TRINTA E TRÊS

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É meu dia de folga e resolvo aproveitar cada segundo do meu tempo livre. Acordo cedo e faço a corrida matinal, correndo um quilômetro a mais do que de costume. Quando chego em casa pingando suor, o cansaço é imperceptível diante da adrenalina. Estou tão animada que poderia percorrer todo o caminho novamente.

Mais tarde, me arrumo para ir até a casa de Bianca. Combinamos de passar o dia juntas, porque segundo ela precisamos aproveitar ao máximo o tempo que me resta na cidade. Esse pensamento me causa calafrios, portanto tento ignorar.

Caminho quase saltitante até a residência de Bianca, que não fica muito longe da minha antiga casa. Faço o percurso mais longo apenas para evitar confrontar mais memórias, mesmo assim chego rápido.

Minha cabeça está reproduzindo constantemente a conversa que eu tive com Thalles no dia anterior, meu coração pareceu duplicar de tamanho desde então. Não consigo parar de pensar em como tive a impressão de que ele era o mesmo garoto de anos atrás e isso mexeu comigo de uma forma avassaladora.

Não cheguei a imaginar que poderíamos um dia passar nosso aniversário juntos de novo. O convite dele me deixou mais empolgada do que sou capaz de confessar. E, de uma hora para outra, as expectativas voltaram a consumir meu peito, quase me concedendo asas.

Meus músculos faciais estão doloridos pela persistência de sorrisos bobos desde que Thalles saiu do meu campo de visão.

Presa em pensamentos, acabo tropeçando no meio-fio bem em frente a casa de Bianca. Giro a cabeça de imediato para todos os lados, a busca de possíveis testemunhas da minha vergonha, é então que meus olhos se fixam em Maia.

Ela está segurando o portão de ferro da casa de Bianca, me observando como se eu fosse um alienígena. Mesmo com a expressão de espanto, sua beleza estonteante permanece intacta. Ela está congelada na ação de sair do quintal para a calçada, um pé para dentro e o outro para fora. Leva um tempo para que minha mente associe a bizarrice da imagem: Maia saindo da casa da minha amiga, até onde sei elas não possuem qualquer afinidade.

Limpo minha calça como se meu tombo houvesse sido concretizado, apenas para ter o que fazer. Isso acaba despertando Maia, que puxa o outro pé para fora.

― Oi! ― ela diz, num tom agudo, bem diferente da calma natural.

― Oi! ― dou um aceno sem jeito, examinando meus tênis. Não estou preocupada com o estado deles, mas estou com o fato de dar de cara com a ex-namorada de Thalles.

Não sei a razão para o término, mas sinto como se eu tivesse culpa de alguma forma e eu odeio essa sensação.

― Bianca está? ― pergunto, mesmo que eu já saiba a resposta.

― Está.

Percebo que ela está segurando o portão para mim e isso me deixa mais surpresa do que encontrá-la justamente aqui. Não acho que Maia faça o tipo de briguenta, mas um gesto gentil é tudo o que eu menos esperava.

Me aproximo lentamente e seguro o portão. Ela se afasta um pouco, mas não parece disposta a ir embora. Por um momento vejo mágoa no seu olhar, mas o vislumbre desaparece com uma batida de cílios. Ela dá um pequeno sorriso e coloca o cabelo atrás da orelha.

― Eu terminei com Thalles ― as palavras saem da sua boca com a casualidade de um "bom dia".

Um arrepio percorre pela minha coluna. Tento captar uma expressão ameaçadora no seu rosto, mas tudo o que vejo se limita a bochechas coradas.

Você Acredita em Humanos?Where stories live. Discover now