Chapter Thirty Three

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HAYDEN KODAN
DIAS ATUAIS

O dia estava bonito no horizonte. Me lembrava dias quentes do verão. Me lembrava coisas boas, me lembrava recomeços. Me lembrava que nunca é tarde para acordar num dia e pisar firme no caminho que escolheu para si naquela manhã. Para mudar de direção. Para sair da estagnação.

Sabia que Katryn se preocuparia. Sabia que sentiria que foi errado eu sair assim de seu apartamento após todo seu cuidado, sem dizer onde estava, quando voltava.
Mas sabia que dessa vez, pelo menos dessa vez, estava fazendo a coisa certa.

Enquanto caminhava eu fazia uma lista mental.
Minha vida sempre fora muito complicada, e depois de Jack eu acho que me perdi mais do que julguei ser possível uma alma se perder. Muitas pessoas se perdem e as vezes são agraciadas com coisas que as fazem se reencontrar. Pessoas, animais, lugares...
Eu encontrei Katryn, mas nunca deixei que ela me encontrasse. Estava tão perdido que não acreditava ser merecedor da bússola que ela se tornara para mim. Talvez eu não fosse mesmo, talvez ninguém jamais fosse merecedor do amor dela. Talvez muitas pessoas não sejam merecedoras do amor de outras, mas amam assim mesmo.

Eu queria amá-la livremente também.

Então naquela bonita manhã eu liguei nossa vitrola e saí, deixando a música inundar seu apartamento.

Agora me dirigia a resolver coisas que me impedem de me encontrar.

As pessoas encaravam os hematomas no meu rosto enquanto passava. Não me importava. Nada parecia me importar ao redor, apenas o que estava à frente quando tudo fosse resolvido.

Caminhei até meu apartamento e fiquei aliviado de que Katryn não viera me procurar. Tomei um banho e peguei o celular enquanto acendia um cigarro, apoiado na varanda. Pela primeira vez em muito tempo eu selecionei o contato de Clay.

Eu nunca ligava. Eu transferia o dinheiro e evitava contato o máximo possível. Lembrar de Clay me lembrava de meu pai. Lembrar de meu pai me lembrava da morte de Jack.

Ele demorou atender.
— A que devo as honras? — Disse diretamente com uma voz rouca. Eu respirei fundo.

— Seus amigos apareceram ontem. — Falei calmamente, arqueando as sobrancelhas para sentir o corte ali. Escutei uma risada baixa do outro lado da linha.

— Não foi a meu mandato, acredite. Sabe que tenho sócios. Eu fiz uma dívida contando com seu pagamento e, como você atrasou, acabou atrasando meu lado também. Eles não gostaram e eu só tirei minha barra do caminho. Posso te recompensar com um desconto no mês que vem.

Encarei o horizonte por um segundo.
— Como ele está? — Perguntei pela primeira vez desde que contatara os serviços sujos de Clay para o homem que eu chamava de pai.

— Bem. Bebendo, fumando, o de sempre. Jogando sua vida fora.

Fiz uma pausa.
— Não precisa do desconto no mês que vem. Eu estou dispensando seus serviços a partir daqui.

Houve um segundo de silêncio na linha.
— Você não pode dispensar minha proteção da carcaça do seu pai assim, temos um acordo.

— Fiz um acordo com você há três anos. Aceitei a maioria da suas manipulações e surras e chantagens para proteger aquele que apenas me trouxe sofrimento. Acho que já paguei muito por isso, não?

— Nós temos um acordo. — Ele bufou.

— Não temos mais, e se fizer qualquer outra coisa, sabe que tenho provas para te por atrás das grades por bastante tempo. — Fiz uma pausa. — Agora, como eu confio em sua palavra, diga com todas as letras que hoje estamos finalizando qualquer elo e qualquer acordo. Não faça contas com meu dinheiro e não dificulte tudo isso. Se você entrar no meu caminho de novo, eu juro por Deus que morro antes que você fique livre.

Eu conhecia Clay há muitos e muitos anos. Eu sabia que a partir do momento que quisesse finalizar aquilo podia pela quantidade de provas que tinha contra ele, em todos os sentidos. E ele sabia que mesmo que isso arriscasse meu pescoço também, por ter contratado seus serviços e feito coisas para ele, não me importaria se esse fosse o preço. Ele sabia que eu não me importava com preços quando queria alguma coisa.

— Nosso acordo está finalizado. Não me ligue nunca mais, seu filho da...

Desliguei antes que ele acabasse, e apaguei seu contato antes que ele pensasse em pedir.

Encarei o horizonte de novo, sentindo um peso sair de meus ombros. Um peso muito grande.

Desde o dia traumático da morte de Jack tudo havia se deslocado em minha vida, mais do que jamais fora bagunçado. Eu odiava o meu pai por aquilo, mas ainda assim o protegia. O protegia de dias como aquele de novo arriscando minha vida e tudo o que eu mais zelava pela segurança daquele que pouco me dera boas lembranças. Por aquele que destruiu sua própria vida e, não sendo suficiente, levou a minha junto.

Mas eu estava muito perdido para me importar com qualquer outra coisa e aquilo parecia a única coisa certa. Rebaixar minha vida, entregar tudo que tinha, para prezar por ele. Talvez eu carregasse uma culpa também.

Na noite anterior, quando mais uma vez tive problemas com os parceiros de Clay, eu quis desistir. Quis que me batessem até que aquilo acabasse, até que todo esse tempo perdido fosse insignificante. Que a vida e o tempo fosse insignificante.

Mas no meio de tudo aquilo, pela primeira vez eu ousei pensar em Jack abertamente de novo. De uma forma que eu quase podia vê-lo. O que ele diria... O que ele diria sobre o que eu fizera com minha vida... Ele diria que minhas causas para a segurança de meu pai eram nobres, mas que não daquela forma. Não destruindo minha vida. Que o tempo era curto demais para eu deixar que todas as coisas boas que me acontecessem fossem tomadas para sustentar um passado que já não me fazia parte. Uma culpa que não era minha.

Pensei em Katryn. Em todo o amor que ela me oferecia. No quanto o que tínhamos poderia ser destruído, assim como continuamente era, por coisas que já não me cabiam mais.

Respirei fundo de novo.

Ainda tinha muito para fazer naquele dia, muito para resolver. Muito para explicar para Katryn Sharpe. Muito para descobrir sobre mim mesmo.

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