Capítulo III

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- Eu já disse que está tudo bem, Marcus. - Falei, saindo do elevador. Marcus estava fora há três semanas agora, e todos os dias ele me ligava para saber das novidades e eu, como uma mera mortal de coração mole, acabei contando o que havia acontecido entre o Jones e eu nos mínimos detalhes. Marcus tinha ficado eufórico e ao mesmo tempo com inveja, pois ele sempre desejava que Ian aceitasse sua proposta de fazer um ménage à trois com ele e Sam.
- Você o tem visto?
- Não. - Falei, parando em frente a minha porta. - E também não tenho escutado barulho de vadias e festa.
- Um sinal que você mexeu com ele.
- Como se ele soubesse o que é sentimento. - Falei colocando a chave na porta, girando-a - Ele pensa que eu sou só mais uma na lista dele.
- Ou você foi a última que será a única.
- Eu amo o jeito de você pensar. Sempre otimista. Eu lhe invejo por isso.
- Eu também me amo. - Ele falou, rindo e me fazendo rir. - Eu tenho que ir, gatinha. Sam está gritando por mim.
- Tudo bem. E aproveite suas férias, não se preocupe comigo.
- Mas é claro que não, meu vizinho gostosão está aí para cuidar de você.
- Tchau, seu idiota. - Falei abrindo a porta de casa.
- Tchau, minha pegadora de vizinho gostosão. - Ele desligou o telefone na minha cara sem me dar o direito de resposta.
- Eu vou te matar, Jones! - Escutei um grito ecoar pela escada de emergência. - Não vai sobrar nem um pedacinho para contar a história. - Olhei para o lado, vendo a porta do elevador se abrir e um Ian ofegante sair de lá correndo em minha direção. - Espero que esteja pronto, porque eu não terei perdão. - E antes que eu pudesse falar alguma coisa,Ian me pegou pela cintura, me empurrando pela porta aberta para dentro de casa e rolou comigo para o lado, me prensando contra a parede, fechando a porta ao seu lado e passando a chave.
- Mas o que... - ele colocou o dedo em meus lábios recuperando o fôlego.
- O marido da senhora Dargos está atrás de mim. - Ele falou.
- Bem feito, quem manda se meter com a mulher dos outros. - Interrompi-o.
- O quê? Você acha que eu fiquei com uma mulher casada?
- Não sei, mulher faz seu tipo, principalmente se ela der em cima de você.
- Ela que me agarrou. Ela vem dando em cima de mim faz algum tempo, e como naquele dia o sol estava muito quente, eu decidi tomar um banho de piscina e foi aí que ela apareceu. Ela me beijou a força e quando ela estava pronta pra dar o bote outra vez você apareceu.
- Abre essa porta, Ian. Venha resolver isso como homens. - Peter Dargos batia freneticamente na porta do apartamento da frente.
- Se você me tirar dessa, eu prometo que lhe recompenso.
- O que te faz pensar que eu te ajudaria?
- Eu sou muito bom quando se trata de agradecimento. Você sabe disso. - Ele falou sorrindo malicioso fazendo um arrepio passar por meu corpo. Empurrei-o para a parede, ficando de frente para ele.
- Fica aqui. - Falei apontando o dedo em sua cara. - Eu resolvo isso. - Abri a porta do apartamento, fechando-a atrás de mim assim que saí. - Senhor Dargos, o que aconteceu?
- Ian Jones aconteceu. - Ele falou virando-se para mim. Senhor Dargos era um homem alto que havia entregado sua vida à bebida. Muitas vezes podíamos vê-lo bebendo no pub da esquina. E, mais do que qualquer coisa, sua barriga de cerveja não engana ninguém.
- O que ele fez agora?
- Ele tomou banho de piscina com minha mulher.
- O quê? - Falei incrédula. As aulas de teatro no colegial serviram para alguma coisa. - Quando foi isso?
- Segunda-feira.
- Ah, senhor, isso é impossível.
- Mas é claro que não. Eu vi o biquíni da minha mulher na roupa suja. Ela sempre guardava aquele biquíni para o dia que fosse tomar banho na famosa piscina da cobertura onde o senhor Jones mora.
- Oh, senhor Dargos, o senhor está se esquecendo de alguma coisa.
- Estou? Do quê? A senhorita viu alguma coisa?
- Oh, mas é claro que não. - Falei olhando para ele - O senhor esqueceu que eu também moro nessa cobertura? Eu e Marcus moramos.
- E daí?
- E daí que, como todo condomínio, nós temos regras.
- É mesmo? - Ele cruzou os braços. Ele estava desconfiando que eu estava mentindo. - E quais são essas regras?
- Bem, uma delas é o dia da piscina.
- O dia da piscina?
- É. Nós dividimos os dias da semana que cada um fica com a piscina. Eu fiquei com segundas, quartas e sextas e o Ian com terças, quintas e sábados.
- E no domingo?
- Nós nos alternamos. - Respirei fundo. - Está vendo, senhor Dargos, tudo não passou de um mal entendido.
- Hum, sei. Mas eu ainda quero falar com o Jones.
- Isso seria impossível, senhor. - Alfred, o porteiro, interrompeu nossa conversa. Ele sabia de tudo que acontecia nesse prédio, principalmente com seu morador mais famoso. Ele sabia que eu estava mentindo para proteger o Jones, mas em seu olhar eu podia ver que ele não entendia o porquê de eu estar fazendo isso. E, bem, eu também não entendia. - O senhor Jones viajou.
- Viajou? - Eu e o senhor Dargos perguntamos ao mesmo tempo.
- Ah, agora eu me lembrei. - falei batendo com a mão na minha cabeça. - É verdade. Ian viajou com os amigos para Las Vegas para passar alguns dias lá.
- Ah, então, eu resolvo quando ele voltar. - Ele começou a andar em direção ao elevador. - Vejo você na portaria, Alfred.
- Até mais, senhor Dargos. - O mais velho entrou no elevador fazendo com que Alfred e eu respirássemos aliviados.
- Onde ele está? - Alfred perguntou.
- Estou aqui, Alfred. - Ian saiu de meu apartamento com um sorriso no rosto. - Obrigado por salvar minha pele.
- Eu é que agradeço, Ian. Desde que o senhor chegou aqui a diversão rola solta por esse prédio.
- E a depravação também, não se esqueça. - Ironizei, olhando para Ian - Pronto então. Você agora pode ir para o seu apartamento fazer o que faz de melhor.
- E o que seria isso?
- Ser um riquinho mimado que não faz absolutamente nada da vida e promove festas e orgias.
- Pelo jeito você vem me observando há algum tempo.
- Ou eu venho escutando a música alta de seu apartamento junto com os gritos das suas vad...
- Ele não pode. - Alfred me interrompeu. - Você não vê que o senhor Dargos vai voltar aqui a qualquer momento? Ele sabe que estamos mentindo.
- Isso já não é problema meu. - Falei andando em direção ao meu apartamento. - Boa sorte para vocês que ficaram tentando dar a voltar no senhor Dargos, pelo que me lembro bem ele tem uma espingarda em casa.
- Você deveria ficar com a senhorita Bittencourt. - Alfred disse.
- O quê? - Falamos os dois ao mesmo tempo.
- Isso é absolutamente impossível. Eu não moro sozinha.
- Mas o senhor Marcus não está aqui e eu garanto que ele não iria se importar em ter Ian em sua casa.
- Por que ele não pode ficar na sua casa?
- Porque o senhor Dargos faz muitas visitas ao meu apartamento atrás de ferramentas para consertar aquela velha moto dele que nunca vai funcionar. - Ele explicou - Senhorita Bittencourt, são apenas alguns dias. E se o senhor Dargos souber que eu menti, ele vai contar para o comitê do prédio e eu provavelmente perderei meu emprego. - Ele falou cabisbaixo.
- Está bem. O Jones pode ficar na minha casa.
- Obrigado, senhorita Bittencourt.
- De nada, Alfred. Eu não quero que você perca o seu emprego só porque o Jones aqui não consegue se controlar ao ver uma saia.
- Eu já disse que ela que me atacou.
- E como você é a pessoa mais sincera do mundo, eu devo acreditar.
- Eu vou voltar para a portaria. - Alfred falou, entrando no elevador.
- Tchau, Alfred. - Acenei antes de entrar em casa, sendo seguida por Ian. - Você pode dormir no sofá, ele foi feito para isso. Eu vou trazer alguns lençóis e um travesseiro pra você. - Falei começando a andar em direção ao corredor. Ian segurou em meu braço me virando para ele, fazendo nossos corpos se colarem. Sua mão livre passou por minha cintura me puxando mais para perto enquanto sua boca se direcionou até meu pescoço. - Jones. - Sussurrei sentindo sua língua passar em meu pescoço.
- Ah, Alana, deixa eu te recompensar. - Ele sussurrou em meu ouvido antes de voltar a beijar meu pescoço.
Fechei os olhos, segurando em seus cabelos e sentindo sua boca passear por meu pescoço e um calor tomar contar de meu corpo. Algo dentro de mim me deixava fraca e com pernas bambas quando o assunto era Ian Jones, ele tinha algo que me deixava com uma súbita vontade de arrancar todas as suas roupas e fazer sexo até que nossos corpos não aguentassem mais ficarem em pé. Ele despertava os desejos mais obscuros, que nem eu mesma sabia que existiam; ele fazia com que minhas pernas ficassem bambas - coisa que o James não fazia nem depois de uma noite de sexo - com apenas um olhar.
Ele fazia eu me perguntar por que em todos esses anos eu não havia sentindo uma sensação tão boa. E por que diabos eu não sentia essas sensações com James?
Talvez eu não goste tanto assim de James, pensei abrindo os olhos e empurrando Ian.
- Jones, para! - Falei, levantando a cabeça e olhando para ele. - Você não pode fazer isso.
- Posso sim, já fiz pior com você. - Ele deu um sorriso de lado e começou a andar em minha direção. - E eu sei que você gostou.
- Jones, não. - Falei, colocando as mãos na frente do seu corpo, o impedindo de continuar. - Ian, você não pode sair por aí fazendo coisas com as mulheres sem o consentimento delas. É errado.
- Mas você estava gostando.
- Mas essa não é a questão - falei um pouco mais alto - Você não pode sair fazendo coisas contra a vontade dos outros, principalmente coisas como aquela.
- O que há de mal em agradecer as pessoas? Eu já fiz isso antes.
- Em agradecer não há nada de mal, é para isso que "obrigado" serve. Pessoas normais fazem isso, elas falam "obrigado", dão um sorriso e vão embora, ou conversam por mais ou menos três encontros para depois fazerem aquilo.
- Isso tem cara de ser entediante.
- Não é todo mundo que tem dinheiro pra ficar gastando com bebidas, vadias e carros caros. - Falei, abaixando a cabeça, mas eu tinha certeza que ele tinha me escutado. - Boa noite, Jones. - Falei, girando meus calcanhares em direção ao corredor. Eu me esqueci de algo, pensei, voltando até Ian, que estava que estava com um sorriso no rosto. Levei minha mão com força ao seu rosto, acertando sua bochecha. - Agora sim, boa noite. - Falei, voltando até o corredor, podendo escutar ele gritar: Boa noite, Alana!

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