EPÍLOGO

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Minhas mãos estão soando frio e meu cérebro literalmente deu tela azul. Depois das duas viagens com a minha vó, eu nunca mais tinha entrando em um avião. Ou seja, só tinha feito viagens curtinhas. O voo até o JFK durou dez horas e eu não dormi nenhum segundo, agora tenho que responder um questionário infinito para um cara enorme e em inglês.

Qual a chance de não ser deportado?!

Essa é a primeira vez que tiro férias desde que minha vó faleceu. É a primeira vez que eu saio do Brasil e também é a primeira vez que vou ver a minha mãe. Expliquei isso para o moço e, para a minha surpresa, ele sorriu e me desejou boa sorte. Meu passaporte ganhou um carimbo e fui buscar minha mala. É claro que me perdi naquele aeroporto gigante. Mas, depois de muitas voltas e confusões com o inglês, encontrei a porta e minha mãe estava a minha espera. Foi fácil saber, além do sorriso da vovó Beth ela tinha uma placa na mão dizendo: eu sonhei com esse abraço, meu filho.

Larguei a mala e corri para os braços dela.

Era o mesmo abraço da minha vó Beth. Era a minha mãe. E eu nem sabia que queria aquilo, até que finalmente aconteceu.

*

Quando eu terminei de falar, Daniel respirou fundo novamente. Ele levantou a cabeça, caminhou até a cozinha e repetiu um gesto que eu conhecia bem: encheu uma caneca de café sem leite ou açúcar. Voltou em silêncio, mas coçando a cabeça como só fazia quando estava nervoso.

Observei em silêncio, apenas esperando que ele explodisse. E então ele me contou como foi o período da vida dele em que eu não estava presente. Daniel sentiu falta de Pedro, ou seja, de mim, e Osmar não demorou para perceber. A partir daquele momento, o pai não economizou nos castigos e às vezes até batia nele, mesmo que sem motivo aparente. Assim como aconteceu comigo, com o tempo ele superou a ausência do amigo do outro lado do muro. Mas o pai não e, por isso, o expulsou de casa com 17 anos... Daniel estava dançando uma música da Madona e isso foi motivo suficiente para ficar sem um lar.

*

- Oi, mãe.

- Oi filho, tudo bem com você?

- Sim, eu estou ótimo. E esse aqui é o Daniel, meu marido.

- Prazer, Daniel. Sejam bem-vindos à loucura da minha vida.

- Esse é o título da minha história, mãe.

- Da nossa história, então.

*

Depois de falar por muito tempo, ele me abraçou e pediu desculpa pelo que o pai dele me fez passar. Eu não entendi nada, pois eu tinha me vingado e quase matei Osmar. Ele me explicou que o seguro do carro fez um pericia após o acidente e não tinha nada a ver com aquele maldito fio que eu cortei.

Eu não sou responsável pelo acidente de Osmar.

Daniel ainda me ama.

Eu encontrei a minha mãe.

E é isso.

O Azul do Meu PassadoWhere stories live. Discover now