Capítulo 1

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Anos atrás
Rio de Janeiro
3:45 PM

Ananda.

Ananda: Pai? ta tudo bem ai? -disse descendo as escadas.- o que eles estão fazendo aqui de novo? eu fui lá hoje, dei todo o meu dinheiro a vocês, meu pai não esta mais devendo nada!

Perigo: Baixa a bola paty, aquela grana toda que tu levou não pagou nem metade do que teu coroa me deve. -cruzou os braços.

Nesses dois anos morando no Jacarezinho já era rotina, Perigo e BN entrando por aquela porta na maior agressividade, colocando dedo ou até mesmo a arma na cara do meu pai.

Foi foda me acostumar com isso. Sai do centro de São Paulo, nunca tinha nem colocado os pés em uma favela, mas depois da morte da minha mãe e ta minha avó naquele acidente tudo mudou.

BN: Perigo mano, tenho dia todo não caralho. Cansei disso já, esse coroa vai pagar porra nenhuma não.

César: Calma ai BN, eu vou pagar sim, só me dar mais alguns dias. Aquela grana que a Ananda te deu não dá pra segurar as pontas, não?

BN: Porra nenhuma rapaz, tem anos nessa onda, quero esse dinheiro hoje, agora! -gritou logo tirando a arma da cintura.

Ananda: Calma ai, quanto ele deve? Posso tentar dar um jeito -os meninos se olharam dando risada.

Perigo: Mais do que tu pode ter morena, vende essa casa aqui e não da a metade.

César: Ja sei. -disse meu pai levantando do sofá novamente.- Leva ela, é novinha faz 14 anos hoje, é um pouco lerdinha mais da pra fazer algumas coisas.

Ananda: Como é que é? -olhei pra ele incrédula.- Primeiro que eu estou completado 15 anos! Segundo... Você ta me vendendo pra pagar dívida? -senti as lagrimas descendo no meu rosto.

Naquele momento a raiva já estava começando a tomar meu corpo. Mesmo tendo sido abandonada pelo meu pai com 7 meses e atualmente não sentindo um amor de filha de verdade por ele, sempre tive uma consideração enorme.

Fiz de tudo pra esse inferno acabar, toda a grana que eu tinha guardada eu usei pra pagar as merdas que esse filho da puta faz.

BN: Vai tomar no cu, esse cara não vale a merda que come. Vendendo a filha pra pagar assumir dívida de droga, depois o sujo é nós que é bandido.

César: Pensa bem, ela pode ser bem... -antes mesmo terminar a frase fui pra cima dele.

Só no murro mesmo, sem pena, parei quando senti me puxarem pra trás logo me colocando contra a parede.

Ananda: Eu te odeio, seu filho da puta! quero que você se foda, entendeu? -as lagrimas tomaram conta e minha voz começou a fraquejar.- desgraçado, que você queime no inferno!

BN: Calma ae Ananda. -segurou meu braços.- a gente vai dar um jeito nele.

Ananda: Eu não quero ficar perto desse homem nunca mais, puta que pariu.

BN: Bora, vem comigo -olhou pro Perigo.- vou levar ela lá pra cima -ele assentiu.

Eu fui andando com o BN pelos becos daquela favela tontinha, chorando igual a criança, olha a situação que o meu próprio pai me colocou cara...

•••
Horas depois

Tinha algum tempo que eu e o BN tínhamos chegado nessa casa, pra ser sincera nunca tinha a visto, mas é bem bonita e super cheirosa puta que pariu.

Nós dois não trocamos nem olhar, ele estava no outro lado sala no celular. Eu tinha parado de chorar agora pouco, percebi que não adianta, tá ligado? o que for de acontecer será, só não vou abaixar a cabeça pra ninguém.

Sai dos meus pensamentos com a porta da casa abrindo, entrou uma mulher linda pra caralho, uma preta gatona.

BN: Finalmente, né caralho?

- Ta fazendo o que aqui? quem é essa?

BN: Essa é a Amanda -encarei ele.- Ananda eu acho, né? -assenti.- Não sei o que é pra fazer realmente com ela, mas preferi tirar ela de onde o Perigo tava.

- Iae nega. Prazer Laiane, pode me chamar de Lai.

Ananda: Como ele disse, Ananda -sorri e ela sentou do meu lado.

Lai: O que rolou?

Ananda: Resumindo, meu pai deve a boca, me fez dar até o último centavo que eu tinha, pra no final não valer nada a pena e ele ainda me oferecer como pagamento.

Lai: Como é que é? Me perdoe, mas seu "pai" -fez aspas com a mão- é um puta nojento

BN: Pois é mano, o cara ofereceu ela com sei lá qual intenção... -o interrompi.

Ananda: Como prostituta do Perigo!

Lai: Garota, você é de menor, né?

Ananda: fiz 15 anos hoje.

Lai: Meu pai do ceu, que horror!

BN: Enfim, o Perigo deve tá chegando ai, tô vazando.

Ele saiu e eu continuei ali sentada ao lado da Lai, ela me olhou por alguns segundos e logo desviou o olhar, deve ta pensando "ala a otária, fez de tudo pelo pai e hoje tá aí fodida".

Lai: Quer comer algo? -neguei com a cabeça.- fica assim não, tá?

Ananda: Tô tranquila nega, o que for pra rolar vai.

Lai: Você ta se segurando pra não chorar Nanda -sentou na minha frente.- se quiser pode falar, tô aqui pra te escutar.

Ananda: É que é foda, ta ligada? perdi minha mãe e minha avó no mesmo dia, em um acidente horrível. Sai de Sampa forçada pelo conselho tutelar, porque tinha que ficar com meu pai. Cheguei aqui, fazia de tudo por ele, até o dinheiro que eu guardava desde 8 anos para a faculdade eu dei para uma boca de fumo pra pagar coisas dele, entende? Eu só tenho 15 anos cara e ia ser ou fui vendida para um chefe de morro...

Lai: Olha nega, eu conheço o Perigo não é de hoje, tanto que sou casada com ele e posso te dar certeza que esse papo de ser vendida a ele não rola, ta ligada? não posso dizer a ti que ele não vou fazer nada ao seu pai, até porque uma coisa que eu aprendi aqui nessa favela é que certo é certo e o errado é cobrado, seu pai é vacilão, se ja estavam putos com ele pela dívida, depois que ele ofereceu você como pagamento ele ta mais fodido ainda!

Ananda: Eu quero que ele se foda, Laiane, que ele tome no cu dele! que queime no fogo do inferno. -as lágrimas voltaram a tona novamente.

Lai: Chora preta, pode chorar. Tô aqui contigo, tendeu? Pode contar comigo!

Mulher do PoderOnde as histórias ganham vida. Descobre agora