VINTE E SETE

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No dia seguinte, decido fazer o que já deveria ter feito há muito tempo: conversar com Maia

Me obrigo primeiro a ir ao treino, mesmo que minha cabeça não esteja focada em nenhum dos exercícios. Levo algumas broncas do treinador Bill e ameaças de que nunca mais usarei a faixa de capitão. Eu sinceramente não me importo, só consigo pensar no que dizer para Maia.

Quero que ela me perdoe, mas tenho medo do que pode acabar surgindo dessa conversa. Eu fui apaixonado por ela, mesmo que nosso relacionamento tenha surgido de uma maneira pouco convencional: eu estava tentando superar Elay e Maia sabia disso.

Qualquer pessoa que seja no mínimo decente sabe que não é uma situação justa de se engatar um namoro, mas por incrível que pareça as coisas deram certo. Maia sempre foi incrível, passar esses anos com ela foi uma dádiva. Apesar da óbvia atração, ela sempre foi interessante, nos dávamos bem na convivência, mas também na química. O equilíbrio perfeito.

Claro que tivemos nossos impasses, não só pela falta de comunicação. Somos muito diferentes, mesmo que eu tenha mudado e me adaptado a um mundo mais próximo que o dela. Porém, isso nunca foi motivo para que ficássemos nos evitando como agora.

Assim que tomo uma ducha depois do treino, ao invés de seguir para a casa de Cadu como os outros, vou atrás de Maia. Batuco no volante o caminho todo até sua casa, com os pensamentos a mil. Tento me focar no quanto ela é importante para mim, nos dias incríveis que passamos lado a lado, mas minha mente me sabota com pensamentos negativos.

Encosto o carro na entrada da propriedade em poucos minutos, mas demoro a tomar a iniciativa de descer. Respiro calmamente algumas vezes e repasso diálogos mentais antes de criar coragem.

Sou recepcionado pela diarista, que já está acostumada com minhas visitas sem avisar. Subo para o quarto de Maia com relutância, parece que minhas pernas pesam toneladas, mas não hesito ao bater na porta, não quero correr o risco de desistir.

Ela não esboça qualquer surpresa ao me ver prostrado na soleira, como se esperasse que eu fosse aparecer a qualquer momento.

― Você está me evitando ― murmuro, olhando para os pés.

― Então você notou ― sua voz é ácida e me causa queimação.

Ela cruza os braços e crio coragem para olhar nos seus olhos: ela está magoada. Maia é uma pessoa de muitas emoções, sei que não está sendo nada fácil ter que lidar com minha imbecilidade.

― Desculpa ― peço, pela milésima vez, mas dessa vez pessoalmente, tendo a visão da sua expressão de escárnio. ― Eu vim atrás de você, mas você já estava dormindo. Não achei que fosse ficar tão chateada.

Estou complicando as coisas, porque é mais fácil fingir que esse é o problema, mesmo que me deixe sendo ainda mais babaca.

― Você não pode estar falando sério ― ela gira nos calcanhares e adentra o quarto, se sentando na enorme cama centralizada no cômodo. ― Você sabe que não se trata disso.

Eu sei, mas não confesso. Entro no quarto e a observo com o coração na mão. Maia tem um dom decorativo impressionante, seu quarto mais parece uma mansão. Sempre invejei o fato de ela saber que carreira seguir desde muito pequena: arquitetura. Eu tenho evitado pensar que em menos de um mês começarei a faculdade de direito, porque sei que se isso acontecer poderei desistir.

― Do que se trata então? ― pergunto, me fazendo de desentendido.

O rosto de Maia fica vermelho e eu dou alguns passos para trás. Antes que ela possa começar a atirar coisas em mim, acrescento:

Você Acredita em Humanos?Where stories live. Discover now