24 | inferno

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"Sangue nos meus olhos fazem ser difícil de enxergar isso"

Angels - Chase Atlantic

Observava os detalhes pequenos daqui, tudo parecia um caos perfeito, exatamente como o inferno deveria ser

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Observava os detalhes pequenos daqui, tudo parecia um caos perfeito, exatamente como o inferno deveria ser. Os gritos e choros das pessoas ecoavam em cada canto da rua e eu ao menos olhava para o lado, não me importando com o que merda estava acontecendo.

Estando aqui, rodeado de escuridão e caos, cercado de ruas cinzentas e sem vida vejo o quanto acostumado com a vida humana estava. Aqui parece um deserto, sem vida, o que definitivamente não tinha, apenas almas podres e imundas sujando o chão desse mundo. Eu rolo meus olhos para cima, querendo sair daqui e ir para o mundo humano, não porque simpatizo, mas sim porque tenho coisas para cuidar lá.

— acostumado demais com a vida humana e patética? — ouço a voz estridente de Gabriel falar e me viro, dando um sorriso irônico na sua direção.

Os cabelos ruivos ainda tinham cachos, seu rosto continuava o mesmo e apesar do tempo, o maldito sorriso idiota ainda se fazia presente nas suas feições. Enora solta um suspiro de raiva ao meu lado e joga seu cabelo loiro para trás do ombro.

— acho que não foi isso que achou quando tivemos que ir buscar você lá, querido — ela murmurou, suas palavras saindo como veneno de sua boca.

— sempre a mesma não é?

— agora vamos para o que realmente me interessa — eu atrapalho a discussão idiota que iria se prolongar, me aproximando de Gabriel — onde Ariella está? E como caralhos ela pode morrer?

— a arma que foi usada contra ela era uma das únicas que podem exterminar nós todos — ergo a sobrancelha, para que ele continue falando — e não estamos achando cura para isso.

— e o porque estou aqui?

— Ariella quer falar com você pela última vez — eu solto um suspiro, deixando que a feição rude se esvaísse do meu rosto, transformando em uma neutra.

— o que acontecerá com ela? aqui é o inferno, ela não pode simplesmente ir para o inferno dois — Enora fala ironicamente, fazendo um sorriso curto se estender pelo rosto de Gabriel.

— ela vai sumir — eu engoli em seco, apertando a mandíbula enquanto o silêncio permaneceu no ambiente, tirando os gritos angustiados das pessoas.

— mas que inferno — Enora murmurou, logo revirando os olhos — literalmente.

Não fui criado para sentir afeição por alguém, e muito menos ter empatia, mas essa merda começou a aparecer depois de anos vivendo no mundo onde pessoas dramáticas são a maioria. Eu odiava sentir tristeza, odiava me importar com os outros porque para mim essa merda era uma fraqueza, até a merda da Talisa aparecer.

Foi a minha decaída como o demônio que fui criado para ser, um que não sente dor, não sente tristeza e muito menos tem empatia pelas pessoas, mas quando colidi com Talisa, essa porra toda nunca mais fez sentido. Eu odiava me importar com ela, estar preso naquele mundo apenas para vigiar ela, mas mesmo que na época queria ter ficado na escuridão vigiando ela, a merda egoísta que eu era teve que arranjar algum jeito de fazer aquela garota ser minha.

Eu odiava me sentir assim agora, me importando tanto com Ariella que meu coração - o qual eu nem sabia que batia ainda - doeu.

— eu vou levar você até ela — Gabriel murmurou, sumindo em seguida.

Eu segui ele, em um movimento estava dentro de uma sala obscura, cheia de poeira e aranhas presas em teias em cima da parede. O lugar empoeirado continha algumas janelas onde a luz fraca entrava e iluminava o quarto, e logo a frente uma cama.

Onde Ariella estava deitada.

— v-você veio — sua voz saiu fraca e rouca, a voz de alguém que está deixando esse "mundo".

— Ariella quem fez isso? — eu apertei as mãos entorno da cama, me pondo em seu lado e retirando os cabelos castanhos escuros de frente dos seus olhos.

— eu não lembro, foi tudo... tão rápido — ela segurou minha mão enquanto estava passando o seu cabelo para trás da orelha — eu estive observando Talisa, é essa humana da qual você gosta tanto?

— o quê? Era você?

— sim, eu não queria a assustar, apenas ver como ela era — eu retirei minhas mãos do seu toque, vendo os olhos dela se fecharem em um sorriso fraco — você tem que proteger ela, aquele mundo é horrível.

— não estamos aqui para falar de Talisa Ari, estou aqui para falar com você.

— não tem muita coisa da qual possa fazer agora — uma lágrima grossa escorreu de seus olhos, descendo entre sua pele pálida e branca — eu queria me despedir de você, Damien. Eu sei que você não foi feito para ser emocional, mas eu quero que me ouça, ok?

Eu confirmei com a cabeça e ela se encostou na cama, sentando-se e escorando suas costas na cabeceira.

— eu quero falar sobre a Talisa — ela soltou um suspiro forte — proteja ela Damien, quando estava observando ela e sua família, a mãe dela se meteu com um homem rico, dono de uma empresa grande. Ele é horrível, observei ele por algum tempo, parece ser uma boa pessoa na mídia mas fora dela é um homem nojento. Eu queria me despedir de você falando isso, porque não quero que abaixe a guarda e em um momento descuidado a deixe sozinha, igual agora.

— o que você está falando? — eu me levantei da cama, meu rosto se fechou e meus punhos agora estão fechados.

— cuide dela, ok? Ela foi a única a não se assustar com um demônio a observando a noite — ela solta uma risada fraca — e se cuide, eu te amo, Damien, você sempre será meu irmãozinho.

Eu observei ela naquele momento, a dor no peito se tornou ainda pior mas nada do que eu queria falar saía, parecia preso em minha garganta e a minha resposta foi o silêncio.

Eu sempre senti esse bloqueio, sempre que queria falar algo e expor as coisas que sentia - tirando raiva e nojo - eu travava e ficava quieto, apenas deixando que o silêncio vencesse na maioria dos casos.

DAMIENOnde as histórias ganham vida. Descobre agora