- Alô? - atenderam do outro lado da linha.
- A Maria Isabel está?
- Ela mesma quem está falando.
- Oi! Aqui é o Eugênio.
- Quem?!
- O primo do Plínio.
- Ah! Aquele do arroto.
- É...
- Algum recado do Plínio?
- Não. Liguei só pra conversar.
- Você me pegou no meio do trabalho.
- Eu sei.
- A doceria está cheia de gente. Não posso conversar agora.
- Eu também não. Por que a gente não se encontra depois? Você tem compromisso hoje?
- Tenho. Vou me encontrar com o Plínio.
- Que horas?
- Pra que você quer saber?
- Ele vai passar ainda pra pegar você?
- Não. Vai me pegar na escola.
- Eu podia levar você, então?
Houve um silêncio do outro lado da linha.
- Você é mesmo primo do Plínio?- Sou.
- Filho do doutor Ignácio?
- Sou...
Mais um instante de silêncio.
- Está bem. Largo às sete. Mas não se atrase que eu não posso esperar. Preciso desligar. Tchau.
O sinal de ocupado ficou zunindo. Eugênio ainda estava com o telefone na mão. Suando. Não conseguia parar de tremer. O que tinha feito? Fora ele mesmo? Ou outro? Estava acordado?
De repente, ouviu passos no corredor. Pousou o telefone no gancho e fechou a agenda que estava à sua frente. Plínio entrou, resmungando:
- Não consigo encontrar meu caderninho de telefones. Você viu?
Eugênio apenas balançou a cabeça negativamente. Não podia nem piscar. Plínio bateu o olho sobre a mesa, avistando o que procurava. Olhou desconfiado para Eugênio. Perguntou:
- Você mexeu?
Eugênio encarou o primo. Sem pestanejar:
- O que é que eu ia querer com seu caderninho de telefones?
Plínio pensou um momento. Sem muita convicção, saiu.
Logo que o primo fechou a porta, Eugênio soltou:
- Rrrooooaaargh!
E desmontou na cadeira, feliz da vida. Eugène Flammarion se sentiria orgulhoso da sua reação diante do perigo, pensou.
Mas olhou o relógio e começou a tremedeira. Faltava menos de uma hora para o encontro. Sua imaginação trabalhou rapidamente, e ele se viu na frente da garota. Mudo. Perguntou-se: "O que foi que eu vim fazer aqui?"
Nesse instante, entrou Edmundo. Tinha tomado banho na firma mesmo. De lá, ia a um encontro. Vistia-se com roupa mova: jaquetão vermelho que batia na metade da coxa; com quatro botões de cada lado; e uma gola avantajada. Adornando o pescoço, um babado de renda. Em tudo lembrava um cavalheiro inglês do século XVII. Menos o cabelo: espivetado para o alto, feito chama.
- Comeu alguma coisa estragada? - perguntou o boy, ao perceber Eugênio tremendo.
- Não...
- Foi o churrasco grego.
- Nada disso!
- Quer uma força?
- Acho que não.
- Mas o que foi?!
- Fiz bobagem.
- Da feia?
- É...
- Fala - insistiu Edmundo.
- Marquei um encontro com uma garota.
- E aí?
- Estou morrendo de medo.
- Eugênio. Vou fazer uma pergunta séria: você está com vontade de arrotar?
- Não...
- E os gases?
- Nem sinal.
- Então? Qual é o problema?
- A garota é namorada do Plínio.
- Quem?!
- Maria Isabel.
Edmundo não sabia o que pensar. Tinha sido esquecido. Trocado pelo "patrãozinho". Perguntou:
- Que horas?
- Sete.
- Ela não disse que tinha encontro?
- Com o Plínio. Mais tarde.
Um cansaço repentino tomou Edmundo. Seus ombros caíram, curvou-se um pouco. Era uma sensação estranha: tinha esperado tanto por aquela terça-feira; e a única coisa que desejava então era se enfiar na cama, esquecer o mundo.
- Melhor andar depressa - disse o boy, tirando o jaquetão e jogando-o sobre uma cadeira. - Vai acabar chegando atrasado.
- Não vou mais.
- Não vai?!
- De que adianta?
- Se liga, Eugênio!
- Eu sei que vou ficar mudo na frente dela.
Edmundo pensou um instante. De uma hora para outra, as faces do boy ficaram coradas. Maquinou que maquinou, e disse:
- E se eu for com você? Só pra dar uma força...
- Era o que queria pedir! - confessou Eugênio, vibrando. - mas estava sem coragem. Você vem comigo?!
- Claro que vou.
- Vai ser o máximo!
- Vai - respondeu Edmundo, sem prestar muita atenção no que dizia. Seu pensamento ia longe: queria só ver a cara dela quando chegassem os dois juntos. E ruminou: "Aquela embrulhona..."
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Office-boy em Apuros
HumorAguentar a constante perseguição de Plínio, supervisor dos boys do escritório, não é fácil! Mas isso é o de menos para quem, como o office-boy Ed Onda, se vê apaixonado por Maria Paula, que ele pensa ser Maria Isabel - Namorada de Plínio e paixão se...