Chapter Thirty One

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Tudo que você diz
Soa como uma conversa doce
Em meus ouvidos

Sweet Talk, Saint Motel.





HAYDEN KODAN

DOIS ANOS ATRÁS

— Nunca traí você. — Falei, pagando o cigarro. A moça do caixa disfarçava enquanto prestava atenção à nossa conversa.

— Não, isso não. — Ele ajeitou a gola do casaco. — Mas ainda é um filho da...

— Respeite a moça. — Falei suavemente para ele e peguei meu troco, indo embora sentindo os olhos da mulher em nós. Já estávamos na rua quando o vento frio de outono nos açoitou. — Você deveria estar no Arizona.

— Não me diga onde eu deveria estar, sei cuidar dos meus assuntos. E também sei que você tem mais dinheiro, e eu quero.

— Eu te pago tudo em datas certas e do jeito que fora combinado. — Tirei um cigarro do maço e acendi. Estava desesperado por aquilo.

— Combinado há três anos atrás. Você acha que não sei que seu amigo Jack lhe deixou todo seu dinheiro? — Em um segundo minha mão puxava seu colarinho e eu só não o enforcara ali mesmo porque havia uma plateia desagradável.

— Nunca ouse tocar no nome dele novamente. — Eu o soltei, exalando a fumaça e ele pigarreou, ajeitando o colarinho. Clay me encarou por um segundo demorado.

— Você ainda tem este ano para arrumar mais dinheiro para mim, uma boa quantia. Venda seu carro ou sua casa, não me importa, mas se você não me pagar vou deixar seu querido pai em mãos bem piores que as minhas.

Ele saiu e eu não o impedi, respirando fundo. Eu odiava ter negócios com Clay, mas depois de tudo eu não poderia mais ficar no Arizona. Não conseguia mais olhar para a cara de Philip e lembrar que foi por culpa dos problemas que ele arranjou que Jack agora não estava aqui comigo na Califórnia.
Depois daquilo tudo eu fugi e vim para cá, não queria mais lidar com o que aconteceu no Arizona.
E preocupado demais que meu pai voltasse a arranjar problemas, eu contarei Clay, alguém difícil de mexer, mas que sabia que tinha uma palavra tão honrada quanto a minha. Ele era do Arizona, poderia ficar de olho e cuidar caso alguém aparecesse. Mas eu deveria saber que em algum momento isso também se tornaria um problema.
Já fazem três anos, mas eu ainda não me sentia seguro para o dispensar.

Grunhi comigo mesmo. Tantos problemas... Onde foi que minha vida tomou esse caminho?
Eu sabia que não precisava pensar muito para achar a resposta. Continuei fumando enquanto esperava o sinal abrir para mim. O fluxo de carros estava impossível naquele dia e alcançar o meu do outro lado da rua parecia um desafio. Minha cabeça fervia, mesmo que o fim da tarde estivesse fresco. Estava desesperado por estar em casa.

Finalmente o sinal fechara para os carros e me apressei em atravessar. Ainda estava fumando quando alcancei minha porta, mas não abri. Uma mulher acabara de virar a esquina daquela rua e vinha por aquela calçada. Uma mulher chamada Katryn Sharpe.

Eu tinha a impressão de que jamais esqueceria aquele nome.

Olhei para o carro de novo e abandonei a maçaneta, indo calmamente para a calçada, tirando o cigarro da boca. Ela não me vira, não, estava distraída falando ao celular, rindo de algo enquanto os longos cabelos ruivos desciam pelas costas.

Observei por um segundo.
Eu queria a fazer rir também.

Apaguei o cigarro e joguei no chão indo para a calçada. Ela só notara minha presença quando eu estava andando ao seu lado. Ela desligou o celular e me encarou como se eu não passasse de alguém irritante. Talvez eu fosse, mas não me importava.

— Já saímos uma vez, disse que me deixaria em paz. — Ela reclamou, voltando olhar para rua enquanto andávamos.

— Só estou caminhando.

— E onde está indo? — Ela semicerrou os olhos. Desviei de uma pessoa que passava entre nós e voltei para perto dela, dando de ombros.

— Apenas caminhando.

— Tenho a impressão de que você prefere dirigir do que caminhar. — Ela virou outra esquina e eu a acompanhei, tirando o maço de cigarros do bolso. Não queria admitir que me sentia nervoso perto dela, mas pela quantidade de cigarros que eu fumava quando Katryn estava por perto...

— Deixei meu carro em casa. — Menti, colocando um cigarro na boca e sacando o isqueiro. Ela me observou e eu sorri, fazendo ela corar e desviar o olhar. Sorri de novo comigo mesmo.

— Bom, mas estou indo para casa agora, então...

— Eu te levo. — Soltei simplesmente. Aceite, aceite, aceite, eu quis implorar.

Ela riu de leve.
— Posso andar sozinha.

— Sua casa é longe. — Eu apontei, tragando o cigarro de novo. Ela me encarou.

— A não ser que seus pés se tornem rodas, isso não faz diferença de você ir ou não. — Eu sorri de novo.

— Então se meus pés fossem rodas, está dizendo que aceitaria que eu te carregasse em meu colo? — Ela tentou, mas o sorriso veio em seus lábios e, de repente, minha cabeça já não fervia e doía.

— Você pode seguir seu caminho agora, vou sozinha daqui. — Ela parou em uma esquina, me encarando para que eu fosse embora. Exalei a fumaça.

— Eu te levo. — Ela abriu a boca para protestar. — De carro. — Sua boca se fechou lentamente e ela me encarou.

— Achei que ele estivesse na sua casa. — Eu traguei o cigarro de novo e sorri, então comecei a subir de novo a rua, esperando que ela me seguisse. É claro que ela não me seguiu.

Ela simplesmente se virou e começou a descer a rua e dessa vez não fui atrás. Não fui atrás porque preferi ficar observando seus passos à luz de fim de tarde, apoiado em um poste de luz. Terminando meu cigarro e observando até que ela se tornasse um pontinho longe e eu tivesse de semicerrar os olhos para o sol.

Não fui atrás porque uma poesia começava se formar em minha cabeça.

Parliament'sWhere stories live. Discover now