Capítulo 18

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Keira não estava no quarto quando Onji acordou. Ficou confusa por alguns instantes, sem saber onde estava até que a lembrança voltou com tudo e ela se deixou cair mais uma vez no travesseiro. A luz do sol entrava pelas janelas fechadas, anunciando que fazia um dia lindo lá fora.

Seu corpo inteiro doía e estava com fome, contudo, tinha zero disposição para descer e dar de cara com as faunas, Will e, principalmente, Leon.

Parecia que não tinha sorte mesmo e aquele relacionamento estava fadado a dar errado desde o primeiro instante. O que esperar de um namoro que havia começado com traumas, lágrimas e sexo por compaixão?

A barriga emitiu um ruído pavoroso de fome e Onji resmungou. O que todos estariam pensando dela? Com certeza a culpariam por destruir suas vidas e com razão. Torcia para que tudo não passasse de um engano, mas para acrescentar ainda mais certeza as suas dúvidas, ouviu a televisão ligada da sala. O volume estava alto o suficiente para ouvir sobre o ataque misterioso no festival e que testemunhas afirmavam ser obra dos Dragões.

Saiu da cama, fechando as cortinas com força. Iria levantar, mas não era obrigada a ver o sol. Penteou o cabelo, vestiu uma roupa simples, escovou os dentes e desceu as escadas, determinada a tirar a expressão de derrota do rosto.

Lara, Maeve e Keira estavam à mesa tomando café da manhã. Não estava tão atrasada assim, no fim das contas. Leon e Will conversavam na sala, mas não ousou olhar na direção deles. Conversavam se deveriam ou não envolver a guarda do distrito naquele assunto, como se alguém fosse acreditar que o Espelho de Obsidiana era verdadeiro.

— Como você está? – Lara perguntou. A médica parecia mais animada naquela manhã.

Onji sacudiu os ombros, incerta sobre o que dizer.

— Horrível – disse então.

Maeve fez algo que lembrava um sorriso.

— Se você dissesse que está bem, claramente estaria mentindo. Pelo menos sabemos que você não é uma sociopata.

— Eu não tenho nada a ver com Jia Li – esclareceu Onji, sentando ao lado da irmã.

Comeu em silêncio, sem disfarçar a fome que sentia e ficou em um dilema sobre o que fazer em seguida. Estava na casa de desconhecidas, sem poder se comunicar com a família. Leon provavelmente não iria mais querer olhar na cara dela, a irmã estava sob efeito de calmantes e Will a odiava. Para coroar o bolo com uma cereja, lembrou-se que não poderia mais participar do campeonato.

Subiu para o segundo andar, aborrecida, pegou um livro qualquer na prateleira da sala e voltou para o quarto. Sentou em uma das cadeiras na sacada e tentou ler, sem conseguir absorver nenhuma palavra do livro. Fechou os olhos e deixou o corpo absorver um pouco do calor, relaxando aos poucos e acalmando a tempestade mental que já estava deixando-a louca.

Ouviu uma batida na porta e ignorou, achando ser Keira. Alguém entrou no quarto e o parapeito de metal rangeu sobre o peso de alguém apoiando nele.

Abiu um olho.

Leon olhava para longe, inclinado para frente. O sol batia no rosto dele fazendo o cabelo ruivo brilhar. Sentiu-se a pessoa mais estúpida do mundo.

— A vista daqui é linda – disse ele.

Onji sorriu para si mesma. A vista dali era realmente magnífica.

— Como tá o seu braço? – ela perguntou. Teve que repetir a pergunta quando a voz saiu fraca, quase um sussurro.

Leon sentou do seu lado.

— Tá ótimo. Lara tem magia de cura.

Onji respondeu com um resmungo.

— Eu estava pensando – disse ela, e se deteve por alguns instantes. – Eu não tenho como reparar a situação, mas não preciso envolver você e Will mais ainda nessa história. Talvez eu devesse apenas voltar pra Kan e me esconder, não sei. De qualquer forma, já destruí demais a vida de vocês dois.

Onji sentiu um choque percorrer o corpo quando, para sua surpresa, duas mãos quentes seguraram as suas.

— E o que é que você quer fazer?

Ela piscou.

— Acho que a noite de ontem estabeleceu que eu não tenho que querer nada e preciso só fazer o que deve ser feito.

Ele sorriu, com ternura. Onji não entendeu muito bem.

— Isso não responde minha pergunta – disse ele, e repetiu. – O que você quer?

— O que eu quero?

Ele assentiu.

Onji recolheu as mãos e se levantou, apoiando os braços no parapeito. Podia ver um sítio dali, bem longe, em uma fazenda. A mata fechada cobria boa parte da vista e os enormes muros externos se projetavam por entre as árvores, imponentes.

O que queria?, pensou. Queria que tudo aquilo fosse um sonho. Queria poder acordar e seguir com sua vida. Mas nada disso era possível.

— O que eu quero... – ela começou e Leon ficou ao lado dela. Fingiu não perceber que ele a olhava no rosto. – O que eu quero é sair de Kan. Quero ter minha própria turma e ensinar meus próprios alunos ao invés de trabalhar na escola da vila. Quero poder entrar em um restaurante em uma cidade grande e ser tratada como uma cliente comum. Quero levar uma pessoa pra jantar com minha família sem que eles surtem por ele não ser humano. Quero que minha mãe pare de falar a cada cinco minutos sobre como Jia Li me pariu e foi uma heroína. Quero que tudo fique bem com Keira. Quero passar o resto dos meus dias com o babaca que eu gosto. Quero matar Wotan.

Olhou para baixo, fazendo esforço para não deixar lágrimas escorrerem e Leon a virou para o lado e puxou seu queixo com o dedo até que estivesse perto da boca dele.

— Então vamos fazer isso – ele disse baixinho.

Sentiu o hálito dele e não parou pra pensar. Passou os braços em seu pescoço e o beijou com força. Ele retribuiu, a puxando para cada vez mais perto, e quando não pôde se aproximar mais, a pegou no colo segurando em suas coxas.

Sem que seus rostos se desgrudassem, andou com Onji nos braços até a cama, caindo sobre ela. Se apressou para tirar a camiseta dele, beijando seus ombros e pescoço, agarrando as costas com força. As mãos dele passeavam por baixo de sua blusa e Onji, impaciente, tirou a própria roupa logo de uma vez, ficando por cima de Leon e fazendo o mesmo por ele, jogando as roupas no chão.

Inclinou-se sobre o corpo dele beijando o tronco e se apertando contra seu quadril enquanto Leon a segurava com força pela cintura.

O guiou para dentro de si com a mão e o beijou, sentindo a língua quente contra a sua. O corpo quente dele a fazia suar e a sensação familiar de seus corpos juntos a acalmava.

Era a primeira vez que conseguia pensar com clareza desde que viu as flechas voando em sua direção. Sabia exatamente como se sentia e o que queria e decidiu naquele momento que não deixaria ninguém tomar aquilo dela.

Leon a segurou com firmeza e a virou na cama, ficando por cima. Passou a mão pelo rosto de Onji e sorriu, sem se mover.

— Sabe – ele disse, baixinho – Eu não gosto tanto assim de amoras.

Onji o agarrou com as pernas e olhou bem fundo nos olhos dele.

— Não sabia que a gente tinha vindo pra uma reunião de bate-papo.

Só então percebeu do que ele falava. Primeiro ficou com dúvida, mas sorriu de volta.

— Você é um idiota, sabia disso?

Ele a beijou lentamente na boca e depois no pescoço se demorando enquanto acariciava a orelha dela com o nariz.

— Eu amo você, Onji Wang.

Onji puxou o rosto dele para vê-lo nos olhos. Suas testas se encostando. Perdeu a concentração com o movimento dele e soltou um murmúrio no lugar do que queria falar.

— Deu pra entender – disse ele, a erguendo pelo quadril.

E não se afastaram pelo resto da manhã.

O Dragão e a FênixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora