Capítulo 9

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No ano que se passou, Leon e Onji viram-se apenas duas vezes, e não foi em Cerúlea.

Com a mente em foco para poder mudar-se da vila, Onji acabou pegando ainda mais responsabilidades para si. Terminou sua especialização, pegou mais turmas para dar aula e aumentou a frequência de seus bicos de guarda-costas.

Não se deixou mais abalar, como havia acontecido no famigerado dia da pedrada. Andava de cabeça erguida, e qualquer um que ousasse olhar atravessado em sua direção era recebido com uma afronta. Dao e Nanai aprenderam a aceitar. Afinal, um ano havia se passado. Leon os visitou duas vezes em fins de semana e ficou hospedado na casa de Upali, mas frequentou a casa da família Wang e chegou a ter coragem de sentar à mesma mesa que todos para uma refeição.

Sua mãe era mais difícil, mas Dao amoleceu aos poucos. Onji tinha certeza que a resistência da mãe era por pura teimosia. Leon sempre agia de forma super educada com os maneirismos que aprendeu em seu antigo trabalho frequentando o palácio. Yue e Keira o adoravam e sabiam que eram bons um para o outro. Então, Nanai apenas se calava, vendo a família em volta se derreter por ele, torcendo o nariz, azeda.

Ele também tentava voltar para uma rotina comum em Cerúlea, mas não estava sendo fácil e ia, aos poucos, trabalhando para isso com terapia. Estava dividindo a casa com um colega, um nereu chamado William, que trabalhava em uma empresa de comunicação. Enquanto isso, continuava recebendo uma pensão e pegou alguns bicos indicados por Onji, dos contatos que ela tinha dos serviços de guarda-costas.

Era noite de terça, e contrariando a vontade da mãe, terminava de colocar seus pertences em uma mochila de viagem. Onji viu a porta de seu quarto deslizando para o lado e a figura de uma raposa e branca pulando em sua cama. Estalou a língua e colocou as mãos na cintura, olhando a criatura com desaprovação.

— Keira, quantas vezes vou ter que falar pra não sujar meu quarto com suas patas imundas?

A raposa soltou um guincho parecido com uma risada, ao mesmo tempo em que seu corpo se desfez em uma nuvem branca, se transformando em garota. Havia uma mancha de sujeira no rosto dela.

— Eu tenho uma notícia incrível, irmãzinha – Keira falou, deitando com a cabeça apoiada nos braços, balançando os pés sujos.

— Ah, você finalmente vai embora do meu quarto e me deixar em paz? — Onji perguntou, sentando ao lado dela e empurrando os pés da garota para fora da cama.

— Sim e não – respondeu, sem conseguir segurar um sorriso enorme, mostrando os caninos afiados.

Onji arqueou uma sobrancelha, tentando imaginar o que a irmã havia aprontado desta vez quando a porta se abriu novamente e a outra irmã sentou na cama, cruzando os pés e se espreguiçando.

— Vocês não têm quarto, não?

— Onji, seja sincera – Yue olhou em volta. A cama arrumada, as prateleiras de livros organizadas e a cômoda com cada um de seus pertences alinhados. — Se mal dá pra andar no meu quarto de tanta roupa no chão e a Keira vive num chiqueiro, em qual outro lugar da casa faríamos nossas incríveis reuniões de irmandade?

Onji torceu a boca.

— Na sala? Na cozinha? No pátio?

— Pra quê, pros nossos pais ouvirem tudo que a gente fala?

— Então desembucha, qual a incrível fofoca do dia?

Yue riu e Keira fingiu um esperneio em silêncio, sacudindo as pernas, ainda com o sorriso estampado na cara.

— Acabamos de falar com a mãe – Yue respondeu – e ela só vai deixar você ir pra Cerúlea se levar Keira com você.

— Ela não tem que deixar nada.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora