22 | Ariella

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"Não me chame de egoísta, eu odeio compartilhar
Este 60/40 não está funcionando
Eu quero 100 do seu tempo, você é meu. "

NEW MAGIC WAND — Tyler, The Creator

Passar tanto tempo aqui com humanos me faz criar manias idiotas, como dormir

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Passar tanto tempo aqui com humanos me faz criar manias idiotas, como dormir. Onde eu vivia, jamais dormia e ficava o dia inteiro observando Talisa, mas agora eu sinto sono a cada hora do dia, merda de corpo humano fraco e frágil.

Passei meus olhos pela escola, cheia de alunos irritantes e garotas idiotas que acham que algum dia vou ligar para a existência delas. Eu sempre fui "popular" mesmo nem querendo esse cargo, humanos são uma perda de tempo tirando a minha garotinha, que estava do outro lado conversando com Enora.

Não sei exatamente o dia em que vim, faz anos e anos, mas quando conheci Talisa eu lembro de cada detalhe do dia.

Esse mundo é um nojo,

Passo por um homem deitado no chão em frente a uma loja, Enora estava ao meu lado enquanto caminhávamos pela rua atrás do meu querido irmão Gabriel, que tivera fugido do inferno pelo seu tédio enorme, uma bobagem vinda dele porque no final das contas esse mundo era pior.

Eu observava cada rosto atrás de uma emoção, mas nada aqui indicava o cheiro dele.

Eu respirei fundo e no mesmo instante um cheiro doce de flor atingiu minhas narinas e eu me virei para observar o parque ao nosso lado. Muitos humanos pequenos estava lá, inclusive uma garotinha de cabelos marrons e olhos castanhos claros, quase como a cor de mel.

Ela estava sentado no banco cabisbaixa, as pernas balançando e seu olhar longe ao lado de um velho barrigudo. Minhas sobrancelhas se juntaram e meus passos finalizaram. Observei a garota e o velho inúmeras vezes, o sentimento de medo se espalhava por todo o corpo pequeno dela e eu sabia exatamente o porquê daquele sentimento.

— Damien, vem ou não? — Enora murmuro de uma distância favorável e eu apenas fiz um aceno para que ela continuasse a procura.

Eu fiquei observando a garota por um bom tempo sentindo o medo dela, a repreensão e as batidas cardíacas aumentando a cada toque do velho imundo sentado ao seu lado.

ei Damien, precisamos conversar — Enora murmura quando abro a porta da mansão onde eu e ele morávamos.

— sobre o que?

— o inferno — ela pronuncia o nome meio atordoada e eu levanto minha sobrancelha para ela.

— o que tem lá? Você sabe que eu não vou voltar.

— sua irmã, Ariella está morrendo.

Por uma fração de segundos sinto o meu coração humano parar. Ariella sempre foi a caçula, diferente de Enora ela era minha irmã de sangue, minha irmã verdadeira.

Eu me sento sobre a bancada pegando o seu copo de uísque e virando ele sobre meus lábios, a ardência da minha garganta não fez nem cócegas. Eu olhei para a loira, as suas mãos trêmulas e o medo dela parecia contaminar a sala, igualmente como o meu.

Eu não sinto medo com frequência.

Eu sinto medo raras vezes e muitas delas são quando Talisa, Ariella e Enora estão em perigo, são as únicas que me preocupo, aqui e no inferno.

— o que ela tem?

— em uma das batalhas ela foi apunhalada pelas costas — eu apertei os dedos entorno do balcão.

— porra, eu posso correr o risco de nunca mais voltar para cá Enora, mas eu não posso escolher entre Talisa e ela, não posso. Se eu ficar longe por muito tempo, as coisas podem piorar pra Talisa e você sabe muito bem que não posso vê-la machucada de novo.

— mas é da sua irmã que estamos falando, você sabe que eu e você vamos arrumar algum jeito de vir novamente, mesmo que para isso temos que quebrar as regras lá de baixo.

— se algo acontecer com Talisa aqui, o que acontece? Se aquela mãe idiota dela arrumar problemas, ela não vai ter pra quem ir.

— eu sei mas nós vamos dar um jeito.

Ela me puxa para um abraço, mas eu não devolvo. Eu não gosto de contato físico, odeio pra falar a verdade. Eu sempre odiei desde pequeno alguém tocar em mim, ficar perto, ou algo assim.

Menos com Talisa, ela sempre é uma exceção.

Mas agora vou ter que ficar longe dela, e Deus ajude a quem encostar nela enquanto não estou aqui, porque se eu voltar e eu a vê-la machucada, as coisas vão piorar e eu vou me certificar disso.

— quando vamos ir?

— agora, tem que ser hoje — ela murmura, eu aceno com a cabeça e a vejo saindo.

Pego um cigarro do meu bolso, acendendo ele e vendo o fogo queimar a ponta. Eu dou uma tragada, jogando a fumaça para longe e tentando ajeitar os meus pensamentos e os organizar, minha cabeça sempre é um caos, agora está ainda mais.

Pego o celular do bolso, um objeto que demorei anos para aprender a mexer, coisa irritante.

Damien: onde você está?

Talisa: em casa, descansando.

Damien: não vai para o bar hoje, Talisa.

Talisa: o quê? Você está brincando?

Garota teimosa e irritante.

Damien: falo sério.

Eu não estaria aqui, queria certificar-me de que ela não iria para aquela jaula de leão enquanto não estava aqui, pelo menos esta noite que não estarei aqui, amanhã arrumaria um jeito de voltar.

Eu não respondi as próximas mensagens dela, eu torcia para que ela não fosse naquela merda hoje e me escutasse.

...

DAMIENOnde as histórias ganham vida. Descobre agora