NOVE

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Dessa vez não permito que minha mãe palpite na roupa que usarei na festa, se é para ter que passar por algo que não vou me sentir confortável, que seja usando uma das minhas roupas de costume.

Tento não permitir que o mal humor me atinja como no dia do meu aniversário, mesmo que um sentimento esquisito borbulhe dentro de mim. Se Elay vai a essa festa é porque não está mais evitando Samuel, mas tento me lembrar que não tenho que sentir ciúmes. Se eu me focar nas minhas repreensões mentais, talvez passe a acreditar que nada mudou.

Coloco uma calça xadrez e uma camiseta do Joy Division que ganhei de aniversário da minha mãe – que sabia muito bem que eu usaria até virar trapo. Apesar do olhar de reprovação dos meus pais, sei que ninguém vai se importar a ponto de me perturbar, deixo esse crédito para os adultos.

Quando encontro com Elay sou nocauteado pela sua beleza, ela está deslumbrante e manter a naturalidade perto dela é uma tarefa quase impossível.

― Minha mãe e suas artes ― diz, dando uma voltinha para que eu cheque seu visual. Ela está com o cabelo trançado e usa um vestido preto que brilha, até usa maquiagem, coisa que raramente se dá o trabalho. ― Está bom?

Faço que sim com a cabeça, com medo de que as palavras me entreguem. Estou parado no hall da entrada de sua casa, esperando o senhor Gael tirar o carro da garagem para nos levarmos. Dona Jussara admira a filha ao meu lado, como se ela fosse uma obra de arte, o que de fato é.

― Boa festa, queridos! ― ela beija meu rosto e o rosto da filha, com os olhos cheios de lágrimas. Ela não é nada emocional como minha mãe, que vive chorando por coisas bobas, por isso acho a cena engraçada.

Caminhando para o carro, Elay cochicha que a mãe está uma manteiga derretida nesses últimos dias e que suspeita que ela tenha sido abduzida. Dou uma risada tensa e me sinto muito idiota, porque é claro que ela está brincando. Acreditar em alienígenas para ela ficou na infância.

No caminho, começo a suar. Mesmo que esteja bastante quente, sei que é mais pelo nervosismo. Ir a festas é o mesmo que encarar a Queda da Mariposa: apavorante.

Samuel está dando uma festa porque simplesmente pode e eu sei que se não fosse por Elay eu nunca frequentaria uma. Meus tios o obrigam a fazer o convite toda vez, mesmo que eu sempre recuse. Por isso, quando vejo a surpresa no seu rosto ao me ver, sinto uma satisfação esquisita e o nervosismo some por um momento.

― É um milagre! ― ele diz, tentando fazer graça e me cumprimentando com um aperto de mão.

A casa dos meus tios é enorme e está relativamente cheia, em sua maioria por jovens. Eles são donos de uma rede de restaurantes bastante popular, que rendem uma boa grana. Samuel, por ser filho único, é banhado de privilégios, podendo dar festas do tipo sempre que quer.

― Você é a mais linda da festa ― Samuel diz ao cumprimentar Elay com um beijo nas costas da mão. Percebo que ele ainda está tentando conquistá-la e tento não me preocupar se ela vai ceder.

Seguimos meu primo por entre as pessoas, até um canto perto da piscina onde há alguns pufes ocupados pela galera de sempre. Todos eles já consumiram uma boa quantidade de cerveja e estão rindo à toa, acho que nunca vi Gabriel tão feliz na vida.

― Ei, guardei um lugar pra você! ― Maia diz apontando sua unha esmaltada de rosa na minha direção, então ela empurra Luan do pufe ao seu lado.

Como o garoto não parece se importar por agora se sentar no chão, já que está rindo muito, me sento no pufe esvaziado. Maia está um pouco alterada pela bebida, virando latinhas de cerveja com bastante rapidez. Ela me entrega uma e acabo aceitando. É a primeira vez que bebo cerveja e, apesar de ser amarga, depois de alguns goles acabo me acostumando com o sabor.

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