TRINTA E SETE

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No dia seguinte, quase perco o horário para o trabalho, graças a uma das melhores noites de sono que já tive em toda a minha vida. Sonhei com Thalles de novo, mas dessa vez com uma narrativa mais nítida. Imagine a sensação ao acordar e perceber que o sonho foi uma reprodução da noite anterior, um acontecimento real e não uma idealização da minha mente fértil...

Cantarolei mesmo tendo que terminar de calçar os sapatos no caminho.

Para minha surpresa, ao sair pela portaria, me deparo com um céu nublado e uma brisa gelada. Não preciso andar muito para que as primeiras gotas de chuva comecem a cair. Os planos de, após o expediente, passar o resto da tarde na praia com as minhas amigas, tomando sol, vai para o ralo.

Por conta do clima chuvoso, o movimento da loja de discos é desértico. Ficamos batendo papo entre os funcionários enquanto assistimos a chuva pelos vidros da entrada. É pela falta do que fazer que percebo que o meu quase atraso trouxe consequências: eu esqueci meu celular no apartamento.

As unhas arrumadas do dia anterior são totalmente destroçadas pelos meus dentes quando começo a imaginar se Thalles me mandou alguma mensagem. É claro que ele deve ter dito alguma coisa, tenho certeza de que a noite foi tão boa para mim quanto foi para ele. É impossível controlar a ansiedade de falar com ele quando minha mente não para de repassar o beijo nos mínimos detalhes.

Por conta disso, acabo tendo que ser chamada para o Planeta Terra pelos meus colegas o tempo todo, pega no flagra olhando para o nada, mordiscando o lábio inferior.

Depois do que me parece uma eternidade, o horário de ir para a casa enfim chega. A chuva já cessou, mas as nuvens e o vento se recusam a ir embora, formando o típico dia de verão que nenhum turista gosta. Vou para a casa num passo apertado, abraçando meu próprio corpo para tentar me esquentar. Geralmente vou embora banhada pela luz dourada do crepúsculo, mas dessa vez já está quase anoitecendo.

Quando chego em casa meu pai está preparando alguma guloseima na bancada de mármore. O cabelo dele está repleto de farinha de trigo.

— Você não vai acreditar o que estou fazendo — ele diz ao me ver, amassando a massa com os punhos fechados. Antes que eu possa responder ele desembucha: — Pão doce! A receita da sua mãe.

Meu estômago automaticamente ronca.

— Você é o melhor — beijo sua bochecha e saio correndo para o meu quarto.

O aparelho celular está sobre o edredom da cama. Mergulho de bruços para pegá-lo, meu coração disparado pela expectativa. Abro o aplicativo de mensagens e deslizo o dedo a procura do nome de Thalles.

— Não pode ser — sussurro ao constatar que não há uma mísera mensagem.

Não me permito ficar tão chateada, já que eu também não mandei nada, ele pode ter esperado que eu tomasse a iniciativa ou algo do tipo. Digito um "oi" com um emoji de sorriso e envio sem pensar duas vezes.

Fico alguns bons minutos encarando a tela do celular enquanto acabo com a unha do polegar. Quando a tela brilha e a música que anuncia uma ligação começa a tocar, tenho um indício de infarto. Exalo todo o ar quando vejo que se trata de Bianca.

— Alô — atendo, tentando não soar decepcionada.

— Vamos sair: eu, você e Glorinha. Vai ter um luau na praia hoje, com fogueira e tudo. A galera não pode ver uma queda de temperatura, não é?

Ela dá uma risada anasalada e espera pela minha resposta, mas tudo que consigo fazer é suspirar.

— Elay? O que foi?

Você Acredita em Humanos?Where stories live. Discover now