta fechar:

— Guardas guardam, Jiji!

Onji parou onde estava. Deu um passo para trás e abriu uma fresta da porta.

— Tá, não sei, sei lá... acho que vou seguir seu conselho.

***

Fez tudo com pressa no dia seguinte, como fosse capaz de acelerar o tempo. No fim da tarde pulou no banho e antes de anoitecer já estava na rua, indo em direção ao Templo da Fênix. Havia até colocado um vestido menos horrível, já que ele não sabia diferenciar mesmo o que era de sair e o que era de ficar em casa.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora