04 | lembranças

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"Vá em frente e chore, garotinha
Ninguém faz isso como você
Eu sei o quanto isso importa para você
Eu sei que você tem problemas com seu pai"
Daddy Issues — The Neghbourhood.

Há 10 anos atrás...

Era o grande dia esperado por Talisa e a felicidade dela poderia ser vista de longe. O sorriso faltando alguns dentes da garota reluziam por quem passasse por ela na rua e a garotinha de cabelos castanhos escuros e olhos mais castanhos quanto observava o movimento dos carros enquanto estava no carro da sua mãe se dirigindo até a casa deles.

Por mais que ela odiasse voltar para casa hoje era seu aniversário e ela achava que nada no mundo poderia estragar a felicidade que ela sentia no momento. Seu peito estava vagarosamente feliz e suas bochechas rosadas a deixavam com um semblante fofo e amoroso por quem a visse pela janela do carro, a qual so aparecia de seus lábios para cima pelo tamanho pequeno dela.

Ela não sabia o porquê de sua mãe não estar feliz comemorando o seu aniversário junto com ela. Quando elas chegaram em casa e adentraram a porta de madeira da casa simples, Talisa sentiu um arrepio de medo percorrer pelo seu corpo vendo seu pai sentado sobre o sofá da sala com uma de suas garrafas de bebidas, que a garota inocentemente achava que era apenas refrigerante.

Sua mãe não falou uma palavra sequer na ida e nem na volta, e muito menos falara algo agora. Ela observou sua mãe ir até a cozinha, pegando uma panela e começando a preparar a janta, mas a garota ainda estava perplexa sobre o mesmo lugar de quando entrou.

Ela esperava que os seus pais a dessem parabéns, mesmo eles sendo rudes com ela todos os dias a garota esperava que ao menos no seu aniversário de sete anos ela pudesse receber um por cento de carinho que não ganhou desde que nasceu, mas a pobre garota na qual o coração agora parecia estar despedaçado apenas viu aquilo como um sinal de que eles não a amavam.

Seus olhos castanhos caíram para o chão então em passos largos ela se dispôs a correr para seu quarto, fechando a porta de madeira delicadamente já que a última vez em que bateu ela com um pouco mais de força, ela levou cintadas em sua bunda por tamanha grosseria.

A garotinha pequena sentou-se na cama, obrigando seu corpo a se encolher e abraça-lo. Ela estava sozinha, como sempre esteve.

Foi o que ela pensou. Ela se sentia burra por alguma vez imaginar uma reação diferente dos seus pais, pensar que talvez eles possam comemorar com ela igual uma família normal e sem brigas, pela primeira vez.

Não demorou muito para que os gritos fossem ouvidos do quarto da garota, novamente sua mãe e seu pai brigavam e ela tinha medo quando isso acontecia. Ela era a única criança naquela casa e também a única em que eles descontavam toda a frustração quando ambos brigavam e ela já esperava para o pior acontecer.

Ela era pequena demais para tudo isso e sua mente não entendia o porquê ela tinha culpa das brigas causadas por eles dois, porque no final era sempre a garota que sofria na mão deles e ela não se conformava com isso.

Ela achava a maneira que seu pai passava a mão nela como forma de carinho, até aquele carinho doer, até machucá-la. Da primeira vez a diante ela ficou com medo do seu pai, medo de que talvez ele fizesse aquilo novamente.

Logo após aquilo, ela arrumava maneiras de fazer tudo correto para não acabar tomando uma surra do seu pai por desobedecê-lo.

— sua vadia — um som de tapa ecoou pela casa, e seu pequeno corpo se elevou com o susto que sentiu por ouvir aquilo.

Novamente o silêncio embaçou a sala, e ela respirava fundo para manter suas lágrimas ainda em seus olhos e não deixar nenhuma delas sair já que se seu pai visse a garota chorando, faria ela chorar ainda mais.

O sons de passos no corredor fez o coração pequena de Talisa se apertar e ela correr para longe da porta, se pondo embaixo dos cobertores grossos que cobriam todo seu corpo até o pescoço. Quando a porta foi aberta, os olhos dela se fecharam tentando indicar que ela estava dormindo.

Seu pai entrou, ela sentiu ele perto da cama a observando e quando ela pensou que o pior aconteceria, ele se afastou novamente seguindo porta a fora e a fechando, não se importando de que talvez o ruído fizesse a garotinha acordar com um susto.

Ela soltou um suspiro de alívio e ficou na mesma posição a noite inteira, com medo de que seu pai entrasse e visse que havia mudado de posição. Ela pensou em muitas coisas aquela noite, se questionou diversas vezes porque aquilo seria sua culpa se ela nunca estava envolvida na briga dos seus pais.

Ela era muito nova para entender que nada daquilo foi sua culpa, de que a irresponsabilidade de seus pais e a grosseria deles nunca foi sua culpa e sim deles. O mal caráter deles foi o que arruinou uma família que poderia ser perfeita, se não fosse pelas coisas horríveis que fazem a garotinha de apenas sete anos passar.

Nada daquilo era culpa dela, agora restava apenas Talisa descobrir sozinha. E ela conseguirá.

DAMIENOnde as histórias ganham vida. Descobre agora