Edmundo estava de volta ao escritório. O expediente já acabando. Quase todo mundo tinha ido embora. Finalmente podia saborear em paz o que deveria ter sido seu almoço.
Abriu a marmita e aspirou o perfume: picadinho de fígado com goiaba, salpicado com queijo ralado! Para sexta-feira ele costumava deixar aquilo que achava o melhor cardápio da semana.
- Meu, isso é o máximo! - pensou em voz alta.
Preparou uma boa garfada, mas parou. Quinze para as seis. Já podia ir embora. Chegando em casa ia ter de fazer a janta para o pai.
Mas acabou concluindo que nunca era demais fazer uma boquinha. Preparou-se para degustar uma boa garfada, quando alguém exclamou:
- Que bom que você ainda não foi para casa, Edmundo!
Era Plínio, o sobrinho do patrão. Tinha cargo de supervisor dos boys. Só que Edmundo era o único boy da firma.
- Titio, quer dizer, doutor Ignácio precisa desses contratos. Ainda hoje, sem falta.
- Quer que eu leve até a sala dele?
- Titio já foi embora. Teve de ir mais cedo pra casa. É aniversário do Eugênio.
- E tem festa?- Tem.
- E você vai! Do jeito que está vestido... Bela beca, Plinio!
- Gostou?
- Finíssima - insistiu Edmundo, alisando de leve a lapela do supervisor.
Plínio deu uma olhada de rabeira para seu reflexo no vidro da janela. Acertou o punho da camisa, abotoou o paletó. Quase ajeitou o cabelo, mas se conteve a tempo.
- Tio Ignácio faz questão que eu esteja lá. Sabe quem foi convidado?
- Além de você?..
- Mister Fairfax.
- Massa!
- Titio quer que eu fique ao lado dele, toda a festa. Eu domino o inglês, você sabe.
- Vai ser mesmo um festão - comentou Edmundo e, depois um silêncio: - Estava pensando... A festa não é na casa do doutor Ignácio? E você não está indo mesmo pra lá?
- E você acha que vou chegar a uma festa com uma pastinha debaixo do braço?!
Pensando bem, Edmundo não via problema algum. Talvez a pastinha desse um toque diferente a mesmice com que Plínio se vestia. Mas achou melhor ficar quieto.
- Ou você está dizendo que não quer ir? - insistiu Plínio.
Edmundo encareou Plínio. Além de vaidoso, o sobrinho do patrão costumava guardar rancor. Podoa criar uma porção de problemas depois. Melhor sacrificar a sexta-feira, pensou.
- São só esses contratos?
- Só. Depois você pode ir para sua casa.
- Me dá o passe para o ônibus?
- Pega você mesmo na gaveta. Agora eu preciso ligar para minha namorada.
Plínio discou um número ao telefone.
- Alô? Maria Isabel? Sou eu, o Plínio...
Eram quase seis da tarde.
Enquanto picotava o passe, Edmundo pensou que bom era ter, sexta-feira à noite, namorada. E não precisava levar pastinha debaixo do braço.
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Office-boy em Apuros
HumorAguentar a constante perseguição de Plínio, supervisor dos boys do escritório, não é fácil! Mas isso é o de menos para quem, como o office-boy Ed Onda, se vê apaixonado por Maria Paula, que ele pensa ser Maria Isabel - Namorada de Plínio e paixão se...