16. Domingo

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Dortmund, Alemanha

Domingo


Ela disse sim. Ainda que relutante, Amélia achou que fosse melhor checar ela mesma se Marco estava bem. Logo cedo ele enviou por meio de uma mensagem um convite oficial, pedindo para que se encontrassem no Westfalenpark para uma conversa tranquila durante a tarde.

Certo. Ele achava mesmo que a conversa que tinham que ter era tranquila? Meli pensou. Quis saber também o quão louco o jogador estava por querer sair de casa quando precisava de repouso em razão da lesão, mas resolveu não perguntar nada. Estava certa de que esse encontro não significava nada além disso, de saber sobre sua saúde e, muito talvez, conversar sobre Lara. Ele ainda era o mesmo Marco que a havia deixado na primeira oportunidade, quando sequer haviam estabelecido um relacionamento concreto. Não podia abaixar a guarda e deixar que seu coração virasse novamente um alvo fácil para ser quebrado.

Amélia chegou ao local combinado quando a tarde já estava perto de chegar ao fim em Dortmund, pelo menos uma hora antes do previsto. Precisava de um tempo. Sentou-se em um banco de madeira, perto de um canteiro de flores do campo e deixou-se relaxar por tempo suficiente para que se sentisse confortável com toda a situação.

Marco preocupou-se quando Meli não atendeu nenhuma de suas ligações, mas de alguma forma não se assustou quando andou até onde eles haviam ficado acomodados da outra vez e a viu, com o olhar distraído em alguns turistas que tiravam fotos de todas as espécies de flores que se estendiam pelo enorme campo. Vestia-se de forma casual, mas, para ele, nenhuma outra visão poderia ser tão bonita como aquela. Por um segundo sentiu que haviam chances reais de perdão para ele, por um segundo imaginou que poderiam esclarecer todo o mal entendido. Marco queria tanto. Tanto que se assustava.

Aproximou-se até que pudesse tocar seus ombros, fazendo-a se sobressaltar com o susto.

- Oi. – Ele disse ocupando o lugar ao lado da mulher.

Amélia deixou que um sorriso discreto surgisse no canto de sua boca. – Como está? – Perguntou.

- Já tive dias melhores. – Ela assentiu concordando. Permaneceram em silêncio por mais alguns momentos, até que ele se tornasse tão incômodo quanto nunca fora. – Mas um mês passa rápido.

- Quer falar sobre isso? – Perguntou solícita.

- Eu queria conversar sobre outra coisa, na verdade. – Reus disse quando sentiu que a coragem estava ali, motivada pela adrenalina que corria por suas veias. – Eu não estou com a Lara.

- Por que quis me encontrar, então? – Meli questionou a fim de que começassem aquilo de uma vez por todas.

- Amélia... – Marco suspirou. – Eu estou apaixonado por você. Ou melhor, eu sou apaixonado por você. Eu sei que agi de maneira mesquinha, mas quero que você entenda ao menos isso: De uma forma inusitada, que eu nunca conseguirei explicar, meu coração foi parar em suas mãos, totalmente. Sinto muito, sinto mesmo, que minha mente tenha achado que a solução de tudo seria voltar para Lara. Ela já não é minha solução há algum tempo. Você é. A minha vida inteira foi um preparo para receber você nela. O problema é que na primeira oportunidade de provar isso pra você, eu reprovei, reprovei feio e sei da possibilidade de nunca receber de volta a confiança que você depositou em mim. – Ele falou, se atrapalhando algumas vezes por conta do nervosismo, enquanto ela escutava atenta, até resolver se pronunciar.

- Você tem razão. Eu não sei se consigo entregar a você tudo de mim novamente e, droga, Marco, eu nem tive a oportunidade de confessar isso a você. Tudo meu era seu. E tudo de mim se quebrou. – Desviou o olhar para seu colo porque àquela altura olhá-lo nos olhos era o mesmo que ver toda a cena de novo.

- Por favor. – Segurou suas mãos. – Me deixe voltar a fazer parte da sua vida. Deixe-me acordar você todas as manhãs com um beijo, levá-la ao Asemann todos os dias para dividirmos aquele bolo de cenoura que você ama. Eu quero cuidar do seu cachorro e até do seu gato, mesmo que ele não seja o mais carinhoso dos animais. Quero poder te ter em todos os jogos para que eu possa dedicar cada gol da minha carreira a você. Meli, eu quero estar contigo na sua formatura daqui a algumas semanas, quero te levar no seu primeiro dia de trabalho e, não sei, todas essas particularidades que nunca vi ninguém fazer, além de nós. Por favor.

- Nós podemos fazer a maioria dessas coisas sendo somente amigos. – Sentiu a voz falhar quando pronunciou as últimas palavras, dando vez, enfim, as lágrimas que outrora estiveram presas.

Outra longa pausa.

Os polegares fazendo leves carinhos na mão de cada um.

Os pés balançando, externando todo o nervosismo.

As respirações pesadas, vez ou outra interrompidas por soluços baixos.

- Tudo bem. Eu acho que mereço isso.

- Não é o veredicto final, jogador. – Meli tentou sorrir. – Eu também sou apaixonada por você, isso não vai mudar mesmo que eu queira. E eu não quero. Eu só preciso de um tempo até que tudo seja cicatrizado. Se até lá você ainda quiser fazer todas essas coisas que disse que gostaria, então tudo bem, faremos.

Marco lhe sorriu e a puxou para um abraço. A imagem parecia ter sido congelada naquele momento, mas eram só Marco e Amélia em uma troca de carinho extremamente longa, onde transmitiam todos os mais puros sentimentos que nutriam um pelo outro. Só separaram-se quando o grupo de turistas que a Amélia observava antes iniciou alguma espécie de discussão em uma língua irreconhecível

- O que acha de tomar um café? – Ele perguntou, levantando uma cesta que estava ao lado do banco.

- De onde isso surgiu?! – Meli perguntou assustando-se com o aparecimento repentino do objeto.

- Você não achava que viríamos ao Westfalenpark e não faríamos a mesma coisa da última vez, não é? Seria um desrespeito à nossa adoração por rotina. – Reus acusou cheio de orgulho.

Entendeu a toalha e pediu para ela sentasse, entregando-lhe em seguida um cobertor para protegerem-se do frio. E ali estava. Uma garrafa térmica e duas canecas de porcelana. Do jeito que eles gostavam.

•••

As estrelas já apareciam todas no céu quando Amélia entrou em seu apartamento. Cantava Philipp Poisel enquanto fazia o percurso de volta pra casa, quando Marco, que dirigia no carro a sua frente, pediu para que parasse. O jogador fez sinal para que ela esperasse e entrou em algum estabelecimento que ela não conseguia visualizar o nome. Cinco minutos depois voltou com os braços escondidos atrás de si e um sorriso maroto no rosto. Aproximou-se da janela e então deixou que ela visse o que carregava.

Um pequeno buquê de flores do campo. Como aquelas que haviam perto do banco que sentaram no parque.

- Eu vou esperar por você, Amélia Boehl. – Beijou sua bochecha e voltou para seu carro.

Marco sabia mesmo como deixa-la sem palavras. 

  •••  

Quem segue a Amélia no instagram e é espertinho provavelmente já sabia o rumo que essa conversa tomaria ;)

E aí? Quanto tempo vocês acham que a cicatrização da Meli vai durar? 

Até a próxima! Abração <3

IG da Amélia: ameliaboehl

IG da Elisa Grace: elisawinfield

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