Os convidados chegavam à festa na casa do doutor Ignácio. Deixavam seus casacos e bolsas com um homem de uniforme e eram recebidos por dona Clara e seu filho no salão iluminado.
Apesar de toda a agitação, Eugênio estava distraído. Seu pensamento ia longe. Imaginava-se um aventureiro desiludido: Eugène Flammarion, um mestre na arte do disfarce e da dissimulação - a última esperança do serviço secreto das forças aliadas.- Eugênio! - chamou dona Clara.
O menino estremeceu e voltou do seu devaneio. Suas faces coraram.- Você se lembra da dona Maurília e do doutor Pedrosa?
- Como você cresceu, Eugênio - disse doutor Pedrosa. - Quantos anos está fazendo?
Eugênio não respondeu. Outra vez estava distraído. Imaginava-se de volta à sua perigosa missão de espionagem atrás das linhas inimigas. Eugène Flammarion estava frente a frente com o terrível "Z", chefe da contra-espionagem.
- Eugênio! - chamou dona Clara, tirando o garoto novamente do seu devaneio. - O doutor Pedrosa está fazendo uma pergunta.
- Pode deixar, Clara - intercedeu dona Maurília. - Os jovens vivem sonhando.
- E Mister Fairfax? - perguntou Pedrosa, bruscamente.
Ele se referia ao convidado com quem doutor Ignácio pretendia fechar o "grande negócio".
- Ainda não chegou - respondeu dona Clara, um tanto contrariada com a lembrança.
- Estou ancioso para conversar com ele - insistiu Pedrosa.
Eugênio abaixou o olhar. Melancólico. Dona Clara achou melhor encerrar a conversa:
- Vocês não querem ir para o jardim? Os aperitivos estão sendo servidos lá.
O casal saiu na direção do jardim, sorrindo e falando baixo.Dona Clara percebeu que Eugênio estava perdido em devaneios, mais uma vez.
- Meu filho.
O garoto teve um sobressalto, voltando a realidade.
- Desculpe, mamãe. Estava distraído.
Tratando-se do seu filho, isto era comum, pensou dona Clara. Quantas vezes ela o surpreendera em seu quarto com um livro abandonado sobre o colo, o olhar perdido. Imaginando.A mãe sorriu. Passou a mão pela cabeça do filho. Eugênio parecia mesmo mais alto. "Quinze anos, já!"
- Vamos lá, Eugênio. Vamos até o jardim. Você precisa conversar com os seus convidados.
Eugênio deu o braço para sua mãe. Aliás, a Baronesa de Weisswurt, líder da resistência local - uma antiga companheira de Eugène Flammarion em suas mais perigosas missões.
Lá fora, um pequeno congestionamento se formava na frente da casa do doutor Ignácio. Automóveis paravam e as pessoas entregavam as chaves a um sujeito que cuidava de estacioná-los.
Plínio também chegava. E já ia entrando, sem dizer nada.- Onde está o convite, mocinho?
Era um grandalhão de terno, gravata e bigode aparado. O segurança. Ficava na porta, controlando a entrada.
- Eu sou o Plínio.
- O convite, por favor.
- Você não entendeu, meu amigo - disse Plínio. - Sou o sobrinho do doutor Ignácio.
- O convite - insistiu o patola.- Não é melhor mostrar o convite, Plínio? - disse delicadamente Maria Isabel.
- Mas eu sou da casa!
- O mocinho não pode ficar aí, obstruindo a passagem.
Outro segurança se aproximou. Um pouco mais baixo, mas também usava terno, gravata e bigode aparado.
- Mostra o convite, Plínio - disse Maria Isabel.
Plínio estava suando frio. Devagar, enfiou a mão no bolso e foi tirando o convite. Só conseguiu murmurar:
- Não é justo...
O sobrinho do dono da festa entregou o convite ao segurança. O grandalhão puxou uma lanterna. Iluminou o convite, examinado-o bem. Depois jogou a luz na cara do rapaz, perguntando:
- E as duas moças? Estão acompanhando?
A lanterna iluminou o rosto de Maria Isabel. Foi para o rosto de Maria Paula. Voltou para Maria Isabel. E, de novo, para Maria Paula.
- As gêmeas mingau! - disseram quase em uníssono os seguranças.
Os convidados que esperavam para entrar começaram a murmurar, apontando para as duas.
- Por aqui, por favor! - disse o chefe. - Olha aí, Januário: deixa o rapaz entrar também, que ele está acompanhando as gêmeas mingau!
- Eu sou o Plínio! - estrilou o sobrinho do dono da festa.
Maria Isabel puxou o namorado pelo braço. Antes de entrar no salão, Maria Paula chamou a irmã de lado e disse:
- Começou.
- Não vão parar enquanto estivermos juntas.
Maria Paula saiu para um lado. Maria Isabel foi para a direção oposta, com seu namorado. Já estavam acostumadas. Separadas não seriam reconhecidas.
De longe, uma irmã olhou bem para a outra. Pensaram ao mesmo tempo: como eram diferentes!
ŞİMDİ OKUDUĞUN
Office-boy em Apuros
MizahAguentar a constante perseguição de Plínio, supervisor dos boys do escritório, não é fácil! Mas isso é o de menos para quem, como o office-boy Ed Onda, se vê apaixonado por Maria Paula, que ele pensa ser Maria Isabel - Namorada de Plínio e paixão se...