Chapter Twenty Five

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Mas desde a primeira vez que olhei em seus olhos
Eu soube que você e eu temos apenas um coração
Somente nossos corpos estavam separados
E foi assim fácil, assim fácil
Eu experimentei o gosto do mundo real

Miracles, Jefferson Starship.



As segundas-feira nunca pareceram muito atraentes para ninguém. Significava que abandonaríamos toda a mordomia de um fim de semana para voltar a vida normal, a vida real. Aquela em que estamos sempre ocupados, atrasados, estressados e ansiados pelo próximo sábado, para assim termos um vislumbre da paz novamente.

Lembro-me de uma vez, no outono do ano passado, em que Hayden e eu falamos sobre isso. Era segunda e tínhamos acordado muito cedo, mais especificamente antes do amanhecer. Aproveitamos a nossa disposição e pegamos o carro que ele ainda tinha e saímos. Ele ainda morava na sua antiga casa. Fomos para um ponto alto da cidade, onde tinha uma vista linda para as luzes ainda acesas e para o horizonte, onde os primeiros raios de sol iriam surgir.

Bom, eu não teria o ânimo de fazer aquilo (sair de casa no vento frio do outono em plena madrugada) nem que fosse em um sábado, mas apenas por eu estar com Hayden, parecia que toda minha disposição estava ali, apenas esperando que ele sugerisse algo maluco, como sempre fazia, pronta para encher minhas veias daquela vitalidade e eu aceitar sem pestanejar. Eu gostava disso, de como eu me sentia pronta para atravessar o país andando quando Hayden estava comigo. Ele tinha essa coisa que sempre parecia iluminar tudo, e eu adorava.

Eu costumava ter essa disposição antes também, mas raramente fazia.

Então nos sentamos naquele ponto da cidade. Estávamos sentados em papelões que achamos jogados lá por perto, e comíamos salgadinhos e bebíamos café que tínhamos comprado em uma padaria 24horas. O vento estava gelado, mas não chegava a ser desagradável com os sweaters de lã e as jaquetas nos cobrindo.

— Já está bem claro, em breve as luzes da cidade vão apagar. — Hayden disse e tomou um gole de café. — Não exatamente. As luzes de uma cidade nunca se apagam, não é? As luzes dos prédios vão se acender já que muito moradores precisarão levantar e se arrumar para o trabalho, as lojas vão abrir... Tudo volta ao mesmo lugar. Mas isso não muda no sábado ou domingo. As lojas ainda se abrem, as pessoas acordam... Por que odiar tanto a segunda se é mais um dia, assim como o fim de semana?

Ele encarava o horizonte e eu também. Sorri. Eu adorava esses momentos de reflexão que Hayden colocava na nossa frente sempre que surgia a oportunidade. Eu sempre gostei de coisas que me faziam pensar e refletir e Hayden me dava milhares.

— Acho que a mordomia do fim de semana seduz todos o suficiente para não quererem voltar ao cansaço da semana. — Falei, pegando um salgadinho no saco de papel.

— Se não trabalhássemos durante a semana, não teríamos um lugar para ter a mordomia do fim de semana. — Falou sabiamente.

E era assim em muitos dias. Nos sentávamos e conversávamos assuntos aleatórios, mas que sempre pareciam trazer algum tipo de reflexão ou ensinamento. Apesar de todos os nossos passos para trás, quando nos sentávamos sozinhos e conversávamos, parecia que nossas ideias batiam, expressávamos nossas opiniões e as misturávamos de forma que, no final da conversa, sempre parecia sair algo bom e filosófico.

Eu procurei alguém assim por muito tempo, sem me dar conta disso. Eu tinha Dayse, é claro, ela era como uma irmã pra mim e éramos completamente inseparáveis. Mas era isso, eu não tinha mais ninguém. Não podia contar com meus pais, não tinha irmãos, nada. Eu já acusara Hayden de arrancar pessoas da minha vida e depois refleti o bastante para ver que elas nunca sequer estiveram ali. Ter alguém como Hayden, me dava uma sensação de proteção contra qualquer coisa no mundo.

Parliament'sWhere stories live. Discover now