Dezesseis

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A ambulância chegou depressa e eles colocaram vovó numa maca, toda imobilizada. Fui sentado ao lado dela, segurando sua mão para acalma-la. Mas a verdade é que eu estava morrendo de medo e ela era meu único porto-seguro. Quando chegamos ao hospital, os socorristas saíram empurrando vovó por um corredor e eu não pude ir junto. Uma mulher me levou para uma sala cheia de brinquedos, mas sem nenhuma outra criança.

- Como é seu nome?

- Alberto.

- Alberto, para quem nós podemos ligar pra vir te buscar?

- Ninguém. Sou só eu a minha vó Beth.

- Não tem nenhum tio ou tia para quem possamos ligar?

- Não.

Eu comecei a chorar, desesperado, e Miriam, que era psicóloga do hospital, passou toda a manhã conversando comigo. Ela até me fez esquecer que eu estava no hospital. Falou que vovó logo estaria bem e jogou quem sou eu comigo. Aquela foi a primeira vez que o jogo funcionou de verdade, pois não tinha um muro entre mim e minha oponente. Achei bem sem graça da maneira tradicional.

Na hora do almoço, comemos picadinho com arroz, feijão e legumes. Logo em seguida ela me disse que eu teria que ir para uma casa enquanto vovó não ficasse boa. Tentei argumentar e dizer que não me incomodava de ficar com ela no hospital, mas não teve jeito. Sem família para recorrer, eu fui levado para o conselho tutelar como Osmar havia prometido.

Lembro do som do carro parando em frente à casa. Do portão verde, levemente descascado, e do sorriso do rapaz que veio abri-lo para eu entrar. Não sei como, mas a Miriam sabia meu nome completo, data de nascimento e até o endereço de casa. Mesmo sem ter me perguntado nada... ela preencheu o meu cadastro numa espécie de recepção e em seguida nós entramos na minha nova casa.

O corredor era imenso, parecido com o da escola. O piso tinha um cor escura e opaca e o cheiro era bem peculiar, não sei descrever. Passamos por uma sala e ela era bem normal, parecida com a de casa. O cômodo seguinte foi a cozinha e ela não parecia em nada com a que eu estava acostumado - tinha uma mesa enorme e um banco, também cumprido, no lugar das cadeiras. Nada de geladeira, fogão ou frutas em um pratinho. Andamos mais um pouco e chegamos no quarto. As paredes eram brancas e a cortina azul, sem nenhuma ilustração. Tinha seis camas enfileiradas e uma cômoda ao lado de cada uma delas. Era isso.

Uma das camas não tinha nenhuma pelúcia ou brinquedo encima. Decifrei que era ali que eu iria dormir. De fato, aquela era minha nova cama.

- Como eu vou para a escola?

- Tem um carro da prefeitura para te levar e buscar todos os dias, Alberto. Não precisa se preocupar.

- E como eu vou saber da minha vó?

- Eu vou te dar notícias.

- Quando?

- Todos os dias, eu prometo.

- Como?

- Você pode pedir para me ligarem sempre que quiser. Assim que a sua vó puder receber visitas o mesmo carro que te levar até a escola vai te levar até o hospital e nós poderemos nos ver. Enquanto isso uma amiga minha vai certificar que está tudo bem com você, o nome dela é Jéssica. Mais alguma dúvida, meu querido?

- Minha vó vai ficar bem?

- Com certeza. Nós estamos fazendo o máximo possível para isso.

- E vai demorar muito?

- Não sei te responder, Alberto. Mas vou torcer pra ser bem rápido.

***

Oie, faz tempo que eu não falo por aqui né? Obrigada por acompanhar a história. Lembre-se de deixar o seu voto e comentário e nos vemos na quinta-feira :)

O Azul do Meu PassadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora