15. Sábado

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Dortmund, Alemanha

Sábado


A savana se dispersa e o pássaro canta

Então, por que deveríamos temer o que a viagem traz?

O que estávamos esperando para sair dessa?

Algum tipo de felicidade momentânea?


Amélia estabeleceu um horário que, segundo ela, era o perfeito para sair de seu pequeno apartamento e ir para o estádio sem chances de chegar atrasada por causa do trânsito e o eventual aglomerado de torcedores.

Havia ultrapassado esse objetivo há 30 minutos.

Depois de tomar o banho mais longo de sua vida, a maior dúvida era se deveria ou não vestir a camisa do time aurinegro que estava em seu guarda-roupa. Olhou-se no espelho por incontáveis minutos até decidir usá-la, com uma única condição. Vestir um casaco que cobrisse o número 11 e, principalmente, o nome que havia nas costas.

Durante todo o percurso até o Signal Iduna Park, surgia em sua mente alguns lapsos de consciência que a condenavam por estar fazendo tudo isso, semelhante ao que sentiu quando estava indo para Portugal.

Mas às vezes, Amélia descobriu, o lado racional deve ser ignorado, porque no fim do dia o que seu coração deseja sempre vai prevalecer. À noite, na sua mais pura vulnerabilidade, seu desejo mais profundo daria as caras para torturá-la, então ergueu a cabeça e dirigiu até onde pôde e se juntou a todos os torcedores frenéticos do Borussia Dortmund na caminhada até que estivesse dentro do estádio.

Ocupou seu lugar na Westtribüne e era isso. Estava ali.

Não havia muito mais o que fazer a não ser esperar. Já fazia uma semana que não via ou conversava com Marco e seu corpo estremecia só de pensar que eu pouco tempo ele estaria no seu campo de visão.

Podia lembrar-se perfeitamente de como se sentiu da última vez em que esteve ali. Só tinha se passado uma semana e tanta coisa mudou. Nela e no ambiente que outrora fora tão confortável e agora parecia sufocá-la.

Ouviu os gritos da torcida se intensificarem e fechou os olhos em resposta porque sabia o que viria a seguir. Ele estava lá.

Marco pisou no gramado para o aquecimento e sentiu automaticamente um peso no corpo. Uma sensação que não sabia explicar. Tentou ignorar de todas as formas, mas nada que ocupava aqueles incontáveis metros quadrados conseguia distraí-lo.

Quando voltou ao vestiário, ao invés de se juntar com os demais companheiros, como deveria, correu até seu armário e procurou seu aparelho celular. O último contato que teve com Amélia foi há uma semana, visto que ela não atendeu nenhuma das suas tentativas de ligação, mas nesse instante Marco não pensou que ela poderia não responder, só queria deixa-la saber.

"Podemos conversar? Por favor, Meli. Sinto sua falta."

Quando leu a mensagem, repetiu o exercício de fechar os olhos e respirar fundo. Tinha feito isso incontáveis vezes nos últimos dias. Queria responder, queria mesmo, mas fazê-lo atrapalharia o seu plano maior, que era esquecer Marco e tudo que ele fez.

- Está tudo bem com você? – Ouviu alguém perguntar enquanto tocava em seus ombros. O homem lhe ofereceu um olhar de conforto quando ela abriu os olhos e o encarou.

Das BesteWhere stories live. Discover now