Doze

72 22 42
                                    

Comecei a tremer assim que ouvi o relato impressionando da minha vó. Osmar, que descobri ser o nome do meu vizinho, estava entre a vida e a morte. A polícia estava investigando o que tinha acontecido e, é claro, logo chegariam em mim. Eu coloquei minhas mãos no carro, eles iriam encontrar as digitais ou quem sabe se não existe alguma câmera de segurança na rua? Entrei em pânico.

Cheguei em casa agitado e decidi que iria fugir. Não podia deixar minha vó passar por aquilo.

Por isso, peguei a minha mochila da escola e guardei o que achava que precisaria nessa nova fase da minha vida: as canetinhas especiais, um caderno de desenho, minhas três camisas preferidas e o álbum do meu aniversário de 10 anos - com várias fotos minhas com a vovó no parque do Beto Carrero e no aeroporto, foi a primeira e a única vez que nós viajamos de avião. Além disso, coloquei também um ioiô, um punhado de balas e alguns guarda-chuvas de chocolate. Eu provavelmente teria fome.

E então veio o momento mais difícil, escrever uma carta explicando a situação para a minha vó.

Vó, eu te amo

É por isso que vou embora. Não posso deixar a senhora sofrer e a única maneira de não fazer isso é saindo da sua vida. Desculpa, vovó. Eu não sei o que tenho, mas acho que sou doente. O nosso vizinho falou isso várias vezes e depois a senhora queria me levar ao médico.

Não queria te envergonhar com a minha doença.

No domingo eu não cai de bicicleta. O Osmar escondeu ela na casa dele, mandou eu entrar para buscar e depois ficou no portão pra eu não sair. Eu me arrastei pela parede e machuquei o braço. Depois vi que furou o pneu da minha bicicleta e decidi me vingar. Eu juro que não fiz de propósito. Vovó, me perdoa.

Vou levar a senhora no meu coração

Do seu Alberto

No fim da carta tinha um desenho de nós dois.

Com tudo pronto para a minha fuga, fui jantar com a vovó. Depois nós assistimos um filme juntos e eu tentei aproveitar ao máximo a companhia dela pela última vez. Fiz massagem nos pés, abracei e disse que a amava várias vezes. Quando o filme acabou entrei no banho e demorei um pouco mais do que o permitido, pois não sabia quando tomaria outro banho quente.

Entrei no quarto e, por algum motivo, minha vó estava sentada na minha cama com a carta nas mãos dela e, é claro, estava com os olhos cheios de lágrimas.

***

Oie, se você está acompanhando a história desde o começo finalmente sabe qual era o grande segredo do Alberto. Conta pra mim: o que você achou e o que imagina que vai acontecer agora? E não esquece de deixar o seu voto, tá?!

O Azul do Meu PassadoWhere stories live. Discover now