TRINTA E DOIS

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Acordo no dia seguinte já pensando em Thalles. Sonhei com ele e, mesmo que não me lembre exatamente como foi, sei que esteve presente na minha mente a noite toda.

            Não consigo deixar de pensar que Maia, segundo Bianca, terminou com ele. Não é da minha conta, mas gostaria muito de saber a razão. Acabo entrando num looping de teorias que me importunam sem parar, mesmo quando faço coisas que normalmente ocupariam minha cabeça, como trabalhar.

            Organizo as prateleiras da Rabisco & Disco e atendo clientes, mas sempre absorta. Nem mesmo o papo com os outros funcionários me ajuda a por fim nas ideias. Nem mesmo quando Samuel finge interesse em comprar mais discos, apenas para me ver.

            ― Que tal irmos ao clube mais tarde? ― ele sugere, analisando a capa de um disco do Pink Floyd.

            Acabei voltando a sair com Samuel, mesmo depois de eu ter surtado e largado ele no La Bamba. Nem precisei pedir desculpas, ele está mesmo convicto a me conquistar, diz que sou um enigma que ele adoraria resolver. Se seu convite houvesse sido feito antes de eu ficar sabendo sobre o término de Thalles, teria aceitado sem hesitar, mas agora...

            ― Estou um pouco cansada ― respondo, evitando seu olhar. 

            ― Um sorvete mais tarde, então? ― o ânimo na sua voz é quase palpável e me deixa com um sentimento esmagador de culpa.

            ― Pode ser amanhã? ― sugiro, mordendo o lábio inferior.

            Samuel murcha como um balão.

            ― Claro ― ele devolve o disco para a prateleira e bota as mãos nos bolsos da calça. ― Eu só... estou com saudade de... te beijar.

            A voz sussurrada me causa um arrepio no corpo todo, mas não consigo distinguir se o sentimento é positivo ou não. Na noite retrasada, no bar Valentino, acabamos nos beijando de novo e dessa vez sem surtos da minha parte. Me senti viva como há muito tempo não me sentia e aproveitei cada segundo. Mas agora que Thalles não sai da minha cabeça, não consigo me sentir da mesma forma.

            E eu me odeio por isso.

            Obrigo os cantos da minha boca a subirem, torcendo para que Samuel não perceba a falsidade do ato.

            ― Amanhã falamos sobre isso, que tal?

            A expressão do seu rosto endurece um pouco, mas ele aquiesce.

            Nos despedimos com um beijinho no rosto e quando por fim me vejo sozinha, inspiro o ar devagar, buscando controle emocional.

            O resto do expediente passa da mesma maneira, o que dificulta a passagem do tempo. Quando o relógio enfim bate às cinco horas, sinto como se tivesse se passado dias. Estou tão cansada que poderia dormir o que ainda sobrou do verão.

            Me arrasto para o apartamento bocejando a cada segundo, mas quando chego no hall e vejo que tem alguém me esperando, desperto como se tivesse sido banhada com água gelada.

            Lá está Thalles, andando de um lado para o outro quase causando um dano grave no piso. Cada partícula do meu corpo congela e quando ele me nota sinto que posso quebrar. Ele está usando uma camiseta branca do Radiohead, uma calça jeans e a típica camisa xadrez amarrada ao redor da cintura. O calor se intensifica tanto que minhas mãos começam a suar instantaneamente.

            Thalles fica paralisado por um tempo também, mas por fim acaba vindo na minha direção. Ele se aproxima o suficiente para que eu tenha que inclinar a cabeça para trás para conseguir ver seu rosto.

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