Sete

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O jantar de aniversário de namoro foi maravilhoso. Comemos risoto de queijo brie e damasco e até abrimos um vinho que estava guardado desde o natal. Para finalizar, preparei a sobremesa preferida dele, petit gâteau de doce de leite com sorvete de queijo com goiabada. Achei que seria o suficiente para uma noite incrível.

Não foi.

Estávamos lavando a louça quando a conversa que eu tentava escapar veio à tona. Tentei mudar de assunto, mas foi em vão. Daniel estava determinado a entender o motivo de eu falar o que tinha dito. E ele queria uma resposta imediata. Fato que é totalmente compreensivo, tendo em vista que eu repeti meu pesadelo em voz alta.

Eu falei sobre a casa 323, sobre o desenho e repeti o domingo, 15 de setembro de 1999, aos gritos.

*

O dia do meu pesadelo é, também, um dos últimos dias que vivi naquela rua sem saída. Vó Beth achou melhor nos mudarmos, mesmo que ali vivessem memórias das quais ela não queria desapegar. Foi vovô, que eu nunca conheci, que escolheu o azul das paredes, que ainda era o mesmo e no cantinho de uma porta estavam riscos que registravam a evolução do meu crescimento e da minha mãe também, paralelos. Os dela eram verdes e os meus vermelhos... Deixamos tudo para trás naquela semana e nunca mais voltamos ao nosso lar. Na verdade não tinha como voltar.

*

Aos domingos nós sempre almoçávamos macarronada com o molho de tomate da vovó e um refrigerante muito gelado, quase congelando. Depois comíamos pavê de Bis de sobremesa e assistíamos um filme juntos. Todos os domingos eram assim e, por isso, eu saia de casa com destino ao mercadinho da esquina e a mesma lista de compras, que eu já tinha decorado:

· 500gr de tomate maduro recém-colhido;

· Manjericão fresco;

· 2 litros do refrigerante que estivesse mais no fundo da geladeira;

· Creme de leite;

· Leite condensado;

· Uma caixa de Bis;

· Maisena.

Às vezes eu nem descia da bicicleta. O dono do mercadinho também sabia a lista de compras da minha vó, deixava tudo separado e quando me via chegando ia levar na calçada. Eu entregava o dinheiro e voltava em poucas pedaladas. Foi assim que aconteceu naquele 15 de setembro. Eu peguei as sacolas e as dividi entre a cestinha da bicicleta e meus braços. Equilibrei tudo, como fazia sempre e pedalei de volta para casa o mais rápido que consegui. Desci de bicicleta e a joguei na calçada mesmo, voltaria a pedalar assim que deixasse as sacolas na cozinha.

Acontece que quando voltei, minha bicicleta não estava mais onde deixei.

Meu vizinho estava em seu portão e eu, inocente, caminhei até ele para questionar se tinha visto quem pegou a minha bicicleta. Ela estava no quintal dele.

***

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Até quinta-feira :) 

O Azul do Meu PassadoWhere stories live. Discover now