04. Quinta-feira - Tarde

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Dortmund, Alemanha

Quinta-feira

Às cinco em ponto, Marco atravessava a porta do Asemann. Era a primeira vez que estava ali fora do horário de café da manhã e se surpreendeu com a quantidade de pessoas que o local recebia. Avistou Amélia em um local diferente do usual, ocupava um lugar no balcão e conversava animadamente com uma senhora de aparência simpática. Marco pôde perceber que o olhar carinhoso que ele recebia de Meli, era algo dela. E esse olhar estava com ela o tempo todo.

As vezes na vida você encontra pessoas assim, como ela, que em pouco tempo conseguem transmitir a qualquer um o quão pura é. São pessoas que conseguem externar a tranquilidade que sentem dentro si. Marco não sabia explicar exatamente como isso acontecia, mas estava grato por sua vida ter cruzado com a de Amélia, já que conseguia perceber que pequenas ações que vinham dela conseguiam impacta-lo consideravelmente.

- Marco! – Ela disse quando o homem se aproximou. A senhora que estava com Meli aparentemente trabalhava ali, pois lhe sorriu e em seguida serviu uma xícara de café quando ele sentou.

- Fico feliz que você tenha vindo. – Ele disse. Meli o olhou e sorriu dando leves batidas em sua mão, que estava apoiada no balcão.

- Você não me deu motivos pra não vir, Marco. Além do mais, você se surpreenderia se soubesse quantas horas por dia eu passo aqui.

- De algum modo você esqueceu de me contar que trabalha aqui? – Brincou o loiro.

Amélia sorriu abertamente, gostando de vê-lo mais à vontade com o ambiente, e com ambiente ela também quis dizer vida. Marco parecia mais vivo.

Isso, claro, poderia ser por causa dela, mas acima de tudo o olhar mais vivo de Marco era por causa dele mesmo, que havia tomado a decisão de seguir com a vida, uma nova vida sem Lara. Só não sabia quanto tempo isso iria durar.

- Há muitas coisas sobre mim que você não sabe. – Respondeu Meli.

- O que eu acho um absurdo. Qual é? Te conheço desde segunda feira, me conte todos os seus segredos, Amélia.

- Você é quem guarda segredos, Marco Reus. Me conte o que te atormenta antes que eu comece a me preocupar. – A mulher disse risonha, mas Marco conseguiu perceber o clima de seriedade que se instalou e lembrou-se do que ela havia dito sobre desabafar com estranhos as vezes ser uma opção melhor.

Hesitou antes de realmente começar a contar algo. – Não é nenhum segredo. Eu tinha uma noiva e agora não tenho mais. Estou tentando lidar com isso.

- Faz quanto tempo?

- Alguns dias.

- Onde ela está agora?

- De volta em casa, na Irlanda. – Marco respirou fundo. – Eu entendo, Amélia. A adaptação nunca foi fácil pra ela, até chegar ao ponto em que tudo que Lara desejava era estar de volta à sua zona de conforto e isso implicava em estar longe de mim. Só é difícil me acostumar porque foram 4 anos. E é difícil aceitar que não fui suficiente pra fazê-la querer ficar.

Meli levou alguns minutos pra conseguir elaborar uma resposta aceitável.

- Sabe, Marco, eu acredito que toda as coisas na vida acontecem por uma razão. Lara quis voltar pra zona de conforto e pra isso você teve que sair da sua e todo mundo tem que tentar coisas novas em algum momento da vida. É seu momento de aprender a viver por você mesmo. Ela veio, te ensinou coisas novas, vocês compartilharam coisas boas e coisas ruins. Agora é seu momento de desvendar coisas da vida que você só consegue sozinho.

- Tem sido mais difícil do que eu pensei que seria. – Passou as mãos pelos cabelos e suspirou. – Mas é bom falar sobre isso com alguém.

- Claro que é. Eu te disse que seria. – Sorriu pra ele e bebericou seu café.

Marco e Amélia admiraram a naturalidade que surgiu para seguirem conversando até o café, por incrível que pareça, se esvaziar.

Ela facilitava as coisas, tinha resposta pra tudo e gostava de ouvir o que ele tinha pra falar. Mas algumas vezes se empolgava tanto que era ela quem começava a falar e ele a ouvir atento.

Ele gostava de fazer piadas com tudo, e achava graça que ela achava graça de tudo. Acompanhava os movimentos exagerados que suas mãos faziam quando ela falava.

Havia admiração de ambos os lados, mas não uma admiração romântica. Era mais uma admiração humana porque suas almas eram compatíveis, ainda que diferentes.

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