CINCO

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            Odeio como em todos os meus aniversários eu tenho os ânimos a flor da pele. Me sinto estranhamente especial e fico chateado quando percebo que estou mais próximo da vida adulta. É um paradoxo: querer saber como é ser mais velho, mas temer ao mesmo tempo.

            Mas esse aniversário é diferente, porque as preocupações que me assolam não estão exatamente destacadas em mim.

            Na virada do meu aniversário, passo sozinho trancado em meu quarto, finalizando o desenho de Elay. Tenho a impressão de que ele pode salvá-la, mesmo que no fundo saiba que isso não é verdade.

            Exatamente um ano atrás estaríamos juntos agora, devorando um bolo de chocolate e rindo de coisas banais. O sentimento de perda me invade hoje mais que nunca.

            Quando desperto pela manhã, minha cabeça está doendo intensamente, quase como se eu tivesse uma ressaca de sentimentos ruins. Fico um tempo encarando o teto, que gira como se quisesse me hipnotizar. E funciona, até que sou despertado pela invasão da minha mãe.

            ― Bom dia, aniversariante! ― ela entra carregando uma bandeja de café da manhã. Reconheço o pão de queijo e a torta de limão da padaria da esquina.

            Quando me sento com as costas apoiadas na cabeceira, minha visão escurece e não consigo conter a careta.

            ― O que foi?

            ― Só uma leve dor de cabeça, presente do destino ― digo, tentando amenizar com um sorriso, mesmo que não esteja nenhum pouco humorado.

            Minha mãe coloca a bandeja na mesa de cabeceira e se senta ao meu lado, checando se estou com febre com as costas da mão pressionada na minha testa. Apesar de toda a maluquice, sei que se importa muito comigo, o que me deixa de coração na mão. Ela não merece sofrer...

            ― Está sem febre, esse presente fica pra próxima ― ela acaricia meus cabelos e então se levanta, me entregando a bandeja com o café da manhã. ― Coma, vai precisar de energia pro dia de hoje, afinal, uma festa te aguarda.

            Estou sem fome, mas não quero que ela perceba, então abocanho um pedaço da torta para lhe deixar mais tranquila.

            ― Elay ligou uma quinhentas vezes atrás de você, acho que ela mal dormiu.

            Dou de ombros, nada surpreso. Acho que minha mãe percebe que estou chateado, porque diz:

            ― Não se prive de experiências novas, vai ser legal.

            Dou de ombros mais uma vez. Ela sorri amarelo.

            ― Vou buscar a aspirina.

            ― Vou buscar a aspirina

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