08. Segunda-feira

1.1K 112 14
                                    

Dortmund, Alemanha

Segunda-feira


- Você não podia esperar eu chegar de viagem pra deixar sua vida dar uma reviravolta? - Liz perguntou quando caminhava até o sofá pra se sentar ao lado de Meli.

- Tá vendo o que acontece quando você some por 10 dias? Eu perco o controle da vida, Liz! - disse e aproveitou que a amiga tinha uma almofada nas pernas para apoiar a cabeça ali.

- Você não perdeu o controle, não seja boba. Tudo o que aconteceu é que você conheceu alguém interessante que te enviou uma passagem pra Lisboa.

- Não fale como se fosse normal porque tudo isso é insano. - Respondeu e suspirou.

A verdade é que Amélia se sentia tão estranha que sequer se deu ao trabalho de ir ao Asemann. Queria que Marco percebesse que não era conveniente que ela fosse pra outro país por sua causa e se desculpasse por tê-la colocado nessa situação.

- Você fala como se nunca tivesse cometido loucuras como essa. Meli, você ao menos se lembra do ano passado quando trancou a faculdade pra fazer um mochilão de 6 meses pela América do Sul? Sem avisar pra ninguém além da sua mãe? E sem tomar nenhuma vacina?

- Essa situação é completamente diferente, eu mal conheço Marco. - Disse e levantou, balançando as mãos em sinal de nervosismo.

- Você acabou de me dizer que passaram a semana conversando, pelo amor de Deus, ele te contou tudo sobre o antigo relacionamento. Vocês não são estranhos, nem mesmo colegas! Vocês, provavelmente, nunca foram nem desconhecidos. São confidentes!

- Não quero mais falar sobre isso, por favor. Me deixe pensar. - Andou de um lado na sala e ouviu Liz respirar fundo.

- Não há tempo pra pensar, o jogo é amanhã e você tem que estar no aeroporto antes do sol nascer. - Rebateu, encerrando o assunto.

Continuaram a assistir a programação do Discovery Home&Health durante toda a manhã, sem mencionar o nome de Marco ou da viagem. Amélia só queria esquecer sobre tudo isso, estava achando todo esse drama algo extremamente exagerado. Não que não confiasse no jogador, na realidade, por incrível que pareça (e isso a assustava), depositava uma confiança surpreendente nele. Lembrou-se de toda a conversa que tiveram na quinta feira, no Asemann, quando ele lhe contou tudo sobre Lara e do dia anterior no Westfalenpark onde conversaram desde banalidades do dia a dia até as manias que tinham na infância. Compartilharam histórias e confidenciaram tantos segredos que Amélia custava a lembrar que tinham acabado de se conhecer.

Ou talvez Liz estivesse certa e eles nunca realmente foram desconhecidos, porque desde o primeiro momento que se viram, o clima de companheirismo já estava instalado.

Passou a tarde inteira tentando não pensar nisso e se concentrar nas aulas. Conversou com os colegas, fez mais anotações do que jamais fizera na vida, cantou mentalmente todo o CD de Joris, seu músico favorito e ainda assim sua mente sempre voltava para a caixa amarela que estava em sua cama.

No jantar, enquanto bebia seu suco de maracujá deixou o olhar se perder pelo cômodo, com a cabeça cheia e já exausta de toda essa confusão, até, então, ver uma margarida esquecida em cima do aparador. Não qualquer margarida, aquela margarida.

Não segurou o sorriso e checou o horário. 7:56. Pegou o celular e procurou em sua agenda um número que até então nunca precisara usar pra fazer uma ligação. Foi atendida no primeiro toque.

- Marco Reus, me dê todos os detalhes dessa ida à Portugal antes que eu me arrependa.

Das BesteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora