Capítulo 11

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O Portão Leste levava a um gigantesco calçadão, todo feito de tijolos encaixados, azuis e brancos, com uma fonte enorme bem ao centro. Em meio à árvores, bancos e pessoas, várias barracas de produtos se espalhavam, com todo tipo de mercadoria e espécies imagináveis.

Uma mulher ruiva fritava espetinhos com fogo que saia das próprias mãos e os entregava para duas pequenas nereidas, de cabelos coloridos e barbatanas nos braços. Uma com a pele esverdeada, outra, rosada. Keira correu até um grupo de pessoas que riam enquanto assistiam a um teatro de sombras, onde dragões e pequenos bonecos dançavam atrás de uma tela branca. Um grupo de sílfides adolescentes, de asas transparentes, ria de um homem tentando arrancar seu casaco dos dentes de um cachorro.

— Keira, não se afaste da gente ou vamos acabar nos perdendo — disse Onji, e a garota apenas assentiu, sem tirar os olhos do teatro de sombras.

Não importava o quão incrível achava toda aquela mistura de culturas, cores e coisas. Tinha medo de não ser bem-vinda ali. Sua única vantagem era que todos a sua volta estavam preocupados demais com as próprias vidas e afazeres para prestar atenção nela.

O carro de Leon estava estacionado numa transversal próxima. Era caótico por ali, difícil de andar em meio a tanta gente. Nas ruas, carros elétricos e carruagens disputavam espaço. Na calçada a briga era entre os pedestres. Já nas dezenas de estabelecimentos comerciais, a briga era por quem gritava mais alto para chamar atenção da clientela.

Leon garantiu que a muvuca se restringia àquela área região devido ao portão e às feiras, e a movimentação estava pior com o aniversário do distrito com as festas e eventos rolando na semana. O campeonato que Onji participaria sendo um deles.

Ele abriu o porta-malas do carro onde guardaram as mochilas. Enquanto isso, Keira corria para sentar no banco da frente.

— Não força a barra, Keira – ela disse entre os dentes, sem querer fazer cena.

A garota mostrou a língua e foi para o banco de trás, virando raposa, se enrolando em uma bola peluda e Onji tomou seu lugar. Leon veio logo em seguida.

— É um pouquinho longe daqui, então vai dar pra ver bastante da cidade no caminho.

— Tenho até um guia turístico, então – riu, abrindo a janela e colocando o cinto.

— Eu sou o pior guia turístico que você poderia esperar. Mas me avisa se quiser parar em algum lugar. As cidades externas têm mais comércio e fábricas. Mais pra frente é a antiga área que os humanos ficavam. Eu moro na Cidade Alta, já que a casa era dos meus pais, e meus pais, bem, tinham grana.

— Ah, o centro – Onji exclamou com sarcasmo. – Também conhecido como a área tensa pra humanos.

Leon fez que sim com a cabeça, ligando o carro e saindo do encostamento com dificuldade pelo excesso de veículos no trânsito.

— Não vou mentir – ele disse. – Só não é pior porque intolerância virou crime. Mas ninguém vai mexer contigo. Muito. Espero.

— Porque eu vou estar do seu lado.

— Basicamente.

— Não vi vantagens.

Leon lhe lançou um olhar rápido, sem tirar os olhos do trânsito por muito tempo.

— Vamos fazer assim então. Eu deixo você bater em quem te provocar e aí te tiro da cadeia.

— Agora sim – ela respondeu, rindo – estamos falando minha língua.

Virou-se para trás, estranhando o silêncio de Keira. Ela estava com os olhos fechados, respirando profundamente com o focinho enfiado entre as patas. Não tinha percebido o quanto a irmã estava cansada. Deveria ter imaginado que ela não teria o mesmo pique de Onji para uma viagem tão longa.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora