Capítulo 8

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A clareira na montanha teria virado o ponto de encontro dos dois se não fosse tão complicado chegar lá em cima. Passaram a se ver quase todos os dias, a maioria das vezes, no Templo da Fênix.

Onji usava seus estudos como desculpa já que não tinha coragem de contar aos pais que estava saindo com um nobre.

— Essa casa é muito barulhenta, é impossível fazer qualquer coisa com Yuenu e Keira enchendo o saco – ela disse uma noite, e eles acreditaram, já que ela estava meio que falando a verdade.

As irmãs apoiavam o relacionamento de Leon e Onji, mas a cada dia que passava, Yuenu ficava mais ansiosa com o segredo e repetia que Onji deveria revelar tudo logo de uma vez.

Um dia, num domingo, ela foi com as irmãs e Leon na casa de Upali e passaram a tarde conversando e comendo bolinhos.

Onji começou a ficar preocupada com o que aconteceria a seguir. Faltava pouco tempo para ele ir embora. Tinha se apegado muito mais do que o planejado, e se pretendia ter algum tipo de relacionamento mais sério com ele, não queria que fosse sem o conhecimento dos pais.

Estavam na clareira, certo domingo de tarde, num dia particularmente quente. Leon estava mal-humorado, acometido por uma dor fantasma insistente. Onji deu um último mergulho no lago, escorreu água dos cabelos e deitou ao lado de Leon com a cabeça no ombro dele, que nem se mexeu, fitando o céu aberto.

Faltava quase nada para ele ir embora. Onji já estava nervosa, sem saber o que fazer quando ele partisse. Falavam pouco sobre o assunto e já tinha percebido que ele também não gostava muito de pensar naquilo. Sequer haviam conversado sobre o que estava rolando entre os dois, mas era a primeira vez em muito tempo que se sentia daquela forma por alguém.

— Vou contar pros meus pais – disse ela, se virando para conseguir ver os olhos dele.

Ele ficou de lado e apoiou a cabeça no braço.

— Tem certeza? – perguntou – Não quero que você faça nada contra sua vontade.

— Eu sei, eu sei – ela respondeu. Com o dedo, contornou o formato do rosto dele. — Eles já viram a gente andando junto na vila e não falaram nada. E... – ela se conteve um instante – E não é só isso. Eu não quero que essa coisa entre a gente acabe quando você for embora... vai ser mais fácil se eles souberem. Isso se você quiser também, claro.

— Essa coisa entre a gente? – ele riu.

Onji torceu a boca, lhe dando um tapa de brincadeira no braço. Leon a puxou para perto e a beijou.

***

Chegou em casa de noite, energizada, ensaiando mentalmente o que falaria para os pais. Principalmente com Nanai, que nutria um preconceito mais apaixonado que só desgosto.

Estavam todos na sala de jantar e Keira ria com sua risada de sininhos toda vez que Yue errava uma nota na pipa. Onji tirou os sapatos, deixando-os na varanda e sentou com elas em volta da grande mesa redonda, bem na hora que Yue dedilhou um verso perfeitamente, calando a boca da irmã mais nova. Dao e Nanai conversaram em voz baixa e a cumprimentaram quando ela entrou.

Serviu-se de chá e girou o rodízio no centro da mesa para pegar uma fatia de bolo. Percebeu que suas mãos tremiam de nervosismo, e repassou na cabeça o que havia ensaiado para falar. Inspirou fundo e começou:

— Vocês lembram do Leon, aquele guerreiro-do-fogo que tá hospedado na vila?

Yue e Keira ficaram em silêncio no mesmo instante e os sorrisos sumiram de seus rostos.

Para sua surpresa, nenhum dos dois deu muita bola ao que ela havia perguntado.

— Ah, o soldado – disse a mãe, sem prestar muita atenção.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora